"Freamunde é um nome milenário. Genetivo de Fredemundus é de origem Germânica. Raiz para a paz (Frea) e associação para protecção (Monde). Paz e protecção tal qual uma marca de origem, sueva por certo, a propor emblemático destino a uma população que terá começado ali para os lados de São Martinho, em Freamunde de Cima. Enamorado da fertilidade e da beleza destas terras acolhedoras, o primeiro núcleo étnico, não cessou de crescer.
A protecção de São Martinho não lhe faltou e até foi reforçada com a de São Salvador. A paz e o progresso também não!
Por isso ainda hoje, Freamunde mistura Paz e Protecção, veste-as de galantarias e de quando em quando, prepara o seu arraial-espaço-feira para o rito do acolhimento a milhares de forasteiros em buliçoso convívio com as gentes da terra. Por isso Freamunde é de algumas vezes, diferente de qualquer outra terra.
Nesses dias, Freamunde é lugar de sociabilidade total. Lugar de liberdades, de inofensivas transgressões às regras do dia-a-dia. Lugar para não trabalhar, nem dormir. Quando muito para o negócio, que em si mesmo evoca o ócio. Lugar de encontro de uns com os outros, de trocas, de ostentação e distribuição de riquezas e pobrezas. O pretexto é o Santo e a Feira e para muitos ainda, o respeito e o preito de religiosidade. Duma religiosidade herdada de tempos anteriores ao cristianismo, de tempos em que a protecção era buscada para o dia a dia da vida.
Dia de feira que sempre se realizou nos dias treze e vinte e sete de cada mês
É idêntica a alegria de ir e é igual a tristeza de voltar à penosa luta do trabalho diario.
A Terra e a paisagem:
Abrange um horizonte de Ocidente a Oriente, num largo semicírculo protegido pelo Norte por uma cadeia de Montanhas.
São terras com um particular micro-clima que a bacia do Ferreira e a proximidade do Sousa, tornaram um viveiro de vegetação. E todos inclinados para o Douro, em orientacao NE-SW, e como que contrariando a grande vertente minhota que se orienta para o mar.
A região tem características climáticas atlânticas, com Verão moderado e curto que não chega para "desbotar a verdura dominante das paisagens" e em que as necessidades da colmeia humana transformaram as terras baixas dos vales, numa policromia de culturas e prados, com árvores em renques a demarcar os campos. Por todo o lado, a vinha e o milho que a partir do Séc. XVI se tornou, juntamente com a criação de gados, a base económica das populações.
Aqui e ali, ainda os traços da antiga economia pastoril, que seria a natural vocação destas gentes que "tinham a manteiga como gordura e a cerveja e a cidra como bebida fermentada."
Só recentemente o urbanismo tornou aqui, em alguns sítios, o "habitat" concentrado, típico de cidades ou vilas modernas. Ao redor destas "ilhas" urbanas resta ainda a dispersão da casa rural em que a gente vive mais para os seus campos e quintas que para a comunidade de vizinhos.
É o casal isolado, o grupo de poucas habitações, ou os lugares com poucos moradores, abertos para os seus quintais e caminhos por onde circula a vida agrícola. Com o decorrer dos tempos, o fenómeno urbano alterou muito esta paisagem, mas ela aí está ainda, onde a deixam sobreviver. Na realidade a expansão das áreas urbanas em Freamunde é um fenómeno recente, que se acentuou nos finais do Sec. XIX e se exagerou após a II Guerra Mundial, quando a implantação industrial, trouxe consigo a concentração da construção urbana. A Indústria dispersou-se em pleno meio rural, acarretando profundas modificações no antigo povoamento, quer pela ocupação de solos, quer pela mobilidade que provocou nas populações. A emigração trouxe também, principalmente entre 1970-1983, um outro tipo de construção e uma nova fisionomia arquitectónica. Finalmente o comércio, demasiado concentrado na sua importância ao redor da Area Metropolitana do Porto (80% do total da regiao minhota) contribuiu também para descaracterizar toda a freguesia, tornando-a em muitos aspectos igual a tantas outras...
Mas, mais importante que lamentar as deficiências de organização e admnistração públicas, que permitiram o crescimento a esmo, será encontrar, vêr e sentir o que a verdadeira identidade cultural tem para nos mostrar em Freamunde.
Para esta terra situada na chamada chã de Ferreira, carreia o Douro uma quase constante corrente de ar húmido e fresco que provoca abundantes chuvas e consequentes arrastamentos de terras altas e graníticas para os baixios que por isso se tornam férteis e renovados. Para Norte, temos a Serra da Cabreira, deslizando em prolongamentos e sub-serras no sentido do Sul, como que a indicar o caminho aos muitos rios e cursos de água até ao Vale do Sousa e do Tâmega.
Curioso é notar como também, étnicamente falando, as culturas que desde a Idade do Bronze aqui foram chegando, pelo mesmo caminho, e testemunham para este mesmo percurso, o predomínio dum mesmo tipo humano, dolicocéfalo, de média estatura e acentuado tom moreno.
Pelas encostas íngremes e agrestes que dão com dificuldade para chãos de meia altitude, os rios escrevem suas curvas e cavam gargantas de penhascos na paisagem. E, correndo pelas fracturas inerentes à formação geológica vulcânica, moldam territórios. O solo é de uma uniformidade monótona no que a sua estrutura se refere: é o granito e o xisto por toda a parte. E sao estas rochas que os agentes atmosféricos dividem e pulverizam no contínuo processo de erosão que proporcionam o aparecimento das terras férteis e fàcilmente cultivàveis dos fundos e vales."
Continua
Pelas encostas íngremes e agrestes que dão com dificuldade para chãos de meia altitude, os rios escrevem suas curvas e cavam gargantas de penhascos na paisagem. E, correndo pelas fracturas inerentes à formação geológica vulcânica, moldam territórios. O solo é de uma uniformidade monótona no que a sua estrutura se refere: é o granito e o xisto por toda a parte. E sao estas rochas que os agentes atmosféricos dividem e pulverizam no contínuo processo de erosão que proporcionam o aparecimento das terras férteis e fàcilmente cultivàveis dos fundos e vales."
Continua
0 comments:
Post a Comment