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Tuesday, April 30, 2013

Faz hoje dez anos:


Faz hoje dez anos que nasceu o Grupo de Teatro Pedaços de Nós e levou à cena a peça “Um Fantasma chamado Isabel” de Miklos Marai. Assim, a Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós e Freamunde deram mais um passo na sua cultura.
Depois desta peça sucederam-se outras: Amor de Perdição; O Processo de Jesus; Don Ramon de Capichuela; Um Retrato de Almeida Garret; Uma Luz sobre a cama; A Ceia dos Cardeais e a Revista Freamunde de Ontem e Hoje.
Para uma Associação estritamente amadora em dez anos é muita obra. Pena que não seja correspondida pelos órgãos autárquicos com melhores condições de habitabilidade - mais tarde hei-de voltar ao tema - pelo facto da Associação Pedaços de Nós e o Grupo de Teatro estar sempre ao dispor da Autarquia de Freamunde e da Câmara Municipal de Paços de Ferreira quer em participações em Freamunde no concelho ou fora dele. Tem sido um esforço enorme de quantos englobam esta Associação e mereciam ser mais correspondidos.
Da parte do blogue “Coisas que podem acontecer” um bem-haja e não esmoreçam. Sei que há divisões entre os seus elementos mas nesta hora ninguém ganha com isso. A união deve subsistir para que outras forças não ganhem esta batalha.

O Correio da Manhã não desarma:


De tempo a tempo, produz notícias sobre a vida privada de José Sócrates ou sobre a sua licenciatura. Este órgão de (des) informação faz lembrar o abutre: só se sente bem com o sangue das vítimas. Seja da maneira que for. Para ele - Correio da Manhã - o que interessa é noticiar sobre José Sócrates. Rende que se farta.
Vejo no Correio da Manhã jornalistas por quem sentia uma certa admiração pela sua isenção noutros jornais ou televisões. Mas, ali chegados, tem de se submeter à orgânica da direcção daquele jornal. Não interessa o estatuto de jornalista ou o código deontológico. O que interessa é noticiar. A mentira, dita tantas vezes, julgam que a torna em verdade.
Sobre a licenciatura de Durão Barroso só puseram na primeira página e não mais a abordaram. Já se passaram quatro dias e não dizem mais nada. Ai se fosse sobre José Sócrates! Era tema de notícia diariamente.
Outros pedem para averiguar a de Passos Coelho mas o Correio da Manhã não levanta uma palheira. Mais a mais a de José Sócrates foi basculhada por tudo e todos.
É mesmo uma obsessão que nutre por José Sócrates. E, quando isso acontece não sei qual a patologia que os pode curar.    
"Qualquer comparação com Relvas ofende-me".
O antigo primeiro-ministro José Sócrates afirmou este domingo, na sua estreia como comentador da RTP, que “qualquer comparação” com o caso da licenciatura de Miguel Relvas o “ofende”, considerando que a demissão do ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares chegou tarde.
José Sócrates afirmou hoje, no seu novo espaço de comentário semanal na RTP, que a demissão de Miguel Relvas foi “tardia porque há muito tempo que se percebia que a manutenção daquele ministro prejudicava a acção governativa”.
Contudo, para o antigo primeiro-ministro, o maior motivo de preocupação é o “primeiro-ministro que fica” e que, no seu entender, “revela mesmo incapacidade para liderar esta remodelação governamental”. “O que me parece é que nesta remodelação o primeiro-ministro vai a reboque”, frisou.
Questionado sobre as comparações que têm sido feitas entre o caso da (polémica) licenciatura de Miguel Relvas – e que tem sido apontada como a principal razão da sua demissão – e a sua própria licenciatura, José Sócrates recusou qualquer termo de comparação.
“Qualquer comparação ofende-me. E os que fazem essa comparação agem apenas de má fé”, afirmou.
Na RTP, o antigo líder socialista referiu que fez o seu curso de engenheiro técnico civil “em quatro anos como era exigido”, acrescentando que nunca chumbou um ano e que mais tarde decidiu completar a sua licenciatura.
“Estive seis anos no ensino Superior, cinco em universidades públicas e tirei o meu curso fazendo todas as cadeiras, sem nunca chumbar a uma cadeira e nunca tive uma cadeira que me fosse dada por equivalência com base na minha experiência profissional”, argumentou José Sócrates.
“Rejeito qualquer comparação. Essas comparações só podem ter por base a má fé”, insistiu, recordando que, depois da licenciatura tirou um MBA no ISCTE. “Fiz dois anos para tirar o MBA e fui aliás o melhor aluno, desculpem a modéstia, em ‘ex aequo’ com outro”, contou Sócrates.
O antigo primeiro-ministro recordou também que a sua licenciatura foi investigada e que não resultou dessa averiguação qualquer indício de irregularidades. “O Ministério Público concluiu que nunca fui beneficiado em nada, nunca tive equivalências com base em experiência profissional, nunca houve nenhuma ilegalidade, no que me diz respeito, nem irregularidade”, concluiu Sócrates. 
08 de Abril de 2013 | Por Eudora Ribeiro NM

Monday, April 29, 2013

A brincar a brincar... dizem-se verdades:


As Vuvuzelas e as Caxirolas:


A Primavera está como o País:


