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Thursday, October 31, 2013

A Verdade e a Parábola.
"A Verdade visitava os homens; sem roupas e sem adornos, tão nua quanto o seu nome. E todos os que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.
Assim a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.


Numa tarde, muito desolada e triste, encontrou a Parábola que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.
- Verdade, porque estás tão abatida? - perguntou a Parábola.
- Porque devo ser muito feia já que os homens me evitam tanto!
- Que disparate - riu a Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.
Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de repente, por toda a parte onde passava era bem vinda.
Então a Parábola falou:
- A verdade é que os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada!"
Autor Desconhecido

Guião para matar ideia:

Paulo Portas quer ser o Giorgio Armani da reforma do Estado. Todos os anos o estilista apresenta os novos modelos e acaba com uma frase cintilante, um laço que embrulha o conjuntinho: "Proponho para esta estação una donna moderna però rinovata." Portas também deseja um Estado moderno (alguém deseja um Estado antigo?!) e renovado (alguém quer um Estado parado?!), mas não vai além disso. Não vai, aliás, a lado algum.
As "110 páginas úteis" do guião, como lhe chamou ontem, são de uma pobreza inacreditável. Não é sequer um catálogo de pronto-a-vestir político. É uma loja dos 300 onde, no meio de ideias copiadas, avulsas e superficiais, encontramos um ou outro ponto que é possível debater, mas apenas por causa do nosso desespero coletivo. O que resulta dali é tão-só uma salganhada ignorante, uma coleção de chavões e banalidades que não são mais do que a redação pueril de um candidato a uma juventude partidária que passou os olhos na biografia de Hayek , a da Wikipédia.
O célebre guião, este guião, esta coisita, não é um ponto de partida. A ser qualquer coisa é um ponto de chegada. É o fim da linha. É o epílogo que arrasa as últimas aparências que ainda restavam sobre este grupo de estagiários que o País tragicamente elegeu. É a prova documental de que o Governo não sabe o que está fazer - cumpre metas impostas externamente - e nem imagina para onde irá a partir daqui.
O texto que demorou dois anos a produzir é tão rudimentar que na verdade é apenas embaraçoso. Ontem senti vergonha alheia por Paulo Portas - o presidente do CDS acabou. Não compreendo, a não ser por vingança, raiva e desprezo profundos, como Passos Coelho foi capaz de o autorizar a apresentar esta manta de retalhos, este patchwork - Portas deve apreciar a palavra - que era suposto criar as bases para a mudança que o País terá um dia de enfrentar.
Não há quadros comparativos, não há estatísticas que permitam ver de onde viemos e para onde podemos ir, não há pensamento algum, referência alguma, não há estudo, não há trabalho. Nada. Ao pé disto o trabalho do FMI, o de janeiro, é um luxo científico. Talvez por isso, talvez porque aqui cabe mesmo tudo, Portas tenha conseguido enfiar esta frase grotesca: "(...) esta maioria tem uma matriz identificada com o chamado modelo social europeu." Tem, tem; e Portugal vai crescer 0,8% em 2014 e muito, muito mais em 2015...
ANDRÉ MACEDO
Hoje no DN

O talentoso Blatter e o tosco Cristiano:

Aquilo do Blatter com Cristiano Ronaldo? Não, não vou lá por indignação patriótica. Sim, suspeito que os países menos ricos como Portugal sejam desprezados pela multinacional FIFA. É a vida, sorte a nossa não sermos o Burundi, ainda mais desprezado. Não, o que retiro da cena de Joseph Blatter, falando entre universitários de Oxford, é outra coisa. Um homem barrigudo levanta-se e permite-se mimar um jovem que quando tira a camisola faz suspirar milhões de mulheres. Um careca permite-se criticar os gastos no cabeleireiro de um ídolo mundial. Um incompetente que marca um evento desportivo para o Qatar com temperaturas a 60 graus, esse (cuja única desculpa à tolice só pode ser o suborno), permite-se criticar um tipo que não sei se é o primeiro ou quarto dos melhores, mas que é, seguramente, um admirável profissional com ganas de perfeição (tudo o diz quando joga, sobretudo quando falha)... Então, porquê, o desaforo de Blatter? Aí já não são suspeitas que tenho, são certezas. Um dia, Marilyn, lindíssima e trágica, cantou no Madison Square Garden uma canção ao seu amor. À volta de John Kennedy, hoje esquecidas dondocas sorriam, julgavam saber de tudo e desdenhavam. A mesma coisa com Blatter. A história mundial da infâmia está cheia de poderosos sem qualidades, que não querem reconhecer a sorte de privarem com gente que sabe, faz bem e fascina. No fundo é bem prudente essa ingratidão: sem ela, como aguentariam a sua inferioridade?
FERREIRA FERNANDES
Hoje no DN

Wednesday, October 30, 2013

O Presidente e o Governo estão surdos:

Já ninguém confia no Governo." A frase é lugar-comum, mas adquire um peso maior quando dita por alguém como Luís Campos e Cunha, da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), e junta--se ao grande coro de indignações que percorre a sociedade portuguesa. Entretanto e por outro lado, Freitas do Amaral esclarece que o Executivo está a defrontar o Tribunal Constitucional no intuito de sair airosamente de uma situação degenerada. Também D. José Policarpo, patriarca emérito de Lisboa, manifesta o descontentamento que lhe provoca esta gente, lamentando que as alternativas não aparecem. Por último, numa notável entrevista a António José Teixeira, no programa A Propósito, da SIC-Notícias, Carlos do Carmo dizima a actividade do dr. Cavaco, como primeiro-ministro e como Presidente da República, acusando-o de causador de todos os males que nos afectam, por inépcia e falta de percepção histórica. Poucas vezes o nosso drama foi tão claramente enunciado como o fez o grande cantor, claramente emocionado.
A pátria está de pantanas, por uma governação aparentemente impune e alegremente estouvada. Os gritos de desespero que a fome e a desgraça despertam não são ouvidos em Belém. O crime terá, mais tarde ou mais cedo, de ser punido, e cada vez mais se acentuam as responsabilidades políticas e morais de um Governo que o não é, e de um Presidente que não há. Todos os dias da semana há protestos nas ruas, os governantes andam com um batalhão de "gorilas" a resguardar-lhes o corpo, os suicídios aumentam, milhares de famílias não têm pão para pôr na mesa, o País despovoa-se da sua juventude e temos a gelada sensação de que ninguém nos ajuda. Nas Jornadas Parlamentares do PSD-CDS, Paulo Portas, cuja imagem, distorcida e embaciada, está cada vez mais parecida com a do espelho em que se revê, abriu a sessão garantindo que já se vislumbra melhorias na economia. Mas que é isto? Vivemos nesta mentira, neste embuste, nesta pouca--vergonha que degrada a ética republicana e provoca amolgadelas maiores nos valores e nos padrões morais do nosso modo de relação social.
António José Seguro permanece ofuscado por qualquer problema que se desconhece. Nada diz, nada faz, em nada age. Cumplicia-se com o silêncio tenaz dos que se não querem comprometer. E as hostes agitam-se, cada vez mais, no PS, adquirindo proporções de que se registou uma pálida ideia na sessão de lançamento de um livro de José Sócrates. Esta agitação impeliu o antigo ministro Catroga ao beligerante comentário de que o ex-primeiro-ministro do PS deveria ser julgado. Bom. Neste caso e decorrências, o Catroga passaria ao lado? Ele, os que o antecederam e sucederam são santos impolutos e criaturas intocáveis?
O mal-estar que envolve o País tem muito a ver com este distúrbio, da natureza da consciência e de uma identidade própria que eles desagregam.
BAPTISTA BASTOS
Hoje no DN

