"Já me tinha esquecido da integridade. Deve ter sido isso que me fez chorar. É aquilo que tem António Arnaut, um dos fundadores do Serviço Nacional da Saúde (SNS) que, sofrendo de cataratas nos olhos, não só recusa todos os favores dos amigos para ser operado no sector privado, como insiste em ser operado pelo SNS, como qualquer utente anónimo.
No PÚBLICO foi justamente elogiado por denunciar a campanha cada vez mais descarada para propagandear as empresas hospitalares com fins lucrativos à custa dos hospitais públicos do SNS.
António Arnaut tem dinheiro e amigos para já estar livre das cataratas há mais de seis meses. Mas escolheu esperar e sofrer para ser igual às ideias dele. Que, no caso dele, foram tornadas em instituições que beneficiam todos os portugueses, salvando as nossas vidas. Há um aspecto, no entanto, que ainda é mais corajoso e honesto: é que António Arnaut, para além de rebelde, ainda acredita na qualidade do SNS que criou. Não é acreditar: sabe que o SNS tem qualidade. Tem é medo que a privatização obsessiva em curso liquide o SNS. Entenda-se: vender a algumas empresas endinheiradas, por um preço baixo, tudo o que pertence a todos os portugueses, por ter sido completamente pago pelos impostos que pagamos.
António Arnaut não é um mártir: é um grande político que usa todos os meios ao dispor dele para conseguir o que deseja para os outros. Para os outros, com ele próprio incluído. Ele quer ser - e é - como todos nós."
MIGUEL ESTEVES CARDOSO, PÚBLICO, 24/09/2013
MIGUEL ESTEVES CARDOSO, PÚBLICO, 24/09/2013
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