Gosto de escrever algo todos os dias e assim alimentar o meu blogue. Blogue que não tenha notícias diárias passa ao rol do esquecimento. Depois também há muitas pessoas a lê-lo fora de Portugal. Julgo que são emigrantes Freamundenses que labutam por este mundo fora. O certo é que tanto em Freamunde como em Portugal é sempre a mesma coisa: descrédito.
O S. C. Freamunde nos jogos de capital importância está a claudicar e a segunda divisão está à vista. Freamunde não ata e nem desata. O tempo, ou seja, a Primavera parece mais o Outono. Vento e mais vento. As flores e árvores que deviam estar a florir não aguentam as suas sementes.
As notícias nos vários órgãos de comunicação social são cada vez pior. Dizem que só há dinheiro para pagar o subsídio de desemprego até Novembro. As escolas são obrigadas a pagar em dinheiro aos professores através de um fundo da União Europeia.
Cavaco Silva amuou com as críticas que lhe fizeram por causa do seu discurso no vinte de Abril e tenta se redimir perante os portugueses com explicações pensando que a maioria dos portugueses confia nele. Gato escaldado de água fria tem medo.
O António José Seguro julga-se com o rei na barriga e pede uma maioria absoluta no congresso do PS. Arruma com a ala “Socrática” e julga que vai ter a vida facilitada. Engano seu. Quando for chamado, se for, a formar governo é que vai ver com quantas varas se faz um cesto. Vai-lhe acontecer o mesmo que fez a José Sócrates. E depois vai fazer como José Sócrates: a Cascais, uma vez e nunca mais.
Acabo de escrever este texto e o vento continua a agitar a copa das árvores. Não sabemos se devemos usar um casaco ou sobretudo. De uma coisa tenho a certeza. O tempo decorre como o governo deste País: agitado e sem saber para onde se virar.

Sunday, April 28, 2013

Quem tem pena deste casal de idosos!

A Reforma da D. Maria Cavaco
Ponham bem os olhos nesta reformada CINCO ESTRELAS.
A classe média está a perder poder de compra, porque não sabe ou não quer investir.
Aprendam com quem sabe:
A casinha no Algarve e a reforma são dados pessoais e ninguém teria que meter o bedelho, não fosse o caso do seu esposo,o reeleito Presidente da República, ter explicitamente referido a situação de que a sua esposa tinha apenas 800 euros de reforma.
DECLARAÇÃO DE RENDIMENTOS de MARIA CAVACO SILVA:
- BCP: Conta à ordem nº 882022 (1ª Titular) - 21.297,61 Euros;
- Depósito a prazo: 350.000,00 Euros (vencimento04/04/2011);
- BPI: Conta à ordem nº 60933.5 - 6.557 Euros;
- Depósito a Prazo: 140.000,00 Euros (juro 2,355%,vencimento em 21/02/2011);
- Depósito a Prazo: 70.000.00 Euros (juro 2.355%,vencimento em 20/03/2011).
- PPR: 52.588,65 Euros;
- Acções detidas:
BPI - 6287;
BCP - 70.475;
BRISA - 500;
COMUNDO - 12;
ZON – 436;
Jerónimo Martins - 15.000;
- Obrigações BCP FINANCE: 330 unidades (Juro Perpétuo 4.239%);
FUNDOS DE INVESTIMENTO:
- Fundo AVACÇÕES DE PORTUGAL - 2.340 unidades;
- Milenium EURO CARTEIRA - 4.324.138 unidades;
- POJRMF FUNDES EURO BAND EQUITY FUND - 118.841.510 unidades !!!!
Para uma "professora reformada" com 800 euros esta poupança é simplesmente incrível não acham???????l!
GENTE HONESTA É OUTRA LOIÇA!!!!
E AINDA ESTÁ POR NASCER ALGUÉM MAIS SÉRIO DO
QUE O MARIDO!!!

Ou que tenha uma ficha como esta!

Saturday, April 27, 2013


Esta noite sonhei com o 25 de Abril.
Sonhei que estava  nas galerias da AR com um cravo na mão, pronto para celebrar o 25 de Abril, quando vejo levantar-se para discursar Américo Thomaz, o cabeça de abóbora.
Surpreendido, perguntei em voz alta:
- Mas que está este filho da puta  aqui a fazer?
Uma mulher com sorriso condescendente, que se apresentou como sendo Liberdade, respondeu-me:
- Sei que leste o Murakami, portanto vais perceber o que te vou dizer. Durante a noite transpuseste a porta do Tempo e entraste, inadvertidamente, no ano de 2Q13. Neste ano onde estás não existe democracia. O mundo é governado pelos ex-ditadores que levaram o mundo a uma Guerra Mundial, desprezaram os direitos dos povos  e cometeram crimes contra a Humanidade.  São esses líderes que hoje aqui vão discursar. Prepara-te, porque não vais acreditar no que vais ouvir.
Concentrei-me então no discurso de Thomaz. Ouvi-o fazer o louvor da União Nacional, escarnecer da democracia e falar da inutilidade das eleições e dos partidos da oposição. Nas bancadas, um grupo de deputados aplaudia histericamente. Entre eles sobressaía uma mulher de canário vestida.
- Estes são os deputados da União Nacional?- perguntei à  Liberdade.
Ela riu-se e repondeu:
- Não sejas ingénuo. Na União Nacional os deputados tinham profissão, tinham vida para além da Assembleia Nacional. Estes que aqui vês a aplaudir são uns tipos que não têm onde cair mortos. São sem abrigo que o Salazar recrutou para o aplaudir. E paga-lhes bem, com o dinheiro dos contribuintes…
- Salazar? Não o vejo aqui, Liberdade…
- Estás muito distraído! Não vês aquele tipo de óculos, com penteado de dandy da Porcalhota? É o Salazar quando ainda era jovem. O tipo sempre foi um galã e recusou-se a envelhecer, é por isso que o vês ainda jovem, num tempo em que não o conheceste
- Ah, é esse! Está tão caladinho, o cabrão!…
- Não está não! Está a rir-se às gargalhadas, mas tu não o consegues ouvir.
- Diz-me só mais uma coisa, Liberdade. Estes gajos vão continuar a governar durante muito tempo?
- Depende de ti. Se continuares a viver no tempo errado e não fizeres como Aomane e Tengo, eles governarão eternamente. Se queres sair deste mundo de 2Q13 e livrar-te dos ditadores,tens  de agir. Mas tens de ser rápido, porque amanhã pode ser tarde...
Olhei para o meu cravo murcho e vi-o a transformar-se numa granada. Peguei nele com cuidado. Levantei-me e disse para o Thomaz:
- Cala-te, meu grande sacana!
Arremessei a granada na sua direcção, mas não a vi explodir, porque o despertador me acordou.
Estava na hora de me levantar e ir para o aeroporto. Era hora de fugir deste ano de 2Q13!
Até breve, caros leitores. Agora, é tempo de partir, mas volto em breve com forças renovadas, para viver no tempo certo. Pelo menos assim o espero...

