É uma tristeza. País que não respeita a classe “grisalha” não é país nem protectorado, é simplesmente uma quinta. Quinta onde um ou dois administra uma série de animais como nos conta George Orwell em o triunfo dos porcos. Os “grisalhos” (animais) que tudo deram à Quinta para a tornar no que ela foi até há três anos atrás, estão hoje, a ser um empecilho para essa mesma Quinta, que tem à sua frente o senhor Jones. Custa-me chegar a esta conclusão.
Mas esta Quinta, para que tanto contribuímos, sempre fomos tratados como filhos pródigos, quer na meninice ou juventude. Mesmo assim tornamo-nos homens com agá grande. Contra todas as agruras, sejam elas, no trabalho, na educação, na formação humana e cívica. Tudo fez para dar a volta por cima. Muito sofremos. Ao ver as condições que propiciamos a uma série de ingratos só nos resta dizer: ingrata Pátria que tais filhos deste.
Se soubéssemos isso mais valia vivermos em barracas a que chamávamos casas. A aldeias a que hoje chamamos vilas, às vilas que hoje chamamos cidades, mais valia deixá-las na mesma para essa gente saber o que era viver, ou antes, sobreviver.
Mesmo assim dizemos que valeu a pena. Só que os nossos sacrifícios contribuíram para criar uma série de Camilos Lourenço, Medinas Carreiras, Marcelos, Marques Mendes e tantos outros que se põem sempre do lado dos donos da quinta. Donos que foram criados na abundância. Na hora dos sacrifícios só vêem uma classe para sacrificar: a “grisalha”.
Mas como no “Triunfo dos Porcos” há-de haver um velho Major. Só que tenho medo dos Camilos. Ainda ontem num artigo no Diário Económico e no programa Prós e Contra lá estava a decorar os "Mandamentos", que Snowball reduziu-os a uma máxima: "Quatro pernas, bom; duas pernas, mau". Quem defende o Tribunal Constitucional: duas pernas, mau. Quem o critica: quatro pernas, bom.
Mas os Camilos deste País estão a anos-luz de Mário Soares, Jorge Sampaio, D. Januário e outros mais. Como noutros tempos e com os seus protestos hão-de conseguir que os animais da quinta Manor se unem e revoltem. Só que tenho medo que os “grisalhos” não aguentem.
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