O que estão a fazer a Portugal:

Francamente! Já é de mais. Não são só os Távora. Não! É uma catrefada deles. Ridicularizam-nos e poucos são os que vêm em nossa defesa. Sim em nossa defesa! Porque somos uma classe grisalha e cansada. Grisalha pelo peso dos anos de vida. Cansada pelo muito trabalho despendido a este País. Quantos hoje se sentam em lugares de destaque e não compreendem que foram estes grisalhos e cansados que contribuíram para o que são hoje: Médicos, Engenheiros, Professores, Deputados, Primeiro-ministro, Ministros, Presidente da República, etc, etc.
Que de sol a sol, quer fizesse sol, chuva ou nevasse, lá iam para o campo, para as fábricas e outros misteres da altura laborar para que nada faltasse à sua mesa e à economia portuguesa. Nunca exigiram mais de que o País lhes pudesse dar. Sabem que não eram tratados de igual modo. Mas… mesmo assim nunca viraram a cara ao trabalho. Este estava primeiro porque a subsistência era difícil. Só assim é que muitos chegaram a adultos. E de adultos a mulheres e homens. Mais tarde na tal classe grisalha. Mas para quê? Para que hoje qualquer gato-pingado ironize com ele.
E quem os defende a não ser as instituições criadas para o efeito. Quem é o garante da Constituição da República Portuguesa alia-se dessa mesma Constituição. Pessoa sem estaleca e coluna vertebral. Que só pensa em si e nos seus. Sejam seus familiares ou da mesma família política.
Nunca tivemos pessoa tão rasca à frente dos nossos desígnios. E como uma desgraça nunca vem só também tivemos a infelicidade de ter como Primeiro-ministro um impreparado, feito nas jotas e que nunca soube o que era trabalho. É o que os portugueses costumam chamar: parasitas. Uso este adjectivo, para não usar outro mais ofensivo, daqueles, que os portugueses usam para chamar a quem vive à custa das mulheres. Como digo ninguém defende os valores que este País cria. Estão ali a ver passar andorinhas.
Ainda ontem um energúmeno que tem o dever de promover e defender o futebol mundial, ao invés disso, vem ridicularizar um dos maiores símbolos português e talvez mundial de nome Cristiano Ronaldo. Tivesse ele as qualidades que têm demonstrado Cristiano Ronaldo. Ao contrário disso ia dizer que parecia um palhaço. Mas os palhaços que vi nos circos eram superiores.
Mas o que mais me entristece e enraivece é não ver nenhum órgão português quer seja do mundo de futebol - a não ser Fernando Gomes, Presidente da Federação Portuguesa de Futebol - ou da politica, quer seja Presidente da República, Primeiro-ministro, Presidente da Assembleia da República, Ministro dos Negócios Estrangeiros - se fosse a dizer mal de Angola já se tinha pronunciado - Grupos Parlamentares e Secretário de Estado dos Desportos. Ferem-nos no que mais estimamos - orgulho - e nada dizem. Parecem que ficam satisfeitos. Assim não são só eles que descartam em nós. E depois muitos de nós relembramos adágios populares: filho és pai serás assim como fizeres o receberás.
E mais não digo para não vomitar.

Tuesday, October 29, 2013

O Sport Clube Freamunde é isto:

Nunca desiste. Por maiores agruras que lhe apareça sabe como combatê-las. E os (grandes) clubes de futebol vêem-se nos momentos mais difíceis. É fácil lidar com os êxitos. Difícil é combater os inêxitos. O Sport Clube de Freamunde ao longo da sua longa história tem passado por vários e deles soube sempre dar a volta por cima. Aliás, parece ser a sina de Freamunde.
 Mas tal como os nossos avós, povo sofredor, que teve de se impor a certo caciquismo para fazer valer os seus valores também o Sport Clube Freamunde tem de fazer o mesmo. E não é por acaso que lutando contra tudo e todos lá vão levando a água ao seu moinho.
O ser pobre não é defeito. Defeito é ser-se pobre e julgar-se que não o é. Esteja onde estiver é sempre o Sport Clube Freamunde. Por isso dá prazer ver como dentro do campo mostram o quanto vale uma camisola azul e um calção branco.
Podem estar rotas ou rotos, esfarrapadas ou esfarrapados, mas são sempre a nossa cor. O que importa é nunca perder a cor. Porque a cor é como a dignidade. Não se compra, não se vende, adquire-se.     