Nacos de vida. Poesia de Rodela:


“Amantes de Freamunde”

Vou mandar pôr debaixo da palmeira
uma mesa de pedra e quatro bancos,
com quatro homens todos de tamancos
e um busto a recordar a sardinheira.

São estas as lembranças mais queridas
de quem adora a borga nesta terra,
porque aqui o bairrismo não emperra
e as saudades assanham as feridas.

À custa destes pobres, somos ricos,
p´ra eles o trabalho não tem picos,
querem mais gorda a terra que a carteira.

De tanta gente boa a relembrar
há dois homens que eu quero destacar:
O Senh´ Filipe e o Quim Loureira. 

Humor fim-de-semana:


Humor algarvio;
Pergunta o miúdo à mãe. – O que é um insete?
- Ê cá não sê, perguntá à mana…! 
- Ó mana, o qué um insete?
- Pôs eu nã sê… perguntó pai…!
- Ó pai, o qué um insete?
Ó meu granda burre… um insete sã oite…!  



Friday, April 26, 2013

O que faz pôr raposas a guardar galinheiros:

Não te venhas lamentar! Dizia o João Lamelas para a esposa. Cortaste-lhes as penas para elas não fugirem do galinheiro e agora com a raposa a guardá-lo isto está lindo! João Lamelas era um pequeno agricultor e a forma de aumentar o pecúlio mensal era a criação de galináceos. 
Sua esposa era um pouco feita à boa lei e de pensamento único. Ideia que lhe entrasse na cabeça tinha de ser posta em prática. Custasse o que custasse! 
E… assim, depois de ter cortado as penas às galinhas - fazia-o amiúde - resolveu pôr uma raposa a guardar o galinheiro. Por isso a chamada de atenção de João Lamelas à Ermelinda, sua esposa.
Sabia de antemão que não passava de desabafo, porque como disse, ideia que lhe entrasse na cabeça raramente saía sem lhe dar execução. Era o que acontecia nas várias reprimendas dadas por João Lamelas. Às vezes dizia para os seus botões: - entra por um ouvido a dez e sai a cem pelo outro!
Muita gente julga que é fácil a vida das raposas. Coitadas! O que tem de penar para levar vida. O misero sustento que aufere não dá para as arrelias. E ganhar a confiança de quem aposta nela não é nada fácil. Depois de estar a guardar o galinheiro as coisas são outras. Aí, pode pôr e dispor à sua vontade. Trair a confiança de quem lha deu. As galinhas coitadas, depois de depenadas, ainda tem de estar dependentes de quem jurou olhar por elas.
Por falar em depenadas veio-me à memória uma história antiga sobre um pilha galinhas. Depois de ter roubado uma, estava-a a depenar, na margem de um rio para a cozinhar para o jantar. Entretanto chegou junto dele um agente da autoridade que andava em cima do caso derivado a uma queixa pelo roubo de galinhas. Ao ver o agente dirigir-se na sua direcção atirou a galinha ao rio.
Como as penas estavam espalhadas pelo chão levou o agente da autoridade a perguntar qual o motivo. Sabe senhor agente - exclamou o pilha galinhas - a galinha estava com calor e para se refrescar resolveu tomar banho e pediu-me para lhe guardar a roupa. Vê como se encontra prazenteira dentro da água! Se quiser aguardar mais um pouco vai ver ela a agradecer-me.
Com isto o pilha galinhas convenceu o agente da autoridade que assim deu o caso por encerrado. Quem não o deu foi o pilha galinhas que retirou a galinha do rio e preparou-a para um belo jantar.
É o mesmo que está a acontecer ao nosso galinheiro. Tudo decorria normalmente. A revolução entre as galinhas gerou a que o galo que as comandava foi posto fora sem apelo nem agravo. 
Diziam que com esta saída tudo se modificada para melhor. Até se gabavam que com a ida à gamela acabava a austeridade dentro do galinheiro. O certo é que tudo que prometeu - o novo galo - tudo faltou. 
As dificuldades a cada dia eram maiores. A maioria das galinhas começaram a protestar. O galinheiro estava em fervorosa. A raposa que administrava o galinheiro não tinha mão nos protestos. Precisava de arranjar alguém da sua confiança no galinheiro.
Nada mais fácil que dar um voto de confiança ao galo, rei do galinheiro. E, assim aproveitou o aniversário do galinheiro para lhe fazer um discurso em que lhe reconhecia vários méritos. Não queria mais revolta dentro do galinheiro. 
Sabia que ia ser censurado por esta tomada de posição. Mas que se lixe. E assim fez. É que enquanto o pau vai e vem folgam as costas. 
Mas... para seu espanto foi aplaudido por várias galinhas que andavam a ser montadas pelo galo, rei do galinheiro, que com ar garboso era só sorrisos pela confiança da raposa guardiã do galinheiro. 

