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Friday, October 18, 2013

Sobre a falta de apetite:

Ontem escrevi um texto com o nome: “Falta de apetite”. Tentei não ser muito pessimista. Da maneira que a situação do País decorre cada vez vejo o amanhã mais distante. E leva-me a muitos e muitos anos atrás. Parece que me vejo a sair todos os dias de casa, com a malga com broa velha esfarelada, um pouco de açúcar loiro, a caminho da cantina escolar. Andava uns oitocentos metros de minha casa até à referida cantina. Fizesse chuva fizesse sol. Sim! Que nestas coisas de estômago não há que olhar para as condições climatéricas. Se chovesse ficava-se a ganhar em dois lados. Tomava-se banho e socorria-se o estômago.
Havia alguém que para não se molhar, ou seja, para não lavar a roupa, munia-se do saco de serapilheira para abrigar a roupa que tinha vestido. Eu e muitos como eu por vezes não fazíamos uso desse utensílio. Assim evitávamos que as nossas mães fossem para os tanques, emprestados por favor, lavar a nossa roupa. Que miséria!
Em Freamunde havia dois ou três tanques públicos. Se todas as Freamundenses fizessem uso desses tanques públicos as horas do dia não davam para todas fazerem a barrela à sua roupa
. Assim havia que pedir a um, ou outro vizinho, que possuísse tanque a gentileza de deixar ali lavar a roupa. Quantas vezes, essa autorização, vinha mediante a lavagem da roupa da dona do tanque. Nestas situações não se podia regatear. Havia que aceitar as condições. Porque se assim não fosse perdia-se a lavagem da roupa e a dádiva diária da água de consumo. Sim! Não se admirem. Não havia água canalizada e poços de água. Quem os tinha era um felizardo.
 Molhado ou seco depois de tomar o pequeno-almoço dirigia-me para casa ou para a brincadeira. Ao meio-dia a mesma ladainha. Só que aqui não ia munido da malga com broa esfarelada e açúcar loiro. Em vez disso levava a saca da escola. Sim! Nesse tempo a mala ou o saco, tipo desportivo, não entrava no nosso léxico. Entrava mais a necessidade e pobreza.
 Muitas vezes quando ali chegava bem me apetecia voltar para trás. Mas a fome era maior que o sabor do óleo de fígado de bacalhau. Bem me apetecia fechar a boca mas em vez disso fechava os olhos e dizia para mim: seja o que Deus quiser.
Depois com o passar dos anos a situação do País começou a melhorar. A emigração e a guerra ultramarina levaram muitos jovens e assim começou a haver mais procura de mão-de-obra. Os ordenados começaram a subir. As pessoas a ter melhores posses.
Até que veio o Vinte de Abril. Aqui as transformações foram enormes. Maiores ordenados: foi criado o ordenado mínimo. Melhores regalias sociais: subsídios de férias e de Natal. Melhores habitações: construíram-se nas grandes cidades bairros sociais e assim acabaram-se com as barracas nas entradas dessas mesmas cidades. Escola para todos: tentou-se acabar com o analfabetismo criando-se para isso escolas e cursos nocturnos. Acesso à universidade: até aqui só lá entrava quem tivesse dinheiro. Com as bolsas de estudo e com melhores ordenados por parte dos seus progenitores os mais pobres tiveram acesso. Com isto o País lucrou bastante.
 Hoje já se nota o efeito tecnológico que as nossas universidades conseguiram. São eventos atrás de eventos e prémios atrás de prémios. Tudo parecia correr às mil-maravilhas. Até que veio a crise criada por um número de banqueiros agiotas. Os tais que prometiam mundos e fundos e o que conseguiram foi a crise mundial.
Depois tivemos um partido que nos prometeu um Portugal melhor. Mas a única coisa que nos deu foi miséria atrás de miséria. De ano para ano a situação piora. Vejo as nossas crianças e os nossos velhos a passarem fome. Para cúmulo o governo tira a quem tem menos.
Por isso o meu pensar que não temos futuro. Dizem que para grandes males grandes remédios. Mas estou como diz a canção de José Afonso: A morte saiu à rua. E saiu. Uns por não aguentarem esta triste sina e põem termo à vida. Outros não têm meios de subsistência e vão definhando.                  

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