Monday, October 28, 2013

Julgo, ou quase que tenho a certeza, que não é assim. Se assim fosse, dado o que Freamunde tem contribuído para a cultura concelhia e nacional, há muito, que era possuidor de uma casa de espectáculos digna das suas associações culturais e recreativas.
Desde a Associação Musical que brevemente sobre a sua carcaça conta com cento e noventa e um anos de idade; Sport Clube Freamunde que fez oitenta em Março; Grupo Teatral Freamundense também faz brevemente cinquenta; Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós com doze de existência e vários grupos de cultura entre eles: Grupo de Teatro, Castanholas, Repercussão, Laços de Nós, Poesia, Big Band e outros. Festas em honra de S. António, Santa Luzia, Senhora da Conceição e Mártir S. Sebastião. Várias colectividades como: Caça e Pesca, Columbofilia, Clube Ornitológico, Rancho Folclórico e Escola Infantil de Música.
São estas colectividades que estão ao dispor do concelho. E o que o concelho tem dado a estas colectividades. 
O ano passado atribuiu metade das instalações da antiga escola de Santa Cruz à Associação Musical de Freamunde e outra metade à Guarda Nacional Republicana. 
Das antigas Escolas Amarelas metade para o Grupo Teatral Freamundense e outra metade para a Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós. De qualquer maneira são dádivas. Mas o que mais necessitam estas colectividades é de uma sala de espectáculos.
Há muitos anos que está prometida uma sala que até já tem um terreno comprado para o efeito, só que, por sermos uma simples terra não merecemos esse esforço. 
Se isto se passasse numa terra que os Freamundenses sabem há muito que estava construída. Mas como não se passa é deixar correr a “água”. Só que, como a água, quando é de mais galga em qualquer direcção e faz estragos. Não esperamos isso. Até porque este novo elenco camarário tem uma semana de funções. Mas não olvide esta terra e colectividades. Porque pode ser que esta terra e colectividades se olvidem do concelho a que pertencem.

Sunday, October 27, 2013

É o fim da Europa:

O azar dos Távoras:

“Eu nunca pensei chegar à minha idade e ver isto”! Faço minhas as palavras do Carlos do Carmo. Ontem vi apenas um bocado da entrevista que Carlos do Carmo deu a António José Teixeira na SICN, no programa “A Propósito”. Como disse só ouvi a parte final mas ainda consegui ouvir a frase lapidar: “foi mau de mais para ser verdade. Ficou para trás a Educação, entrou-se no novo-riquismo, a loucura do consumismo, provocado, foi provocado porque a teoria era essa, o que não lhes diziam era que depois lhes iam fazer isto. Estou quase a chorar porque isto me chateia”
Entrevistas destas são raras aparecer nas nossas televisões ou na imprensa escrita. Interessa-lhes mais o futebol. Entrevista como a do Carlos do Carmo vende pouco. É melhor gastar o tempo todo falando de futebol. O ópio do povo. Assim esquece-se os problemas do País. 
Ao contrário esses mesmos desculpam a arbitrariedade com que conduzem a nossa política. Sim! Na política também existe um árbitro. Só que este pode arbitrar para que lado quiser que os críticos e apaixonados lhe desculpam tudo. Mesmo que o resultado seja arrasador. 
Depois só vemos um Carlos do Carmo dizer: “Eu nunca pensei chegar à minha idade e ver isto. Foi mau de mais para ser verdade”. 
Os azares dos árbitros devem ser perdoados. Os dos “Távoras” são imperdoáveis.

Saturday, October 26, 2013

Humor fim-de-semana:

Pinto da Costa com 74 anos foi fazer o seu check-up anual...
O médico perguntou-lhe como é que ele se estava a sentir, ao que o Pinto da Costa respondeu:
- Nunca me senti tão bem. A minha nova esposa tem 26 anos e está grávida..., esperando um filho meu. Estou muito feliz. Qual é a sua opinião a meu respeito, doutor?
O médico reflectiu por um momento e disse:  
- Deixe-me contar-lhe uma história: conheço um tipo que era um caçador fanático…, nunca perdeu uma única época de caça. Mas, um dia, por engano, enfiou o seu guarda-chuva na mochila em vez da arma. Quando estava na floresta, um urso repentinamente apareceu na sua frente. Ele sacou o guarda-chuva da mochila, apontou para o urso e..., BANG..., o urso caiu morto.
Responde o Pinto da Costa:
- HA! HA! HA! Isso é impossível..., algum caçador amigo deve ter dado um tiro no urso por ele.
- Exactamente senhor Pinto da Costa... exactamente!

Friday, October 25, 2013

Nacos de vida. Poesia de Rodela:

O vento é meu amigo

Bati à porta do vento
sem alento nem abrigo
ela abriu-se no momento
como o vento foi amigo.

Cansei-se ali de chorar
matei saudades, bebi,
senti a vida a findar
e reencontrei-a ali.

É p´ró vento como vê
a poesia que aqui lê
porque a partir deste dia

eu vou ficar-lhe a dever
tudo o que eu possa fazer
em prol da minha poesia.

Thursday, October 24, 2013

Ontem fui a Paços de Ferreira:

