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Friday, August 9, 2013

Juntos. Conseguimos:

Nada mais verídico. Mas de frases e intenções está o Inferno cheio. Acontece que na prática nada disto acontece. Se assim fosse, pelo menos aqui em Freamunde, não estávamos quatro anos sem Assembleia de Freguesia. Se “juntos conseguimos”, porque não se consegue remediar os vários problemas existentes em Freamunde! 
O jornal que foi distribuído na minha caixa de correio, referente à publicidade dos feitos da Câmara Municipal de Paços de Ferreira e, a quem fui buscar o título deste texto, traz várias referências às “benfeitorias” feitas por esta mesma Câmara Municipal no concelho e Freamunde.
Nelas mistura obras do governo como sua autoria. Noutros tempos teciam culpas e até ironizavam com a frase dita por Maria Lurdes Rodrigues numa Comissão de Inquérito na Assembleia da República que era uma “festa socialista”. 
Diziam que eram gastos sumptuosos e agora reclamam que essa obra é de sua autoria. Prova disso são as várias fotografias dos vários Centros Escolares e das duas Escolas Secundárias, existentes no concelho, a de Freamunde construída de raiz, a de Paços de Ferreira com beneficiações.

Não houve na era da democracia e, até acrescento mais, desde que Portugal é Nação, quem mais fizesse pelo Concelho de Paços de Ferreira como fez o governo de José Sócrates. Ou já se esqueceram do nome de rua ou avenida que deram a Manuel Pinho!
Freamunde tem a agradecer a José Sócrates o que fez por esta cidade e pelas centenas de alunos que assim não precisam de se deslocar para Paços de Ferreira para receber o ensino secundário. 
E, ironia das ironias. De todas as obras, adjudicadas ou feitas, pelo governo de José Sócrates, só foi convidado para inaugurar uma que nem foi adjudicada ou feita por si, nem pela Câmara Municipal, que foi a clínica da Radelfe. 
As que tiveram o cunho de José Sócrates foram inauguradas ou por membros deste governo ou pelo Presidente da Câmara ou presidentes de Juntas de Freguesia a que diziam respeito.
Se isto fosse referido no jornal de campanha da Câmara Municipal só honrava os seus dirigentes. Agora buscar méritos à custa de outros não fica bem a quem os reclama. Entendo que ser justo na política só beneficia e dignifica quem o pratica.
Depois só se relata o que se julga bom. Como isso não fosse o valor supremo de qualquer eleito para desempenhar essas funções. O contrário é que se tornava ridículo. Como é o caso de Freamunde. 
Fazem-se benfeitorias e passados vinte anos alaga-se tudo. Prometem-se obras rápidas e já passaram quatro anos e tudo continua na mesma ou pior. Parece as obras de S. Torcato: só que estas ainda não tiveram fim mas tiveram início.
As malfeitorias varrem-se para debaixo do tapete. Não encontro em nenhuma freguesia do concelho tão grande malfeitoria com a praticada em Freamunde. 
Nas imagens que apresento, não as podem varrer para debaixo do tapete como o que fizeram com a inauguração da Praça dezanove de Abril, quando Freamunde passou a cidade. 
Quiseram mostrar com pompa e circunstância o monumento ali erigido mas, tiveram que tapar com uma faixa de sarapilheira, pintada a verde, à cor dos cedros ali existentes, a imundice que ali estava. Ainda hoje podem atestar no que digo, só com a particularidade da faixa de sarapilheira ter sido “comida” pelo tempo.

O que não podem fazer com a degradação a que está exposto o coração da cidade. O Lago e a Fonte Luminosa desapareceram. As Lojinhas, deitadas abaixo. O Anfiteatro todo sujo e a pedra mármore toda partida e esburacada. Os muros que rodeiam estas obras, que no cimo eram revestidos a lousa, nalguns desapareceu ou está toda partida. Idem com os paralelos de cimento com que fomos brindados. Isto, como digo, no coração da cidade. E quando um coração se encontra ferido o resto do seu corpo definha-se com facilidade.
É o que vejo em Freamunde. Lentamente vai morrendo. Na sede de concelho nada disto se vê. Os passeios são em cubos de pedra e de alta qualidade. O mesmo se passa com a construção dos Parques de Lazer. O de Freamunde iniciou-se primeiro do que o de Paços de Ferreira mas, para este há dinheiro e, quase concluído, ao contrário do de Freamunde.
Outrora uma terra bastante visitada e concorrida onde a maioria dos habitantes das freguesias do concelho de Paços de Ferreira sentiam orgulho em frequentar. Quer a assistir aos jogos de S. C. Freamunde, ouvir a Banda de Música, frequentar os cafés ou passar boa parte do tempo nas várias tascas aqui existentes.












