Na Blogosfera ou na Internet de vez em quando somos levados a contactos com alguém que não conhecemos mas que à partida nos leva a ganhar consideração e respeito. Seja pelo modo como somos tratados, seja pelo tipo de comentários que fazem sobre nós, seja pelo ser humano ser um tipo influenciável e de simpatias.
À mínima coisa sem se conhecer quem está do outro lado ganha-se uma afeição que julgávamos impossível. Umas vezes com prejuízo pelo motivo da ilusão criada.
É sabido quantas ilusões criadas e como acaba em desilusões. Nem em tudo devemos acreditar e criar uma ideia do que ouvimos porque a realidade depois é diferente. Para exemplo:
Um dia um ouvinte depois de ouvir um programa radiofónico começou a simpatizar com a voz melodiosa da locutora. A partir daí não perdia um programa dessa emissora em que intervinha essa locutora. A simpatia era tal que o levou a apaixonar-se por essa mesma voz. Passado uns tempos conseguiu o contacto pessoal dessa locutora e marcou um encontro sem antes lhe dizer o quanto estava afeiçoado à voz dela.
A locutora em princípio não se mostrou receptiva a esse encontro porque sabia a desilusão que ia criar. Já com outros tinha acontecido o mesmo. Mas como desempenhava serviço público na rádio e não gostava de criar ilusões resolveu aparecer ao encontro para pôr as cartas na mesa, não fosse esse o título do seu programa.
O ouvinte quando soube da cedência por parte da locutora – já sua apaixonada – deu gritos de alegria, como os apaixonados costumam dar.
Nesse dia aperaltou-se com a sua melhor indumentária e usou os melhores perfumes para criar boa impressão. Até o ramo de flores, que nestes momentos são indispensáveis, foi dos mais caros que a florista tinha em exposição no seu ateliê.
Estava tudo nos conformes. Faltava a chegada da hora do encontro. Os nervos cada vez eram maiores mas não havia necessidade dado que esse ouvinte não era caloiro nenhum em matéria de paixões.
Anos atrás, quando cumpria o serviço militar em Angola, para onde foi mobilizado, na troca de correspondência com uma “madrinha de guerra”, ganhou tal afeição por ela, derivado à sua caligrafia e aos temas abordados, que semana que não recebesse uma carta punha-o logo a cismar: de certeza encheu-se de mim e da maneira como escrevo e dos erros que dou.
Esteve tentado em pedir a um colega – que escrevia cartas para vários colegas seus - para corrigir as cartas mas entendia que assim passava a ser um namoro a três.
Quando regressou de cumprir o serviço militar e no encontro que tiveram sentiu tal desilusão pela sua fisionomia, parecia sua mãe – agora compreendia a recusa de fotografias.
Logo ali lhe disse que sempre lhe pediu sinceridade e os seus vinte anos afinal eram mais do dobro. Que assim não podia confiar em alguém que durante ano e meio o andou a enganar.
E, assim terminou uma ilusão de vários meses mas que ficaram gravados na memória para todo o sempre.
Não! Desta vez não ia acontecer o mesmo. A mesma água não passa duas vezes por debaixo da mesma ponte como bem diz o povo.
Por isso todo o aperaltamento que resolveu dar à sua pessoa.
Chegou ao sítio combinado antes uns minutos com o intuito de presenciar como era a rainha do seu coração. Tinham combinado como iam vestidos para assim saberem a quem dirigir-se.
Chegou a hora e nesse momento saiu um condutor de um carro que de imediato dirigiu-se à mala de onde tirou um carrinho de rodas. De seguida foi ao outro lado do condutor e de lá ajudou a sair uma senhora que lhe faltava uma perna.
Até aí tudo bem. O encontro tinha sido marcado próximo de uma clinica e talvez fosse uma doente que ali se dirigia. Mas não. A senhora continuava à espera junto do motorista.
Até que algo lhe chamou a atenção. A roupa que a senhora envergava tinha a mesma cor que tinha sido combinado com a sua imaginada amada.
Pensou logo no que há anos lhe tinha acontecido com a “madrinha de guerra”. Naquela vez foi apanhado de surpresa e inexperiência. Por isso o ter chegado antes uns minutos. Não suportava outra desilusão.
Pensou! Queres ver que afinal a mesma água passa duas vezes por baixo da mesma ponte!
Até o ramo de flores que lhe ficou bem caro as flores murcharam. Não… não ia a esse encontro. Não suportava nova desilusão.
Assim fez o trajecto de regresso e num caixote de lixo depositou o ramo de flores.
Não ouvia mais o programa da rádio. E nunca mais acreditava no que não via. Ia usar o lema de S. Tomé: ver para crer.
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