Há cerca de um mês que não ia ali. Digo ir, ao permanecer ali um bom bocado de tempo. A última vez foi no dia vinte e nove de Setembro do ano corrente. Nessa noite, pois as vezes que ali tenho ido e permanecido têm sido na parte da noite, de dia, uma passagem fugaz para me dirigir para outras localidades em que tenho de passar por ali.
Assim, tanto ontem, como no dia vinte e nove de Setembro, fui para me inteirar como se celebra uma vitória política. Mais a mais quando essa vitória é a primeira em trinta e sete anos. É muito tempo e sendo assim ocorrem a estes eventos demasiado povo. Foi o que aconteceu nestas duas noites em que resolvi ser testemunha.
No dia vinte e nove fiquei admirado com a manifestação popular em redor de Humberto Brito. Eram pessoas de todas as freguesias do concelho. Militantes ou apoiantes do Partido Socialista. A rotunda onde está sediado o Paços de Concelho era pequena para absorver tanta gente e viaturas. Só visto é que dava para crer. Eram cumprimentos mais cumprimentos, abraços mais abraços, que a chuva miudinha teimava em não desaparecer. Mas dizem que cumprimentos e abraços molhados são desejos dobrados. Assim foi.
Ontem a convite de um amigo lá fui assistir à tomada de posse da Assembleia Municipal e Câmara Municipal. Chegamos ali por volta das vinte horas e quarenta e cinco minutos já era um mar de gente à porta de entrada dos Paços do Concelho. 
Aguardamos um pouco e quando nos dirigimos para o salão, destinado a estas assembleias, as cadeiras destinadas ao público estavam todas ocupadas. Havia uma série delas destinadas aos autarcas e convidados. Assim, tivemos que nos amanhar atrás de outras pessoas que como eu e o meu amigo se dispuseram a ir ali assistir ao evento. Entre os mirones era dito que o salão nunca esteve assim a abarrotar de gente incluindo as galerias. E… era de supor. 
Os socialistas e adeptos de Humberto Brito ali estavam a marcar a sua presença. Era fácil reconhecê-los. O sorriso “rasgado” desmascarava-os. Os de sorrisos menos “rasgado” também eram reconhecidos. Por isso o meu amigo me disse várias vezes que ali havia falta de comprimidos para a azia. E… ela denotava-se bem.
Iniciou-se a sessão com as formalidades habituais. Teve a colaboração de dois jovens músicos que tocaram peças de Bach, digo de Bach, porque junto a mim estava um assistente que em troca de conversa disse-me que era Regente da Banda de Música da Foz do Douro. Gosto de ouvir música pelos seus acordes e sons mas não percebo nada, a não ser rapsódias. De qualquer maneira o evento prometia. 
E prometeu mais quando começaram a chamar os autarcas para assinar o livro de honra. À medida que eram chamados os Presidentes de Junta de Freguesia os aplausos iam em torno do presidente da sua terra. Uns mais aclamados que outros. Até que chegou a vez de ser chamada a única Presidente de Junta de Freguesia. 
Através da aparelhagem sonora ouve-se: Armanda Isabel Pinto Taipa Pereira Fernandez. Aqui a ovação foi estrondosa. A maioria do público pôs-se de pé a aplaudir. Se já tinha fraca visibilidade ainda com mais fraca fiquei. 
E… pensei. Não são só aplausos de pessoas de Freamunde. Não! Não estamos assim tantos como os aplausos. É por ser a primeira mulher do concelho a tornar-se Presidente de Junta de Freguesia. 
E… voltei a meditar. Como pode uma terra tão grande ter uma presidente de pequena estatura! E concluí. Pode sim. Quando a vontade é férrea, as ideias enormes e a humildade imensa. Foram estes três ingredientes a base da sua vitória. 
Como disse nunca tinha assistido a uma tomada de posse de órgãos para a Assembleia de Câmara Municipal e Presidente de Câmara. Na véspera tinha assistido, também pela primeira vez, à tomada de posse da Assembleia de Freguesia  e de Junta de Freguesia de Freamunde, mas nada comparado à de ontem. 
O suor que corria pela minha face e corpo não era só do calor que se fazia sentir no salão. Era também emocional. Por isso o enriçar dos pêlos dos meus braços.
Depois veio o discurso de Humberto Brito. De volta e meia a ser interrompido pelos aplausos e pelo levantarem-se da cadeira. 
Descrevia o seu programa e dizia que para ele em primeiro lugar estava o povo do concelho. Aqui não dizia de Paços de Ferreira. Dizia o seu todo: que é o concelho. Vi vários semblantes torcidos. Mas tem de ser assim. E tem de ser um Presidente do concelho e para o concelho. 
Que de Paços de Ferreira já o foram durante trinta e sete anos.                        

Wednesday, October 23, 2013

Freamunde “governado” por duas mulheres:

Foi ontem decidido. Já se sabia que por uma tinha de ser. Armanda Fernandez foi a mais votada no dia vinte e nove de Setembro nas eleições autárquicas em Freamunde. Ontem na tomada de posse - ia dizer na passagem de testemunho, mas isso não aconteceu uma vez que não havia em Freamunde desde as eleições de dois mil e nove Assembleia de Freguesia - quem dirigiu os trabalhos foi a nova Presidente da Junta de Freguesia, julgo coisa “sui generis”, numa tomada de posse. Mas assim foi. A outra, Susana Regadas, foi eleita por voto para presidir à Assembleia de Freguesia.

Coisa de louvar foi a posição do PSD ao abdicar de um vereador. Assim o PS passou a ter três vereadores, PSD um e a CDU outro. Dizia alguém ao meu lado: - A Armanda Fernandez ao aceitar esta situação está a meter uma pedra no sapato. E... continuou. Estão a passar toda a responsabilidade para o PS e não aceitam a decisão do eleitorado de Freamunde. Isso é mau porque não é forma de democracia. O eleitorado tem de ser respeitado.
- Respondi-lhe. - Estão a ser coerentes com a tomada de posição nas últimas eleições. Dão toda a liberdade de acção ao PS. Se um dia serão ou não responsabilizados por esta tomada de posição não se sabe! O povo é quem mais ordena. Mas, para isso, Armanda Fernandez tem de fazer um trabalho utilitário. Se assim não for o julgamento joga a favor da oposição. Com esta tomada de posição quem beneficia é Freamunde. Aqui o meu parceiro de lado torceu o nariz e disse:
- Já viste que vamos ser governados por mulheres? - E, isso tem algum mal! - Respondi-lhe. Não serão as mulheres o maior número de Freamundenses? Por acaso o maior número de pessoas aqui no Auditório Fernando Santos não são mulheres! Por isso acho um bem natural e pode ser que daqui para a frente outras terras e outros partidos do concelho tomem isto como exemplo. O que interessa é que ambas desempenhem um bom papel que a partir daí vamos ser invejados. E não é por acaso que somos uma terra de eventos.
- Falas bem - interrompeu-me novamente o meu parceiro de lado. Não vês que vamos ser ironizados pelos pacenses. Que vão dizer que perdemos a nossa virilidade.
- Qual virilidade qual carapuça - atirei-lhe. Talvez a nossa vaidade. Mas os tempos estão para isto. E se acaso te sentires ofendido respondes-lhes que a nossa Banda de Música é composta só por músicos do sexo masculino ao contrário da deles.
- Não é a mesma coisa - respondeu-me. 