As fábricas e oficinas de móveis, quer em madeira ou ferro, a confecção de máquinas para a construção civil, camisarias, alfaiatarias de fatos de homem e mulher, comércio, em que vinha gente de todo o concelho incluindo Paços de Ferreira aqui abastecer-se. Dava gosto ver a azáfama nas ruas e comércio de Freamunde.
Por tudo isto éramos uma terra muito procurada para o abastecimento destes produtos, assim como nas feiras quinzenais que ainda se realizam, mas não com o vigor de há anos. 
O mudar de local levou as feiras quinzenais a perderem feirantes, consumidores e visitadores, que neste caso são um valor acrescentado ao evento. Quando devemos procurar proteger estes eventos, quer por casualidade ou por não haver um estudo, dá-se cabo do que custou anos e anos a criar.

Depois quem paga é o comércio tradicional e local. Há quem diga que o mesmo vai acontecer com as festas Sebastianas. Dizem que o seu espaço vai ser junto à Piscina Municipal e Parque de Lazer. 
Não me custa acreditar. Depois de ver o que fizeram com as feiras quinzenais fico com a impressão que querem banir do centro de Freamunde, a sua jóia da coroa. Uma terra quando se presta a fazer eventos deve procurar fazê-los nos seus melhores locais. Quando se convida alguém para nossa casa o local a recebê-lo não é na sala de estar? Não o vamos levar para os quartos de dormir!
Se juntos conseguimos e, se tudo corria bem como dizem, porque não concorre na lista do PSD, outra vez, o ainda Presidente da Junta de Freguesia de Freamunde?! 
Na amostra das obras aqui efectuadas porque não mostram o que está acontecendo com o centro de Freamunde?! 
Porque não mostram o plano de beneficiação para esse mesmo centro?! Quando começa e acaba?! Quando o final e a inauguração do Parque de Lazer?! 
Para quando a mudança do Quartel da GNR?! Para não ouvir, como há dias, que Freamunde não tem edifício de Junta de Freguesia. E… não posso retorquir porque é verdade.

















Agora o que prevejo é uma luta aguerrida como há quatro anos. Mais desentendimentos e Freamunde a continuar na mesma. E quem ganha com isso?! A Câmara Municipal porque enquanto o “pau vai e vem folgam as costas”, que o mesmo é dizer, que o que se devia investir aqui investe-se em Paços de Ferreira. Depois dizemos todos orgulhosos: Freamunde é uma “nação”. 
Porque desde a era da democracia, em vários mandatos, tivemos dois “freamundenses” a Presidente da Câmara. 
E… eles diziam para o Presidente da Junta de Freguesia de Freamunde. Não posso revindicar obras para Freamunde senão dizem que só tenho olhos para Freamunde! 
E… enquanto isso vamos cantando, rindo e dizendo: o Presidente é nosso o Presidente é nosso.

"Vira o disco e toca o mesmo"

Esta terra já não tem
nem sequer água na Praça!...
Temos que arranjar um trem
p´ra correr com esta raça.

Eu não sei se é por capricho
ou por não saber mandar,
mas p´ra nós é só lixo
que nos quer aqui deixar.

Vêm aí as eleições
e esses ditos pimpões
já andam aí de novo

Com a saca das esmolas
p´ra nos comer por anjolas...
não vás em tretas meu povo!

Versos autoria: Rodela 

Thursday, July 25, 2013

«O Mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança»

(António Gedeão)

