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Wednesday, November 13, 2013

Querem acabar com a Escola Pública:

O artigo de opinião de Baptista Bastos de hoje no DN fez-me lembrar também o meu tempo na Escola Pública. Não fui para além da quarta classe enquanto jovem, tendo feito a sexta classe autoproposto aos trinta e nove anos. E como Baptista Bastos recorda os seus professores dizendo que tudo o que é a eles lhes deve também comigo acontece o mesmo.
O quanto grato estou ao Professor Francisco Valente pelos três anos que me ensinou - da primeira à terceira classe - e depois a Professora Adelina na quarta classe. Com eles tínhamos de saber o ABC e a Tabuada de uma ponta a outra.
Também recordo as minhas idas matinais à Cantina Escolar - só tinha aula da parte da tarde - tomar o leite em pó e de vez em quando comer queijo amarelo. Por tudo isto estou, como diz Baptista Bastos, agradecido à Escola Pública. Sei que os Rankings que os jornais nos apresentam não estão correctos. Equivalem realidades diferentes. E estou como fazem muitos senhores do dinheiro quando adoecem. Procuram primeiro os hospitais privados para depois irem morrer nos públicos.
Escrevi este intróito a ressalvar e concordar com o artigo de Baptista Bastos que abaixo exponho e como meio de recordar as Escolas Amarelas, o Professor Francisco Valente, a Professora Adelina e as carteiras escolares daquela época. Ali sentou o "rabo" o inteligente e o burro, o pobre e o rico, sendo que alguns desta última classe social, optaram por o sentar noutras carteiras mais chiques mas não foram elas que lhes deram mais inteligência. Esta nasce com a pessoa. Não se compra.   

“A minha escola pública:
Tudo o que sou e sei devo-o à escola pública, à abnegada dedicação de professores, cujas memórias retenho com emoção e saudade. Não é mau ter saudade: é manter o lastro de uma história que se entrecruza com a dos outros, de muitos outros. É sinal de uma pertença que transforma as relações em laços sociais, frequentemente para toda a vida. Da primária ao secundário, e por aí fora, a presença desses homens e dessas mulheres foi, tem sido, a ética e a estética de uma procura do próprio sentido da vida. O débito que tenho para com eles é insaldável. A paciência solícita, o cuidado e a atenção benevolente do tratamento dispensado aos miúdos desbordavam de si mesmos para ser algo de grandioso. Ah! Dona Odete, como me lembro de si, da sua beleza mítica, da suavidade da sua voz, a ensinar-nos que o verbo amar é transitivo. Também lhe pertenço, e àqueles que falavam das coisas vulgares das ruas e dos bairros, da cadência melancólica das horas e dos dias, com a exaltação de quem suspira uma reza ou compõe uma épica.
Depois, foram os meus três filhos, instruídos em cantinas escolares republicanas, e aí estão eles, no lado justo das coisas, nesse regozijo dos sentidos que obriga ao grito e à cólera quando a repressão se manifesta. Escrevo destas coisas banais para designar o verdete e o vómito que me provocam o ministro Crato e o seu sorriso de gioconda de trazer por casa, quando, por sistema e convicção, destrói a escola republicana, aduzindo-lhe, com rankings e estatísticas coxas, a falsa menoridade da sua acção. Este ministro é um mentiroso, por omissão deliberada e injunção de uma ideologia de que é paladino. Não me interessa se abjurou dos ideais de juventude; se tripudiou sobre "O Eduquês", um ensaio dignificante; ou se mandou às malvas o debate que manteve com o professor Medina Carreira, num programa da SIC Notícias. Sei, isso sim, que os homens de bem devem recusar apertar-lhe a mão.
Ele não diz que a escola pública está aberta a toda a gente, e que a escola privada (com dinheiro nosso, dos contribuintes) é extremamente selectiva. Oculta que a escola pública acolhe os miúdos com fome, de pais desempregados, de famílias disfuncionais e desestruturadas, que vivem em bairros miseráveis e em casas degradadas, entregues a si mesmos e à raiva que os alimenta.
Não diz que a escola pública é a imagem devolvida da sociedade que ele próprio prognostica e defende. Uma sociedade onde uma falsificada elite, criada nos colégios, tende a manter-se e a exercer o domínio sobre os outros. Oculta, o Crato, que, apesar desse inferno sem salvação, fixado nos rankings numa humilhação atroz, ainda surgem alunos admiráveis, com a tenacidade e a dimensão majestosa de quem afronta a injúria e a desgraça. E esta imprensa, muito solícita em noticiar trivialidades, também encobre a natureza real do grande problema. Tapa os ouvidos, os olhos e a boca como o macaco da fábula”.

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