Figuras de estilo e figura de urso:

Pode sobrar-nos mês depois do ordenado, mas não nos faltam figuras de estilo. O ministro Pires de Lima lançou um eufemismo. Vocês sabem, aquela conversa suave para atenuar uma verdade catastrófica, tipo "entregar a alma ao criador" em vez de esticar o pernil. Ele não podia falar de novo resgate para um público já farto de ser refém. Então, dourou a pílula e falou de "programa cautelar". Parece caldo de galinha, não faz mal a ninguém... Em todo o caso, um belo eufemismo. Ao mesmo tempo, um grupo fez uma manifestação em Lisboa dizendo-se de apoio à troika. À partida, manifestar contentamento por se albardar o País à vontade da burra (a troika, comprovadamente incapaz) parecia masoquismo, mas não, não era nenhum distúrbio psíquico, era outra figura de estilo. Desta vez, ironia. Coisa bem difícil de fazer e por isso geralmente só utilizada, fininha, por queirosianos de boquilha e chapéu alto. Ver a ironia trazida para rua e por gente irada foi das poucas coisas boas que a crise nos trouxe. Sendo contra, diziam-se por, havia cartazes ("Abaixo as reformas" e "Vamos trabalhar mais"), gritos ("Acabou a mama") e discursos louvando "os nosso credores fofinhos internacionais"... Provavelmente o eufemismo do ministro e a ironia da manifestação não levam a nada, mas, pelo menos, preocuparam--se com o estilo. Bem melhor do que a figura de urso de Paulo Portas que fez esta frase rasa e indigna: "Os mais pobres não se manifestam."
Ferreira Fernandes
Hoje no DN

O Governo é burro

Paulo Portas chegou, falou e disse: "Os pobres não se manifestam, nem vão à televisão." Por antinomia, deduz-se que quis afirmar: quem se manifesta são os ricos, assim como são eles que vão à televisão. Como sabemos que o presidente do CDS-PP não é tolo inclinamo-nos para a triste e dura hipótese de que ensandeceu. A verdade é que não tem andado bem: os direitos, os deveres e as características de quem governa têm sido espezinhados, com faustosa leviandade.
Ele, eles não sabem o que fazem. E a proibição de a CGTP organizar a manifestação na Ponte 25 de Abril, sob a alegação dos perigos a haver foi o absurdo dos absurdos. O processo intentado contra os valores que definem a democracia tem sido contornado com maior ou menor êxito. E o caso da Ponte 25 de Abril demonstrou que a imaginação possui uma força que o poder permanentemente ignora. A desorientação dos habituais panegiristas do Governo, que procuraram minimizar a importância do acontecimento não obstou a que ele tivesse a monta desejada. O Marcelo chegou a ser grotesco; Marques Mendes, coitado!, exteriorizou a habitual pungente mediocridade; Sarmento conseguiu fazer-nos entediar mais do que costuma, levando-nos, de novo, a perguntar o que faz ali a funesta criatura.
Luís Delgado salvou a honra do convento, criticando a decisão eruptiva do Executivo com a veemência de quem condena uma indesmentível burrice. Depois, surgiu o Portas, com o brilho fanado pelas "incongruências problemáticas" de um homem ferrado pelas irresoluções de carácter. Não compreende, ou faz por isso, que a pequenina ascensão do CDS resulta da queda do seu parceiro de coligação. No meio desta baderna, entre a asnada, a incompetência, a sobranceria desesperada dos que naufragam, o dr. Cavaco, no estrangeiro, assevera que não vai levantar pendências ao Tribunal Constitucional sobre as evidentes inconstitucionalidades do Orçamento.
Claro que todos estes incidentes são sintomas do mal-estar da sociedade portuguesa, e da degradação da democracia, em que o sentido da dignidade é amiúde mortificado pela "indiferença actuante" de um Presidente da República que o não sabe ser, fazendo pender o prato da balança para um só lado.
Sabe-se que a política, lato senso, foi substituída pela "gestão" e esta comandada pela finança e pelos interesses de grupo. É total o contraste entre a exigência de justiça e de equidade social e a evidência falsa e inútil do discurso dos dirigentes. Há poucas vozes protestatárias na imprensa e a grande rábula da "independência" e da "imparcialidade" ficou amplamente comprovada, como rábula e ardil, naquele abjecto programa na RTP, no qual o Passos Coelho "respondeu" ao País, sem responder a nada.
Como disse um teólogo, "vivemos mergulhados no mal da alma", e se a pátria tem passado por interregnos terríveis, sempre surgia uma luz, que nos conferia esperança. Agora, é isto.
BAPTISTA BASTOS
Hoje no DN

Tuesday, October 22, 2013

Uma lição. A ouvir:

Ontem assisti a uma verdadeira lição de Direito Constitucional. Pena que certa comunicação social não se refira a isso. Aconteceu no Prós & Contras transmitido pela televisão pública no canal 1. Aqui faço um reparo à administração da RTP pelo calendário de certos programas. Então não é que ontem à mesma hora estava ser transmitido pela RTPN o programa “Justiça Cega” que se sabe de antemão que é de bastante audiência! Por isso a minha estupefacção para o problema. Se fosse num canal da concorrência - como se diz - vá que não vá. Agora fazer concorrência à sua própria programação!
Mas como ia dizendo quem assistiu ao Prós & Contras deve ter dado por bem empregue o tempo despendido. Não me refiro à prestação de João Almeida e de Ricardo Arroja, economista, a torto e a direito intrometiam-se no discurso quer de Jorge Reis de Novais, professor constitucionalista ou de Ricardo Pais Mamede, economista. Sempre que estes intervinham lá vinha o João Almeida mais o Ricardo Arroja, atirar fumo para o debate.
Sei que a melhor arma para um debate é estar sempre a cortar a palavra ao adversário. Há quem seja perito nesta situação e João Almeida julgava que estava na Assembleia da República onde ali tudo vota faladura com intenção de tirar a atenção de quem os ouve. Quando uma convidada, professora de profissão, diz que se estivesse em casa a assistir ao programa há muito que tinha mudado de canal ou desligado o aparelho de televisão isto quer dizer algo.
Foi a primeira a dizer pessoalmente a Fátima Campos Ferreira o que lhe ia na alma porque no pensamento há muitos a pensá-lo e já houve Prós & Contras em que tomei essa decisão. Fátima Campos Ferreira não recebeu bem o toque e remediou com um remendo mal remendado.
É verdade que em qualquer debate, quem o ouve, toma partido por A ou B. O mesmo acontece comigo. Mas sei reconhecer o que tem valor e o que não tem. E quando ele tem o valor como a prestação de Jorge Reis Novais vale a pena ouvir e dar o valor à defesa da Constituição da República e do Tribunal Constitucional. Chegou ao ponto de “condenar” Ricardo Arroja quando disse que Portugal é um País protectorado e como tal não tem autonomia para revindicar qualquer coisa que os nossos emprestadores, leia-se Troika, nos exigem. Disse que se houver portugueses dignos isso não acontece.
Agora com este governo e presidente da república que baixa as calças a tudo é provável que um dia isso venha a acontecer. Mas melhor é ouvir e ver o vídeo.        

