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Thursday, November 28, 2013

Este final de Novembro:

Embora solarengo, está muito frio. Assim os desempregados e reformados vão aproveitando estes dias que restam para se deslocarem até ao Parque de Lazer para jogar uma suecada, pescar algum peixe que, como mandam as normas de pesca do Clube de Pesca e Caça de Freamunde tem de ser devolvido novamente ao rio Ferreira, ou pôr a conversa em dia. Assim aconteceu hoje comigo. Gosto de ir até ali. Quase sempre aproveito por ir pelo lugar de Além. Digo lugar porque ainda não me familiarizei com os nomes de rua que deram aos vários lugares de Freamunde.
Ao passar pelo lavadouro de Além fez-me recordar tempos remotos. Ali vi na minha imaginação as lavadeiras - nesse momento em que passei encontrava-se uma a lavar roupa - a contarem episódios do dia-a-dia. Disse para os meus botões: como tudo está a ficar abandonado.
Noutros tempos não faltavam ali lavadeiras. Falavam de tudo. Da sua vida e da alheia. Quantas virgens ali perderam a sua virgindade na boca das lavadeiras. Quantos namoros e casamentos ali desfeitos. Quantos namoros e casamentos ali construídos. Quantas amizades construídas e destruídas. E o lavadouro de Além mudo e quedo.
A sua água se já estava suja mais suja ficava com o que ouvia. Sim! Se o lavadouro estava mudo e quedo o mesmo não se passava com a água. Esta agitava-se com o que ouvia. Não gostava que ali fosse um banco de má-língua como o dos homens. Mesmo assim as alcoviteiras tinham sempre notícias fresquinhas. Boas e más. Ferisse ou não ferisse. É este o papel delas. Falar por falar. Com isso julgam que lavam a sua língua.  
Quantas verdades também se disseram mas quem as ouvia julgava que eram mentiras. É assim o povo. Diz o que não deve e cala o que deve ser dito. Por isso a minha paragem por um bocado de tempo a olhar para o que resta do lavadouro de Além. Nota-se na sua melancolia muita tristeza. O seu rectângulo em pedra cheio de água que continua a ser revezada por outra não o faz como outrora.
E neste vai e vem continuava a pensar na modificação que levou o lavadouro de Além. As máquinas de lavar roupa tomaram o seu lugar. As pessoas que ali iam remeteram-se ao seu lar. As raparigas deixaram de perder ali a sua virgindade na boca de certas lavadeiras. Também hoje ninguém liga a esse preconceito.
Uma ou outra que ali vai lavar fá-lo na plenitude do seu silêncio ou como forma de vida, cantarolando como ouvi hoje em pequeno tom, querendo demonstrar a quem passava que não estava sozinha.
Vim ao lavadouro de Além / Lavar roupa suja / Aqui não vejo ninguém / Com má-língua como a tua.  
Quem ainda vai ao lavadouro de Além vai também lavar as suas mágoas.

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