Rescaldo do 25 de Abril:

Exponho aqui no meu blogue crónicas de Ferreira Fernandes, que escreve diariamente e Fernanda Câncioàs sextas-feiras, nDiário de Notícias. Dá-me prazer ler tanto um como outra e é esse o motivo porque as publico para que outros também tenham essa oportunidade. 

Thursday, April 25, 2013

O 25 de Abril de 2013:


Parece mais uma noite das facas longas. Ajustam-se vinganças de quem prometeu e jurou ser o Presidente da República de todos os portugueses.  Com outro governo não se cansou de fazer críticas. Dizia que o povo não resistia a tantos sacrifícios. 
Mas... hoje tudo corre bem. Até parece que os funcionários públicos, reformados, desempregados e idosos estão melhor que há dois anos! 
Ouvi todos os discursos desde Heloísa Apolónio até ao insignificante presidente que nos calhou em sorte. Chamar-lhe insignificante é ser educado porque nem merece este tratamento.
Como disse ouvi todos os discursos e julgo que ali houve troca de papéis. Certamente Carlos Abreu Amorim trocou o seu pelo de Cavaco Silva. Só pode ter acontecido isso! 
E, como Cavaco Silva anda ché-ché - não sou só eu que o digo - nem deu pela troca e Carlos Abreu Amorim é como a mosca, pousa em qualquer merda, não esteve para preocupar-se com  o que lia.
É triste que se celebre o vinte e cinco de Abril e se feche os Palácios de Belém e de S. Bento ao público. Não era usual. Argumentam obras. Mas o motivo é outro. Esta gente não tem coluna vertebral e qualquer coisa lhes mete medo. Até do povo que os elegeu têm medo! Cobardolas.

Ele há dias assim que são o dia:

A gente diz "foi há 39 anos". Não é muito, é meia vida de um homem. Mas foi mesmo há muito, no outro século. Pouco antes, no abril anterior, em 1973, cinco bracarenses estavam na casa de um deles. A PSP bateu à porta e multou-os por não terem avisado da reunião. O 1.º Juízo da Comarca de Braga confirmou a multa. E no jornal República, corajoso, o jornalista Vítor Direito, corajoso, tinha de escrever crónicas assim: "Manhã de nevoeiro transforma a cidade. Não se vê um palmo em frente do nariz. Andam por aí uns senhores a prever "boas abertas". Mas o nevoeiro persiste." E no Porto, a comemorar o 31 de Janeiro, houve um comício no Coliseu. Um estudante ia a meio do seu discurso quando o representante do Governo Civil (cuja presença era obrigatória) se ergueu e disse: "O senhor cale-se!" O estudante meteu o discurso no bolso. E ainda em janeiro, mas em Lisboa, António José da Glória, da tabacaria na Alameda, frente ao Técnico, disse, enquanto servia uma cliente: "Ontem, lá houve mais bordoada entre estudantes e polícias." Um guarda da PSP, desfardado e também cliente, logo lhe deu voz de prisão. O sr. Glória foi a tribunal por "propagação de boatos". Veio nos jornais. E em fins de fevereiro, alguém escrevia, no Comarca de Arganil: "Que aconteceu ao boateiro? Ficava bem uma lição eficaz." Hoje é o 25 de Abril. Eu amo-o como se fosse ontem. Sobretudo por pequeninas coisas que me recordam que antes dele foi há mais de um século.
FERREIRA FERNANDES
Hoje DN

Wednesday, April 24, 2013

48 anos!


Quarenta e oito anos de opressão…
menos somente um mês e quatro dias!
Foram por conseguinte
dezassete mil e quatrocentos dias de opressão!
Quase meio milhão de horas vazias,
de violências, de injustiça e pranto…
nem sei como pudemos esperar tanto!

Foi um pavoroso e longo inverno,
uma ideia sombria que remota
quinhentos e setenta e cinco meses,
um verdadeiro inferno!
Meio século destilando gota a gota…
anos e meses…
semanas, dias, horas e minutos,
momentos infernais,
o mais fatal dos lutos
e eu, na minha angústia, quantas vezes
julguei até que não findavam mais!

Quarente e oito anos
de triste ansiedade,
de mágoas, decepções e desenganos…
tanto tempo de espera
por esta Primavera
que nos resistiu a libberdade!

17 de Agosto de 1974
Do livro “Poemas da Madrugada”
José Rosa Figueiredo 

O dia do milagre perfeito:


Olho para os rostos destes que nos têm governado e não reconheço neles qualquer semelhança com os nossos rostos comuns. Observem bem: abreviados, ausentes. As sombras que neles poisaram são repintadas de vigílias tétricas em que se arredaram o bater comovido do coração humano e o pulsar da mais escassa ternura. Como conseguem viver nesta miséria de fazer mal, de nos fazer mal? Têm-nos extorquido tudo e ainda querem mais, numa obscura vingança, cujo propósito decidido e inclemente é o de nos tornar infelizes.
Pobres sempre o fomos. O domínio de uma classe sobre as outras exige essa forma escabrosa de brutalidade. E sempre houve quem se prestasse ao papel de serventuário do poder. Mas leiamos a História e ela no-lo ensina a resistir e a combater. Vejam 1383, 1640, os Atoleiros, as Linhas de Torres, o 5 de Outubro, o 25 de Abril. "Salta da cama, Bastos; a revolução está na rua!" A Isaura beija-me: "Toma cuidado!" Andei por muitas, e ela demonstra, com serena apreensão, os receios que a assaltam. "Desta vez vou só escrever." Temos dois filhos, o terceiro nascerá em pleno festim da liberdade, atravesso a madrugada de Lisboa e as ruas já exprimem uma espécie de selvagem alegria. Foram despertas pela voz de Joaquim Furtado que, no Rádio Clube Português, avisa-as de que aí está "o dia inicial inteiro e limpo", por que esperávamos.
Chego ao jornal, o Diário Popular, claro!, e já lá estão o Corregedor, o Fernando Teixeira, o Abel, o Zé de Freitas, o Jacinto, o Magro, o Bernardino, o Zé Antunes. A tensão é muito grande, e o desassossego que se nos impõe torna os nervos numa teia reticular quase dolorosa. Olhamo-nos e vamos às nossas tarefas. Os telefones azucrinam, os telexes retinam, os gritos soltam-se. Correm as horas. Andamos, uns e eu, num vaivém entre o Carmo e o jornal. Até que a História retoma os seus direitos. "Zé", digo para o Zé de Freitas. "O fascismo caiu." As lágrimas corriam-nos. E ele: "Vamos lá ver, vamos lá ver." Céptico por muito ter visto e em excesso ter sonhado. Telefona-me, de Beja, o Manuel da Fonseca. "Vem para Lisboa! Caiu o fascismo!" Ele: "Eh pá! Eh pá! Eh pá!" Mais nada; não era preciso dizer mais nada. "Não te esqueças de mandar provas à Censura", avisa o Fernando Teixeira. E o Zé de Freitas: "Ó Fernando, nesta altura, a Censura já foi para a p... que a pariu!"
Onde é que eu estava no 25 de Abril? Onde devia estar: com os meus camaradas inesquecíveis, a ajudar a escrever um jornal exacto, infalível, jubiloso, exaltante e alvoroçado. Este número não foi visado pela Comissão de Censura.
Vocês, reverentes e autoritários, não têm nada disto, nem nada a ver com isto. Memórias de um dia que se não fazia noite, um dia elementar e tão claro e liso como um milagre perfeito.
BAPTISTA-BASTOS
Hoje no DN

Tuesday, April 23, 2013


No dia dezanove de Abril escrevi um texto aqui no meu blogue sobre os doze anos de Freamunde como cidade que se (devia comemorar!) comemorou nesse dia. Às doze horas, ouvi doze morteiros, quantos os anos que Freamunde tem como cidade. 
Nada vi, a não ser ontem, um amigo contar-me que o Grupo de Castanholas actuou no dia vinte e um, domingo, a celebrar essa data mas nada foi dado a conhecer à população de Freamunde. 
Aliás, chamou-me a atenção, para ver um cartaz exposto na montra de um café a noticiar a ida do Ensamble Vocal de Freamunde para actuar no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, nesse mesmo dia e, nada referia da actuação do Grupo de Castanholas da Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós.
Aquando da elevação de Freamunde a cidade houve alegria e festa rija por este acontecimento. Houve quem fosse contra. Os que gostavam de Freamunde como Vila. Já estavam enraizados e não é com facilidade que se esquecem sessenta e oito anos com esse estatuto. Por isso a sua oposição.
Mas o mais bonito disto tudo é que as instituições responsáveis que se deviam orgulhar por esse aniversário parecem envergonhadas. E, assim, vêm dar razão a quem era contra a elevação de Freamunde a cidade. 
Os jornais regionais, Imediato, Vale do Sousa e Verdadeiro Olhar, que de vez em quando trazem notícias sobre Freamunde, nesse dia nada disseram sobre o aniversário. É triste e dá pena.
Mas, como diz o povo! Temos o que merecemos. Mais uma vez constatamos que é um facto esse aforismo. Freamunde está a definhar a passos largos. É com amargura que vou ficando ciente desta triste realidade.    

Monday, April 22, 2013

Que a voz nunca lhe doa:


Deixei de ver o jogo de futebol entre Benfica e Sporting que a SporTv transmitiu na noite de domingo para acompanhar a “Opinião de José Sócrates” na RTP. Há muita gente que não o fez. Preferem o jogo da bola, as suas incidências, ouvir os comentadores desportivos que as nossas tevês nos impingem. Para todos os gostos e feitios. Intitulam-se comentadores desportivos mas estão ali para defender a sua dama.
Sim! Aqui também os há, ou seja, abundam e é ver o que mais adjectiva. Em certas ocasiões as direcções de programação das três televisões - RTP, SIC e TVI - deviam colocar na parte superior direita do televisor uma rodinha vermelha para quem optar por aquele canal estar avisado pela linguagem imprópria. 
Também acontece em jornais e blogues. Embora antigo segue um exemplo. Parece que os meios justificam os fins.
Ninguém critica e não reclama pelas avenças que eles recebem. Essas avenças fazem parte dos impostos que se paga para os audiovisuais. Falam com dor de cotovelo e só está certo o que dizem. A maioria das vezes perdem o verniz. Digladiam-se não se importando com a figura que fazem. O seu clube nomeou-o e há que defendê-lo até ao tutano.
 