Monday, October 21, 2013

O melhor amigo do homem:


Do PEC 4 ao caminho para a servidão:

‘Espero bem que o país não se esqueça de ajustar contas com essa gente um dia. Esses economistas, esses catedráticos da mentira e da manipulação, servindo muitas vezes interesses que estão para lá de nós, continuam por aí, a vomitar asneiras e a propor crimes, como se a impunidade fizesse parte do estatuto académico que exibem como manto de sabedoria.
Essa gente, e a banca, foram os que convenceram Passos Coelho a recusar o PEC 4 e a abrir caminho ao resgate, propondo-lhe que apresentasse como seu programa nada mais do que o programa da troika - o que ele fez, aliviado por não ter de pensar mais no assunto. Vale a pena, aliás, lembrar, que o amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço incomportável a pagar. Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos estava a acontecer foi Sócrates - o culpado de vinte anos sucessivos de défice das contas públicas, o culpado da ordem vinda de Bruxelas em 2009 para gastar e gastar contra a recessão (que, curiosamente, só não foi cumprida pela Alemanha, que era quem dava a ordem), e também o culpado pela vinda da troika. Mas, tanto o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC 4, o país ficava sem tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate. Sabiam-no, mas o apelo do poder foi mais forte do que tudo, mesmo que, benevolamente, queiramos acreditar que não mediram as consequências.
E também o sabia o PCP e a CGTP, que, como manda a história, não resistiram à tentação do quanto pior, melhor. E sabiam- -no Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda, que, por razões que um psicanalista talvez explique melhor do que eu, se juntaram também à mais amoral das coligações direita/extrema-esquerda, com o fim imediato e mais do que previsível de obrigar o país ao resgate e colocar a direita e os liberais de aviário no poder, para fazer de nós o terreno de experimentação económica e desforra social a que temos assistido.’
Miguel Sousa Tavares [no Expresso]:

Sunday, October 20, 2013

Estamos a falar de pistoleiros:

Toda a entrevista aqui 

Saturday, October 19, 2013

A Ponte da união e desunião:




Em defesa do Constitucional

Desde os idos de 1640, quando tentávamos libertar-nos de Espanha, que a história portuguesa regista com recorrência uns aspirantes a Miguel de Vasconcelos. Esta semana tivemos notícia do mais recente candidato ao posto. Um tal Luiz Pessoa, manga-de-alpaca de Bruxelas que representa em Lisboa a Comissão Europeia, é subscritor de um relatório onde são tecidas considerações sobre a situação política nacional e desferidos ataques ao Tribunal Constitucional.
Perante um Orçamento do Estado que suscita, mais uma vez, fundadas dúvidas de constitucionalidade, o dito senhor avisa que "esta não é a altura certa para o Tribunal Constitucional se envolver em ativismos políticos", sob pena de "provocar um segundo pedido de resgate". Analisando em retrospetiva as decisões já tomadas pelos juízes, o mandatário de Bruxelas retira uma de duas conclusões possíveis: ou o Tribunal Constitucional está a fazer uma interpretação demasiado restritiva da Constituição, ou pode ser observado como real força de bloqueio, com influência direta na política orçamental do Governo que, na sentença deste amanuense, arrisca mesmo o "colapso" em caso de chumbo de algumas das medidas propostas no Orçamento para 2014.
Este é, por ventura, um dos mais traiçoeiros e despudorados ataques feitos ao Estado de direito, à soberania - mesmo que limitada no plano financeiro - e à democracia e suas instituições de que há memória em tempos recentes. Surge, aliás, na sequência de outra desavergonhada declaração do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que sem qualquer pejo ameaçou os juízes do Palácio Ratton com um "caldo entornado" caso estes não validem, por exemplo, o esbulho nos salários e pensões de sobrevivência ou a retroatividade na convergência das reformas, abdicando assim da sua função, que é de verificar a conformidade das leis com as normas constitucionais.
Como é óbvio, ninguém está acima da crítica nem da discordância. Mas uma coisa é contestar uma decisão. Outra bem diferente é chantagear e ameaçar um órgão de soberania fundamental à nossa democracia.
A falta de respeito pelo Tribunal Constitucional português tem sido prática corrente nos últimos dois anos, seja externa ou internamente. Em contraste, aliás, com a submissão e reverência obscenas destinadas ao seu congénere alemão. Não consta, por exemplo, qualquer pio de desagrado ou desconforto quando os juízes de Karlsruhe, em 2009, reviram a doutrina alemã sobre a Europa ao estabelecerem o primado do Bundestag, o parlamento de Berlim, sobre a aplicação dos tratados europeus. E nem sequer um esgar de protesto pelo espetro de chumbo pelo tribunal alemão à possibilidade de o Banco Central Europeu - que é suposto ser autónomo e independente - comprar obrigações soberanas dos países em dificuldades, travando assim a escalada dos juros e permitindo-lhes o regresso pleno ao mercado. Aliás, caso esta rejeição se verifique, bem se pode dizer adeus aos planeados programas cautelares que se seguem aos ajustamentos em curso, consagrando-se de forma institucional, numa deriva antidemocrática intolerável, o Tribunal Constitucional alemão como o verdadeiro tribunal de justiça das comunidades.
Perante a traição dos mais elementares valores democráticos, há duas atitudes possíveis: a capitulação, aqui sinónimo de cumplicidade, ou a indignação.
A inaceitável e chantagista intromissão da Comissão Europeia, humilhante e quase colonizadora, nos assuntos internos de Portugal deveria ter merecido repúdio por parte das mais altas esferas da Nação. Se não estivesse capturado e apavorado, o Presidente da República, que deveria ser o garante da dignidade das instituições democráticas, tinha a obrigação de chamar a Belém - ou mesmo ao Panamá, onde está - o "embaixador" da Comissão exigindo-lhe explicações, um pedido de desculpas ou até dar-lhe ordem de expulsão. É essa atitude de "sobressalto patriótico" que distingue os estadistas daqueles que, circunstancialmente, ocupam a chefia do Estado. É, naturalmente, o que separa o estadista Jorge Sampaio de Cavaco Silva, simplesmente o Presidente da República.
NUNO SARAIVA
Hoje no DN

