Senhor Pedro Passos Coelho:
Ouvi dizer que anda preocupado com as pensões dos velhos, porque lhe andam a estragar as contas do orçamento.
Venho dizer-lhe que estou disposto a contribuir para o aliviar desse fardo, desde que aceite negociar a dívida que tem comigo. Não levará a mal que traga algumas testemunhas para a mesa das negociações, mas já percebi que o senhor não respeita a palavra dada, pelo que é melhor ter testemunhas, na eventualidade de chegarmos a um acordo e o senhor depois roer a corda.
Permita-me que seja franco. Ao senhor eu não comprava nem um alfinete porque, além de não ser de boas contas, gosta de brincar e divertir-se com o dinheiro dos outros.
Ao que consta, não foi um defeito que adquiriu depois de chegar a S. Bento. Quando estava na Tecnoforma - empresa que curiosamente faliu logo que o senhor chegou ao governo - já utilizava os fundos europeus para fazer formação de pessoas, cuja existência foi concebida por si em parceria com o Relvas. De qualquer modo esse dinheiro não era meu por isso, quem se sentir lesado que se queixe...
A questão muda de figura quando o senhor começa a brincar com o meu dinheiro e o pretende utilizar para fins mais ou menos obscuros. Eu explico melhor, para o caso de não estar a perceber.
Durante 40 anos confiei ao Estado parte do meu vencimento (mesmo quando não vivia em Portugal) com a promessa de que me seria devolvido 36 anos depois em suaves prestações mensais. Um ano antes dessa data, o seu antecessor (José Sócrates) disse-me que não me poderia entregar o dinheiro logo e propôs uma renegociação da dívida. Fazia a entrega imediata do dinheiro, mas com uma penalização de 4% ao mês, ou então eu trabalhava mais uns anitos e recebia tudo por inteiro. Torci o nariz, mas aceitei trabalhar mais dois anos. Fiz mal!
O senhor correu com o Sócrates, prometendo que não cortava nem um cêntimo nas pensões, porque isso era roubo e, assim que se apanhou a lamber o pote, avisou-me que só pagaria a dívida ao fim de 40 anos.
Esse prazo expira em Fevereiro mas, entretanto, o senhor voltou com a palavra atrás e disse-me que também não pagava ao fim de 40 anos de trabalho, mas só quando eu fizer 66 anos - ou seja, daqui a mais três anos. Pior ainda... avisou-me que nessa data me iria cortar 10% do dinheiro que eu confiei ao Estado de boa fé. Fiz as contas e percebi que, mais uma vez, o senhor me estava a tentar enganar com o conto do vigário, porque esse corte, afinal, é superior a 15%.
Confesso que nesse dia me fartei de insultar a sua mãezinha, coitada, que não tem culpa nenhuma de ter parido um traste. Como fica demonstrado já a seguir...
Não satisfeito com a vigarice, mandou alguns dos seus capangas avisar os jovens do meu país que, sendo eu velho, estava a roubar o que lhes pertencia. Passei-me! Tive mesmo vontade de lhe ir aos fagotes, mas o senhor anda sempre rodeado de seguranças, capangas e jagunços e cortei-me, confesso. Quem pagou as favas? Outra vez a sua mãezinha!
Entretanto, há dias, recebi a notícia de que o senhor vai utilizar o dinheiro que eu confiei ao Estado para pagar o resgate de uma dívida cujos principais responsáveis são banqueiros e empresários, entre os quais se encontram os seus amigos Oliveira e Costa, Dias Loureiro e outros vigaristas maltrapilhos que Vocelência cumula de gentilezas.
Voltei a passar-me e decidi fazer-lhe uma proposta. De boa fé. Não quero que me pague nenhuma pensão. O senhor devolve-me de uma assentada o dinheiro todo que lhe entreguei durante 40 anos (valores corrigidos de acordo com a inflacção), eu vou à minha vida e o senhor fica por cá a brincar com o guito dos portugueses que vão na sua conversa. Isto é uma proposta de uma pessoa de bem, não lhe parece?
Permito-me desde já avisá-lo que sou um bocado amalucado e, perdido por 10, perdido por 100. Um dia, numa manif, li um cartaz onde se perguntava: "Que serás capaz de fazer, quando nada tiveres a perder?” Quero só dizer-lhe que já sei do que sou capaz!
Nota final:
Sinto-me mais seguro se confiar o meu dinheiro a um banco ou a uma companhia de seguros, porque se eles não cumprirem, tenho Fundos de Garantia que me compensem e/ou a possibilidade de recorrer aos Tribunais, para que me devolvam o que me roubaram.
Consigo, sr Pedro, é tudo muito mais perigoso, porque o senhor é, simultaneamente, polícia, ladrão e juiz.
Consigo, sr Pedro, é tudo muito mais perigoso, porque o senhor é, simultaneamente, polícia, ladrão e juiz.
0 comments:
Post a Comment