Por isso e por outras prefiro outros programas. E, assim, aproveito para ver e ouvir a opinião de José Sócrates. Foi o que aconteceu mais uma vez. 
Ao contrário dos comentadores desportivos se tiver que estar em desacordo com José Sócrates revelo-o. Mas até hoje o que ali diz tem sido uma realidade. 
Há quem o tenha criticado por dizer que a atitude de Cavaco Silva sobre o esquecimento do nome de José Saramago na feira do livro em Bogotá, Colômbia, foi humilhante e envergonhanteAqui veio outra vez a crítica ao termo usado.
O que se espera de quem foi pago para representar Portugal se esqueça de um Nobel da literatura portuguesa. Será que eles abundam em Portugal! 
Na entrevista que há dias deu à RTP usou a frase “narrativa” e a maioria dos comentadores ironizou. Mas, hoje aparece em todos os sítios e usada por esses mesmos críticos. Não me admira nada que envergonhante venha a ter o mesmo sentido.
Sobre a pequenez de Cavaco Silva apraz-me recitar o verso de António Aleixo: 
Eu não sei por que razão / Certos homens, a meu ver, / Quanto mais pequenos são / Maiores querem parecer.

O Ministro do "consenso":

Foi das conferências mais patéticas de todos os governos jamais vistas. Vieram anunciar medidas tomadas no Conselho de Ministros do dia anterior mas essas medidas foram tantas que é como diz o povo nos seus aforismos tradicionais: - “uma mão vazia e outra cheia de nada”. 
Por isso o alarmismo da comunicação social e a referência às “doze!” vezes que o Ministro, Poiares Maduro, teceu ao consenso. Para o haver tem que se dar contrapartidas e essas o governo foge delas. Nasceu na base da mentira e como tal quem mente não pode gerar consenso. 
Exibi aqui no meu blogue o vídeo da jogada e do golo do Lima, avançado do Benfica, no dérbi frente ao Sporting. Este vídeo estava a correr o mundo dado a antologia da jogada e do golo. Mas, eis que para surpresa minha a Sportv mandou retirar o vídeo reclamando direito de autor. Tudo bem!

Estas entidades vivem da publicidade que bloguistas amadores como eu lhes dão. Em lugar de se sentirem satisfeitos por essa mesma publicidade vem com o “lápis azul” reclamar o tal direito de autor
Depois um dia vem se lamentar que os consumidores lhes estão fugindo. Pudera! Quando tem procedimentos assim só recebem abandono e desprezo por parte desses mesmos consumidores. 
Ao divulgarmos o vídeo estamos a contribuir para a publicidade da Sportv. Somos um País de invejosos e por isso não saímos da cepa torta.
Volto à publicidade da jogada e do golo só com o áudio. Espero que mais nenhuma entidade venha reclamar os direitos de autor. O que de bom produzimos deve-se fazer eco. 

Sunday, April 21, 2013


No ano passado, no mês de Agosto, passei quinze dias em La Ricamarie, S. Étienne, França. Não foram muitos mas os bastantes para me certificar que tanto uma como outra são cidades auspiciosas embora diferentes no tamanho e no número de habitantes. La Ricamarie é muito acolhedora, muito limpa, com muitas acessibilidades e servida com vários tipos de transporte incluindo o combóio.
Fica a cerca de cinco quilómetros de S. Étienne o que faz com que os habitantes de La Ricamarie a frequentem com assiduidade. Foi o que aconteceu comigo e minha esposa que várias vezes ali nos deslocamos. Quer ao mercado (feira), como as daqui, onde há um pouco de tudo para vender principalmente frutos da terra (fruits de la terre). Além de ser bastante limpa uma particularidade que lá vi é que os ramos das árvores não ultrapassam para a estrada como acontece cá em Portugal. Em lugar de ver-se uma árvore redonda do lado da faixa de rodagem da estrada vê-se os seus ramos aparados o que dá o aspecto de ser rectangular.
Corri um pouco de tudo. Estive no Parque Europa e vi com é grande. Tem de tudo. Qualquer pessoa pode ali passar um dia sem ter gasto algum dinheiro. As crianças têm à sua disposição, um sem número de entretimentos. A vida nocturna não é muita, pelo que me foi dado constatar.
O meu filho, companheira e neto foram para ali viver e como emigrantes sentem-se bem. A adaptação por vezes traz muitas dificuldades mas com eles não se deu. O meu neto Diogo entrou para o ensino primário e lá se vai desenrascando como qualquer emigrante. Nas vezes que ia à padaria em La Ricamarie buscar a baguete de pão ele acompanhava-me para ser meu interlocutor e nessa altura tinha meses no ensino primário.
Fomos ao Stade Geoffroy-Guichard, pertença da Association Sportive de Saint-Étienne, França, muito acolhedor e bonito. É pequeno mas as suas infra-estruturas são enormes. É composto por campos de treino nas suas imediações e tem vários parques de estacionamento, ao ar livre
Tirei algumas fotos e filmei a entrada do estádio. Aliás, estava a tirar as fotos e a filmar, da parte de fora, nas imediações do estádio, fui logo convidado para entrar para junto das bilheteiras para dali poder fotografar melhor. Achei esse gesto simpático.
Por isso e mais coisas a simpatia que passei logo a nutrir por este clube e cidade. Também o facto de o meu neto simpatizar por este clube e a forma como seus pais ali se adaptaram leva a que os nossos gostos sejam iguais. É como se diz: - "quem meus filhos beija minha boca adoça". 
Por isso este texto sobre a vitória da taça da Liga de França ganha pela Association Sportive de Saint-Étienne Loire em louvor ao meu neto Diogo. 
Sei que vibrou com esse facto e por esse motivo enviou para o Facebook na página do Sportive de Saint-Étienne Loire a sua foto como amigo.
Parabéns à Association Sportive de Saint-Étienne Loire pelo feito alcançado.

