Desde ontem, o Estado americano fechou. Nem todo, mas 800 mil funcionários menos essenciais foram mandados para casa, sem ser pagos e sem saber quando voltam ao trabalho. Não há dinheiro, não há palhaços, chama-se shutdown e não é tão raro assim. Houve 17 shutdowns desde 1976. O orçamento de 2014 devia começar ontem, 1 de outubro de 2013 (é o que vos digo, tão estranhos os estrangeiros), e como não foi aprovado, corta-se nas despesas. Explicação rápida do imbróglio: o Senado (de maioria democrata, como o Presidente Obama) quer um orçamento com algum aumento de impostos e a Câmara dos Representantes (maioria republicana) não quer. Discute-se há seis meses e os republicanos, para votarem o orçamento, exigiram cortes na reforma do sistema de saúde ("Obamacare", defendida pelo Presidente). Como ninguém cedeu, entrou-se no ano orçamental a cortar radicalmente nos pequenos funcionários. Deixem-me ir por um pouco de demagogia, mas também para mostrar que o mundo não é tão diferente assim: os congressistas continuam a ganhar durante o shutdown. Em todo o caso, sublinhe-se a estranheza por este cataclismo para tantas famílias não originar tumultos. Curiosos costumes, os dos outros. Agora, uma bisbilhotice: em 1995, no segundo dia do shutdown que lhe calhou, Bill Clinton ficou sem funcionários na Casa Branca. Chamou uma estagiária que lá estava, Monica Lewinski, e aconteceu o que se sabe. Nas pequeninas coisas o Mundo é menos estranho.
FERREIRA FERNANDES Hoje no DN
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