Friday, October 18, 2013

Humor fim-de-semana:

Um grupo de anões resolve jogar futebol no domingo e alugam um campo.
Formadas as equipas, cada um pega no seu equipamento, quando reparam que o campo de futebol não tem balneário.
Resolvem então perguntar ao dono de uma tasca ao lado se podem utilizar a casa de banho para trocar de roupa.
O dono diz que não há problema nenhum, e lá vão eles.
Entram todos na tasca, vão até à casa de banho, vestem-se e começam a sair da casa de banho.
Um bêbado, que estava sentado ao balcão, vê passar por ele a equipa azul.
Estranha, mas continua a beber.
Quando, ao fim de pouco tempo, vê passar a equipa de vermelho, vira-se para o dono do bar e diz :
- Eu não me quero meter ... mas os teus matraquilhos estão a dar à sola !...

Sobre a falta de apetite:

Ontem escrevi um texto com o nome: “Falta de apetite”. Tentei não ser muito pessimista. Da maneira que a situação do País decorre cada vez vejo o amanhã mais distante. E leva-me a muitos e muitos anos atrás. Parece que me vejo a sair todos os dias de casa, com a malga com broa velha esfarelada, um pouco de açúcar loiro, a caminho da cantina escolar. Andava uns oitocentos metros de minha casa até à referida cantina. Fizesse chuva fizesse sol. Sim! Que nestas coisas de estômago não há que olhar para as condições climatéricas. Se chovesse ficava-se a ganhar em dois lados. Tomava-se banho e socorria-se o estômago.
Havia alguém que para não se molhar, ou seja, para não lavar a roupa, munia-se do saco de serapilheira para abrigar a roupa que tinha vestido. Eu e muitos como eu por vezes não fazíamos uso desse utensílio. Assim evitávamos que as nossas mães fossem para os tanques, emprestados por favor, lavar a nossa roupa. Que miséria!
Em Freamunde havia dois ou três tanques públicos. Se todas as Freamundenses fizessem uso desses tanques públicos as horas do dia não davam para todas fazerem a barrela à sua roupa
. Assim havia que pedir a um, ou outro vizinho, que possuísse tanque a gentileza de deixar ali lavar a roupa. Quantas vezes, essa autorização, vinha mediante a lavagem da roupa da dona do tanque. Nestas situações não se podia regatear. Havia que aceitar as condições. Porque se assim não fosse perdia-se a lavagem da roupa e a dádiva diária da água de consumo. Sim! Não se admirem. Não havia água canalizada e poços de água. Quem os tinha era um felizardo.
 Molhado ou seco depois de tomar o pequeno-almoço dirigia-me para casa ou para a brincadeira. Ao meio-dia a mesma ladainha. Só que aqui não ia munido da malga com broa esfarelada e açúcar loiro. Em vez disso levava a saca da escola. Sim! Nesse tempo a mala ou o saco, tipo desportivo, não entrava no nosso léxico. Entrava mais a necessidade e pobreza.
 Muitas vezes quando ali chegava bem me apetecia voltar para trás. Mas a fome era maior que o sabor do óleo de fígado de bacalhau. Bem me apetecia fechar a boca mas em vez disso fechava os olhos e dizia para mim: seja o que Deus quiser.
Depois com o passar dos anos a situação do País começou a melhorar. A emigração e a guerra ultramarina levaram muitos jovens e assim começou a haver mais procura de mão-de-obra. Os ordenados começaram a subir. As pessoas a ter melhores posses.
Até que veio o Vinte de Abril. Aqui as transformações foram enormes. Maiores ordenados: foi criado o ordenado mínimo. Melhores regalias sociais: subsídios de férias e de Natal. Melhores habitações: construíram-se nas grandes cidades bairros sociais e assim acabaram-se com as barracas nas entradas dessas mesmas cidades. Escola para todos: tentou-se acabar com o analfabetismo criando-se para isso escolas e cursos nocturnos. Acesso à universidade: até aqui só lá entrava quem tivesse dinheiro. Com as bolsas de estudo e com melhores ordenados por parte dos seus progenitores os mais pobres tiveram acesso. Com isto o País lucrou bastante.
 Hoje já se nota o efeito tecnológico que as nossas universidades conseguiram. São eventos atrás de eventos e prémios atrás de prémios. Tudo parecia correr às mil-maravilhas. Até que veio a crise criada por um número de banqueiros agiotas. Os tais que prometiam mundos e fundos e o que conseguiram foi a crise mundial.
Depois tivemos um partido que nos prometeu um Portugal melhor. Mas a única coisa que nos deu foi miséria atrás de miséria. De ano para ano a situação piora. Vejo as nossas crianças e os nossos velhos a passarem fome. Para cúmulo o governo tira a quem tem menos.
Por isso o meu pensar que não temos futuro. Dizem que para grandes males grandes remédios. Mas estou como diz a canção de José Afonso: A morte saiu à rua. E saiu. Uns por não aguentarem esta triste sina e põem termo à vida. Outros não têm meios de subsistência e vão definhando.                  

Nacos de vida. Poesia de Rodela:

A janela da verdade

Só diz que canto a cantiga
que o pobrezinho cantou,
quem não sentiu na barriga
a fome que ele passou.

Eu, dói-me a barriga alheia
p´la dor que senti na minha,
ao ver tanta mesa cheia
a rir de quem não a tinha.

Não vou calar o que vi
nem vou ficar por aqui
por muito que o pão me sobre.

E enquanto houver um mendigo,
vai poder contar comigo
quer seja eu rico ou pobre.