Saturday, April 20, 2013

Do Blogues Crónicas do Rochedo:


Redacção do Zequinha: As Cabras

Era  uma vez duas cabras. Apesar de terem opiniões diferentes sobre o mundo, eram muito amigas. Uma delas odiava a Europa, mas era uma cabra teimosa, cheia de convicções, muito respeitada, até pelos seus inimigos.
A outra  cabra era mais esperta. Dizia que gostava muito da Europa  mas, além de caloteira, sofria do síndrome do Tio Patinhas: só pensava em dinheiro e queria guardar nos seus cofres todo o dinheiro dos pastos europeus onde se apascentava. Além disso, apesar de estar sempre a elogiar os europeus, roubava-os  para dar de comer aos seus  cabritinhos e encher os celeiros do pasto de ração.
A cabra que odiava a Europa um dia enlouqueceu … e assim morreu! Ao seu funeral vieram quase todos os seus amigos, mas também  cabras, cabrestos e cabrões de toda a Europa, que ela odiara em vida. Ninguém no pasto onde esta cabra era dona  e senhora respeitou o seu pedido para ser enterrada  sem o apoio do Estado, por isso fizeram-lhe um funeral com pompa e circunstância, que custou 12 milhões de euros aos cabritos que ela esfolou em vida. Dizem que foi uma cerimónia muito bonita, onde o Camarão lhe teceu rasgados elogios e leu poemas muita giros.
A outra cabra, apesar de amiga, não foi ao funeral , alegando falta de tempo, pois anda preocupada em matar mais uns milhares de presas, para dar de comer aos seus cabritinhos.
Eu não gosto nada de cabras, mas preferia a que morreu, porque ao menos tinha convicções e só roubava  ou  chicoteava quem  vivia no seu pasto. A cabra viva, além de outros defeitos, é uma grande caloteira.

Humor fim-de-semana:


“Três amigos à conversa”
O primeiro:
- A minha mulher é mesmo estúpida! Comprou uma moto e não sabe conduzir!
Outro:
- A minha é pior, comprou um carro e não tem carta de condução!
O último:
- A minha ainda é pior! Vai para o Brasil uma semana e comprou meia dúzia de caixas de preservativos! E nem pila tem!

Friday, April 19, 2013

Faz hoje doze anos:


