Nunca mais passava. O relógio não fazia os ponteiros movimentarem-se como o Diogo desejava. Nos seus “míseros” sete anos custava-lhe compreender porque os minutos tinham sessenta segundos as horas sessenta minutos e os dias vinte e quatro horas. Para alguns momentos vá que não vá. Agora numa noite de natal! Isso não. São muitos minutos e horas. Ou havia de estarem munidos com outro ponteiro para situações como estas. Ah se estivesse! Há muito que tinha ido ali mexer e o manobrava à sua feição.
Neste momento o relógio da igreja matriz de La Ricamarrie acabou de dar as cinco horas. Que lentidão. O espaço entre uma e outra badalada parecia uma eternidade. É impossível que não esteja com “fome” e custe-lhe “trabalhar”. Quando acabar as férias da catequese vai pôr este problema à catequista. Ou ao padre. Não pode ser tão molengão. Ou será que a ânsia de receber os presentes do pai natal o leve a adjectivar o relógio da igreja.
De certeza que não o merece. Está ali há vários anos. Lembra-se de o ver sempre ali. Também só tem uns “míseros” sete anos. Mas ainda se recorda de alguns meninos lhe atirar pedras. E… ele sem resmungar continuava na sua lenta agonia de subir e descer. Para mais até alcançar a hora os últimos trinta minutos são a subir. Por isso lhe custe dar as badaladas. Vê-se que está ofegante pelo sacrifício dos últimos trinta minutos.
A continuar assim nunca mais chega a hora de clarear o dia. Sim! Noutros anos só ia buscar as prendas ao sapatinho com o dia já “levantado”. É que lhe dizia a sua mãe se o fizesse ainda com a noite a “pé” no ano seguinte não era contemplado. Por isso o aguentar todos os minutos e horas para no ano seguinte não ser rejeitado. Mas que dá vontade de o fazer isso dá.
Deram as sete horas. A lentidão com que foram badaladas trouxera o clarear do dia. Agora a ânsia que tinha passou a receio. Não sabia qual a sua prenda. Em casa ouvia dizer que o pai natal dava conforme recebia. E o que ele tinha dado ao pai natal! Só aborrecimentos? Não. Na escola não era dos melhores mas dos piores também não. Na catequese era assim, assim. O pior era nas lides de casa e nos recados que a mãe lhe mandava fazer. Mas isto não era o bastante para estar com receio. Então os meninos que atiraram pedras ao relógio da igreja matriz ainda tinham que dar prendas ao pai natal pelas malfeitorias. Não! O pai natal não é vingativo. É uma espécie de avô materno ou paterno. Assim como o meu. Que só vê o mal julgando-o bem.
Agora as horas no relógio da igreja matriz passam normalmente. Os minutos tem sessenta segundos as horas sessenta minutos e o dia vinte e quatro horas. Já antes o tinham. Só que as suas precisões queriam se sobrepor à normalidade da vida. Agora pensa assim porque já viu a sua prenda. E que prenda! Ali está ela ao pé do seu sapatinho. Sabe que é dele porque é filho único. Que linda! Era assim que via a sua bicicleta.
Toda azul.
Toda azul.
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