Esta noite sonhei com o 25 de Abril.
Sonhei que estava nas galerias da AR com um cravo na mão, pronto para celebrar o 25 de Abril, quando vejo levantar-se para discursar Américo Thomaz, o cabeça de abóbora.
Surpreendido, perguntei em voz alta:
- Mas que está este filho da puta aqui a fazer?
Uma mulher com sorriso condescendente, que se apresentou como sendo Liberdade, respondeu-me:
- Sei que leste o Murakami, portanto vais perceber o que te vou dizer. Durante a noite transpuseste a porta do Tempo e entraste, inadvertidamente, no ano de 2Q13. Neste ano onde estás não existe democracia. O mundo é governado pelos ex-ditadores que levaram o mundo a uma Guerra Mundial, desprezaram os direitos dos povos e cometeram crimes contra a Humanidade. São esses líderes que hoje aqui vão discursar. Prepara-te, porque não vais acreditar no que vais ouvir.
Concentrei-me então no discurso de Thomaz. Ouvi-o fazer o louvor da União Nacional, escarnecer da democracia e falar da inutilidade das eleições e dos partidos da oposição. Nas bancadas, um grupo de deputados aplaudia histericamente. Entre eles sobressaía uma mulher de canário vestida.
- Estes são os deputados da União Nacional?- perguntei à Liberdade.
Ela riu-se e repondeu:
- Não sejas ingénuo. Na União Nacional os deputados tinham profissão, tinham vida para além da Assembleia Nacional. Estes que aqui vês a aplaudir são uns tipos que não têm onde cair mortos. São sem abrigo que o Salazar recrutou para o aplaudir. E paga-lhes bem, com o dinheiro dos contribuintes…
- Salazar? Não o vejo aqui, Liberdade…
- Estás muito distraído! Não vês aquele tipo de óculos, com penteado de dandy da Porcalhota? É o Salazar quando ainda era jovem. O tipo sempre foi um galã e recusou-se a envelhecer, é por isso que o vês ainda jovem, num tempo em que não o conheceste
- Ah, é esse! Está tão caladinho, o cabrão!…
- Não está não! Está a rir-se às gargalhadas, mas tu não o consegues ouvir.
- Diz-me só mais uma coisa, Liberdade. Estes gajos vão continuar a governar durante muito tempo?
- Depende de ti. Se continuares a viver no tempo errado e não fizeres como Aomane e Tengo, eles governarão eternamente. Se queres sair deste mundo de 2Q13 e livrar-te dos ditadores,tens de agir. Mas tens de ser rápido, porque amanhã pode ser tarde...
Olhei para o meu cravo murcho e vi-o a transformar-se numa granada. Peguei nele com cuidado. Levantei-me e disse para o Thomaz:
- Cala-te, meu grande sacana!
Arremessei a granada na sua direcção, mas não a vi explodir, porque o despertador me acordou.
Estava na hora de me levantar e ir para o aeroporto. Era hora de fugir deste ano de 2Q13!
Até breve, caros leitores. Agora, é tempo de partir, mas volto em breve com forças renovadas, para viver no tempo certo. Pelo menos assim o espero...
Do blogue "Cronicas do Rochedo"
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