Que a Vila de Freamunde foi elevada a Cidade. Vila desde treze de Junho de mil novecentos e trinta e três andou com esse estatuto até dezoito de Abril de dois mil e um. A dezanove de Abril desse ano ganhou o estatuto de cidade. Como em tudo há quem concorde e discorde. Era favorável se o progresso correspondesse a esse estatuto. Parece que com a elevação a cidade Freamunde parou no tempo.
Promessas e mais promessas e Freamunde não ata nem desata. Prometeram o arranjo do Centro Cívico e já vão uns anos que se alagaram as “lojinhas” e tudo contínua na mesma. Aliás! Pior. 
O abandono das pessoas do Centro Cívico é uma realidade e cidade que perde o seu centro é como uma pessoa perder o seu coração: morre. É o que infelizmente vai acontecendo. Faço estas críticas com mágoa. Há quem pense que sinto prazer. Nada de mais errado.
E, como prova disso, hoje relembro o aniversário de Freamunde como cidade. Não tinha efeméride alguma para descrever esse dia. Há tempos escrevi um texto - “Nasceu a menina” - aqui no meu blogue, do livro “CONTANDO 18 CONTOS” da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, texto esse de Rosalina Oliveira, uma figura de relevo da cultura Freamundense, o qual reproduzo neste dezanove de Abril de dois mil e treze.
Nasceu a menina:
“Martinho Ar-Azul era o mais pequenino dos suevos que residiam no lugar de S. Martinho, por entre pedregulhos e arbustos e águas do charco a reluzir ao sol. Vagueava sobre o céu azul, a observar o voltejar dos pássaros e as rãs que coaxavam, naquela poça namorada pelo sol e pela lua.
Às vezes, saltitava de pedra em pedra, ou aninhava-se junto das tocas dos grilos, fazendo-os vir à superfície. Ou olhava o céu imenso, envolvido na ternura do azul que lhe atravessava o peito e o fazia ofegar.
Era filho do suevo Águas-Limpas e da Celta Cor-do-Céu que se perturbavam com o seu aspecto, por vezes, meditabundo, a olhar o ar e o solo, como se não houvesse horizonte à sua frente.
- Pareces-me triste, Martinho Ar-Azul. Andas de lado para lado e não olhas de frente. Diz-me o que se passa contigo, meu menino - pediu a mãe num dia de Primavera dourada, ajoelhada numa rocha aborregada pelo Inverno.
- Ouve, mãe, eu vejo o nosso povo a descer para o vale, onde não há este céu aberto, a descer sobre nós. E eu não queria descer….
- Ainda ninguém te disse que nós também iríamos descer. Nós também apreciamos as alturas, o céu acariciante sobre nós, as pedras volvidas e fendidas pelos tempos e homens. Mas, pensa bem, a planura é mais fértil e mais ampla. Ali, há espaço para o cultivo das plantas e o apascentar dos rebanhos. Aqui, o vosso futuro está entalado entre os arbustos e o charco, entre a bruma matinal e o escurecer da tarde.
- Queres criar ovelhinhas para as matares, para lhes apertares as tetas e sorveres - lhes o leite? - Interrogou Martinho Ar-Azul, num tom pouco agradável.
- E de que vivemos nós? Já aqui há aquelas cabras grandes que nos fornecem os filhos e o leite, com que te fazemos crescer e ao teu irmão Lago-Mundus.
Martinho Ar-Azul olhou bem a mãe de frente, fez rodopiar depois os olhos pelos arbustos com uma lágrima já de saudade e pôs-se a olhar o vale, pejado de flores douradas, onde pousavam pássaros azuis e borboletas multicolores. Mergulhou um pouco em si e retorquiu:
- Mãe, a vida lá em baixo deve ser mais fácil, eu sei. E a vida tem de crescer como eu cresço e me vou mudando. Vamos também. Ensina-me a ajudar-vos a desbravar a terra, a cuidar dos animais, a vivermos melhor. O meu irmão já é crescido e eu sinto-o a afundar-se, neste charco de águas paradas.
Era à espera de um dia assim que estava a mãe. A partida não tardou. Fizeram as trouxas e assentaram num local plano, rodeado de flores, de cheiro a terra e a paz. Arrastaram e fizeram deslizar pedras graníticas com que ergueram a sua casa e enceraram panos de linho que copularam a ramos e folhagem, pregados com estilete de ferro aguçados nas pedras mais duras. Era o tecto dum ninho que prometia mais futuro… mais surpresas.
Mas só os três trabalhavam. Lago-Mundus perdia-se a conversar com uma garota vizinha, uma rapariga loira que o encantou com a beleza que irradiava. Chamava-se Natureza Frede. Os seus pais acolheram com simpatia os novos residentes que vinham cansados dos altos pedregosos e da monotonia dos dias sempre iguais. Ajudaram-nos a arrotear um bocado de terra, com o calor das suas mãos e do seu coração.
Natureza Frede encarregou-se de ensinar a Lagos-Mundus a pegar no sacho e juntos cavavam a terra e olhavam o horizonte que se lhes prometia, mais ridente e mais azul. Martinho Ar-Azul seguia-os enlevado, na ânsia de os imitar, no apego à terra e ao futuro.
Rolaram tempos e a atracçaõ entre os dois foi-se consolidando e evoluiu para um sentimento mais forte que não passava ao lado dos que os rodeavam. A decisão de juntarem as suas vidas não demorou, com o assentimento de todos.
Apareceu por lá um dia, um clérigo de seu nome Martinho de Dume que quis abençoar a sua união e ensinar-lhes o caminho de Cristo. Martinho Ar-Azul ficava petrificado ao ouvir as suas pregações cheias de ternura dos céus e da limpidez das águas.
Martinho de Dume tinha erigido, com os suevos que permaneciam no alto, uma pequena capela, reflexo dos ensinamentos que trazia de outras paragens e do amor que lhe inundava a alma. Fez as duas famílias subir até lá. Era, de novo, Primavera. Os grilos cantavam nas tocas e os pássaros esvoaçavam em cânticos doces, em torno das suas cabeças. Lá dentro, o clérigo deitou-lhes água sobre a cabeça e consagrou a união. Martinho Ar-Azul estava fascinado. Estava embevecido.
O tempo foi rolando até que, um dia de sol-pôr, Natureza Frede anunciou a sua gravidez, perante o júbilo de todos que almejavam o prolongamento das famílias. Houve palmas e o rufar dos tambores. Até as árvores pareciam vergar-se e associar-se à festa.
A menina lá veio à luz do dia. Tinha a tez muito branca e os olhos azuis, cor do mar sereno. Foi Martinho Ar-Azul que lhe preparou o berço, com a ajuda do clérigo, que continuava a passar por ali para os ajudar a compactar a sua crença num Deus único e lhes transmitir os ensinamentos necessários à sua evolução.
- Que bom termos descido para o vale! - confidenciava à mãe o filho mais novo. A brisa morna dos tempos fazia esvoaçar os seus cabelos e lá de cima, vinham os acordes dos ninhos em melopeias de azul.
- E tu andavas tão apreensivo! Só estávamos à espera que te desprendesses daquele sítio inóspito e sugerisses a mudança… - disse a mãe, a Celta Cor-do-Céu.
O diálogo é interrompido com a chegada alvoraçada do casal, com a filha ao colo da mãe.
- Está na hora de darmos um nome à nossa menina - avançou Lago-Mundus – gostaríamos que fosse tu a sugerir, Martinho Ar-Azul. Estás encantado com a tua sobrinha, serás o seu padrinho…
O rapaz quis ocultar as lágrimas de contentamento e tapou o rosto já acossado pelas barbichas de adolescente. De repente, como se um raio o tivesse iluminado, atirou ao vento, o resultado da sua reflexão.
- Já sei… é filha de Lago-Mundus e da Natureza Frede, juntam-se as duas partes e fica Fredemundus.
- Óptimo – rejubilou a mãe – será a nossa paz e a nossa protecção. Tem o azul do padrinho encravado na sua pele branca que o tempo jamais irá conspurcar.
O baptizado realizou-se na capela do alto, num dos dias que Martinho de Dume ali regressou. Tocaram os sinos melodias doces e os pássaros, mais uma vez, fizeram procissão nos ares, adejando as asas fortes. Eram acordes da paz e da protecção. A menina crescia cada vez mais bela, cada vez mais terna, cada vez mais resplandecente. O padrinho seguia essa evolução, com orgulho e grande alegria. Ele próprio se tinha tornado num moço esbelto, sempre sensato, sempre vigilante.
- Fredemundus é um nome bonito, mas considero-o difícil de pronunciar, com pressa. Se concordarem, vamos chamar-lhe Freamunde - aventou o rapaz, num dia de reunião de família.
Todos aceitaram a sugestão e foi com esse nome que cresceu a menina, de cútis sempre alva, a fazer resplandecer pedaços que rasgava do céu azul.
Podem encontrar Freamunde, hoje, por aí, a namorar os plátanos ou a banhar-se nas águas do “rio”. Será imorredoura no coração de cada um de nós e dos vindouros. É a princesa encantada que norteia os nossos passos. Acarinhem-na, ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens.
Ela vem do tempo para vencer o Tempo.
É o lúmen que vem de S. Martinho.”
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