Thursday, October 17, 2013

Corta... Vicente:

Falta de apetite:

Há uns dias que não tenho publicado nenhum texto no meu blogue ou no facebook. Não é por falta de casos. Eles são muitos. É por falta de apetite. A maioria dos portugueses sentem-se tristes e quando há tristeza a força anímica de outras ocasiões desapareceu.
Liga-se a televisão lá vêm as tristes notícias e há quem vem desculpar o governo. Que não há alternativa. Que outros levaram o País para a bancarrota e agora o remédio é cortar-nos as poucas regalias que temos.
Mas não dizem que quando o outro governo levou o País para a bancarrota não estávamos tão mal como agora. 
Que nos prometeram melhor vida e que nada disso aconteceu. 
Que não mexiam nos subsídios e ordenados e é ver o que está acontecendo. 
Até mexem com os mortos. O País está mesmo deprimente.
Os poucos que se insurgem contra o governo nas televisões ou nos jornais são logo adjectivados por opinadores e colunistas. Sempre os defensores do governo. Os que podem mamar. É com a crise que se sobressaem. 
Não é Camilo Lourenço; não é Henrique Monteiro; não é Octávio Ribeiro. Este no seu jornal não há dia que não ponha uma notícia sobre Sócrates. Não é a tecer elogios. Pelo contrário.
De Passos Coelho nada. Está à espera que Poiares Maduro retribua com um canal de televisão. Isso era ouro sobre azul como se usa dizer. Era outra Moura Guedes. 
Por isso tudo cada vez tenho menos apetite para escrever textos ou artigos de opinião.       

Que nunca vos falte a voz:


O governo pressiona. Vamos ver o resultado:

Wednesday, October 16, 2013

Soares subiu a parada:

A Direita, a Direitinha e a Direitona congraçaram-se num alarido contra a entrevista que Mário Soares deu a João Marcelino e a Paulo Baldaia, editada no DN de domingo, pp., e transmitida pela TSF. É um documento importante, sobretudo pelo facto de Soares ter aumentado a parada das suas indignações. E as razões são poderosas. Perdoamos-lhe tudo o que a outros nunca esquecemos porque ele simboliza as nossas idiossincrasias, as nossas peculiares malícias, as nossas capacidades de improviso.
E que disse ele para suscitar tanto alvoroço? Nada mais do que a esmagadora maioria de nós pensa: que este "é um Governo de delinquentes"; que "não tem rei nem roque, nem sabe o que quer, nem sabe para aonde vai (...), só sabe que quer mais austeridade e que quer cada vez dar mais dinheiro à troika (...) Mas pode ser que suceda como na Argentina, quando o presidente do Governo disse que "nós não pagamos", e não se passou nada."
As iras de Soares correspondem, afinal, ao aumento das decisões do Executivo, que estabelecem a negação de qualquer projecto constitutivo (apenas direi: humanista) da nossa identidade. Quando reclama que "estes senhores têm de ser julgados depois de saírem do poder", exige o termo da impunidade, e que a sua sustentação tem sido causada pela cumplicidade da "alternância". Nada de significativamente grosseiro. Por menos, o primeiro-ministro islandês, Geir Haarde, foi parar à cadeia. A frase popular "eles fazem tudo e nada lhes acontece" assumiu foros de abjecção e explica a relutância dos portugueses para com o exercício da política.
Ao criticar o dr. Cavaco, acusando-o de inutilidade e de não saber o que fazer, Mário Soares repete o que tem dito ao longo dos anos, não nos devendo esquecer que as suas críticas sobre as responsabilidades do actual Presidente vêm desde que este foi primeiro-ministro. O dr. Cavaco não presta.
O alvoroço destas Direitas consiste na circunstância de haverem perdido o sentido das coisas. O Marcelo, classificado por Soares como ""entertainer" (...) porque diz coisas engraçadas acerca de toda a gente e de tudo", não encontrou outra resposta que não aquela, mal-educada, de aludir à idade do entrevistado do DN, como nota da sua "radicalização."
Antigo, velho, idoso não são categorias; são noções de tempo que apenas distinguem essa ordem. A criação de um novo conceito não diferencia a relação social, e que só acontece o contrário quando as sociedades entram em crise, estimulando o antagonismo entre jovens e velhos. Porém, convém não iludir as questões, colocadas pelos tempos actuais e pela teologia do sistema, quando a noção de "cabelos grisalhos" está a adquirir uma peculiar "luta de classes." A beligerância contra os mais velhos faz parte da ideologia que nos assoma. É, também, contra essa ideologia que a entrevista de Mário Soares se defronta. Quem não entendeu, que entenda.
BAPTISTA-BASTOS
No DN de Hoje

Tuesday, October 15, 2013

É uma tristeza. País que não respeita a classe “grisalha” não é país nem protectorado, é simplesmente uma quinta. Quinta onde um ou dois administra uma série de animais como nos conta George Orwell em o triunfo dos porcos. Os “grisalhos” (animais) que tudo deram à Quinta para a tornar no que ela foi até há três anos atrás, estão hoje, a ser um empecilho para essa mesma Quinta, que tem à sua frente o senhor Jones. Custa-me chegar a esta conclusão.
Mas esta Quinta, para que tanto contribuímos, sempre fomos tratados como filhos pródigos, quer na meninice ou juventude. Mesmo assim tornamo-nos homens com agá grande. Contra todas as agruras, sejam elas, no trabalho, na educação, na formação humana e cívica. Tudo fez para dar a volta por cima. Muito sofremos. Ao ver as condições que propiciamos a uma série de ingratos só nos resta dizer: ingrata Pátria que tais filhos deste.
Se soubéssemos isso mais valia vivermos em barracas a que chamávamos casas. A aldeias a que hoje chamamos vilas, às vilas que hoje chamamos cidades, mais valia deixá-las na mesma para essa gente saber o que era viver, ou antes, sobreviver.
Mesmo assim dizemos que valeu a pena. Só que os nossos sacrifícios contribuíram para criar uma série de Camilos Lourenço, Medinas Carreiras, Marcelos, Marques Mendes e tantos outros que se põem sempre do lado dos donos da quinta. Donos que foram criados na abundância. Na hora dos sacrifícios só vêem uma classe para sacrificar: a “grisalha”.
Mas como no “Triunfo dos Porcos” há-de haver um velho Major. Só que tenho medo dos Camilos. Ainda ontem num artigo no Diário Económico e no programa Prós e Contra lá estava a decorar os "Mandamentos", que Snowball reduziu-os a uma máxima: "Quatro pernas, bom; duas pernas, mau". Quem defende o Tribunal Constitucional: duas pernas, mau. Quem o critica: quatro pernas, bom.
Mas os Camilos deste País estão a anos-luz de Mário Soares, Jorge Sampaio, D. Januário e outros mais. Como noutros tempos e com os seus protestos hão-de conseguir que os animais da quinta Manor se unem e revoltem. Só que tenho medo que os “grisalhos” não aguentem.  
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