"Creio que nenhuma outra época tenha sido mais cruel para com os seus velhos que esta em que vivemos. A geração a que pertenço, e que tentou dar forma à glorificação da eterna juventude, envelheceu e foi varrida como lixo. Hoje, reformados em reservatórios de velhos ou em qualquer banco de jardim, aguardamos pacientemente o fim que se anuncia longo mas penoso: longo porque conseguimos com sucesso erradicar muitas das maleitas que nos fariam morrer mais cedo, penoso porque ameaçam não mais sequer nos ouvir. 
Todo o “saber de experiência feito” que acumulámos, o único saber que não se pode aprender nas carteiras das escolas nem nos bancos das universidades, senta-se agora nas cadeiras de jardim ou é prisioneiro das camas articuladas dos lares da terceira idade. 
A eterna juventude fala por mensagens que não sabemos enviar nem receber, comunica por celulares que não conseguimos operar, trabalha por computadores que não logramos decifrar nem acionar e que parecem conter todo o saber acumulado digno de registo. 
Nós, a quem chamam info-excluídos, sabemos que o Mundo não cabe dentro dessas máquinas diabólicas e por isso somos rejeitados ou mesmo descartados: o “saber de experiência feito” não está dentro das máquinas. 
São máquinas que não pensam, ao contrário do que eles pensam, que não raciocinam, ao contrário do que eles julgam, nem têm capacidade para processar tudo o que há de mais importante neste mundo: o factor humano! Mas são tão rápidas a somar zeros e uns que até parecem que pensam e por isso fascinam… 
A “verdade” de hoje passa por estas máquinas que nós próprios criámos mas que, conscientes das limitações que sabemos terem, apenas utilizámos como nossos auxiliares. 
Hoje, a sua deificação faz com que só quem tem o privilégio de as compreender possa ser incluído no maquiavélico sistema criado à sua sombra, a que nós já não pertencemos. 
De nós pouco sabem porque não nos podem seguir pelos telemóveis, não nos conseguem espiar pelas contas dos cartões multibanco, nem nos registam nas portagens das autoestradas. De alguma forma não nos controlam e por isso somos obsoletamente adversos e incómodos ao olho do “Grande Irmão”! 
É também por tudo isso que o actual sistema prefere os jovens: a sua candura torna-os menos avisados a perigos que já conhecemos. 
A minha é a geração da Guerra e dos refractários do Vietname, do Klu-Klux-Klan, do Flower Power e dos Black Panthers nos EUA, do Maio de 68 em Paris, da Primavera de Praga e da invasão soviética, da dessacralização do comunismo na Europa, do despertar dos longos colonialismos na África e na Ásia e da queda do apartheid nos Estados Unidos da América e na África do Sul. 
Por cá, a minha é a geração da Guerra Colonial, do combate ao fascismo, do 25 de Abril e da libertação de Portugal e das Colónias. A minha é a geração de tudo isto e de muito, muito mais! Chamavam-nos então idealistas e sonhávamos com um mundo sem grandes discriminações, sem grandes desigualdades, sem Grandes Guerras. 
Para isso tinham nascido a ONU, a UNESCO, a Conferência dos Não-Alinhados, a Organização de Unidade Africana e até a Comunidade Europeia, mas também a NATO e o Pacto de Varsóvia. O mundo encontrava-se dividido a partir de Berlim e nós só tarde nos demos conta de que, mesmo algo trôpega, essa divisão nos dava alguma margem de manobra. 
Hoje, o Mundo já não está dividido e a margem de manobra diminuiu. Já ninguém se questiona se haverá outras fórmulas possíveis de sociedade nem se defendem já ideais ou ideologias. Esses ideais, ao que parece, ficaram residentes na minha geração e em alguns jovens rebeldes e refractários a esta paz mole e quase abjecta que hoje nos querem vender como única verdade. As ideologias passaram a ser amaldiçoadas como peçonha e ninguém parece interessado em repegar a sua discussão. 
A minha geração sabe contudo, de saber de experiência feito, que elas são imprescindíveis à construção de futuros mais coerentes e de sociedades mais justas. Talvez seja por isso que hoje nos tratam assim! De alguma forma, é a minha geração que assim se trata; de alguma forma, é a parte da minha geração que sempre negou o valor dos ideais e das ideologias, que hoje gere, triunfante, o Mundo tendencialmente abjecto em que vivemos. 
Este é o Mundo moldado por eles, à sua imagem e semelhança e tendo como única “ideologia” a maximização do lucro de poucos, que eles pretendem legar aos seus descendentes. 
Para isso, precisam que todos os outros nem sequer questionem a possibilidade de outras verdades, a possibilidades de ideais, a discussão sequer de uma ideologia. Eles pretendem deixar de herança, tal como todos os tóxicos que criaram - resíduos, produtos financeiros, paraísos fiscais, tráfego de drogas, influências e armas - esta sociedade, também ela venenosa. 
É por isso que nós, enquanto memória do tempo, memória do Mundo, memória da Humanidade, lhes somos uma verdade incómoda. 
É por isso que a idade deixou de ser um posto e passou a ser uma incomodidade! É precisamente por isso que a idade terá de reassumir o seu verdadeiro papel e dimensão: o papel de memória e de saber de experiência feito. 
Há que ouvir os velhos e perceber que neles reside apenas o essencial, uma vez que já esqueceram tudo o que aprenderam, e se lembram só de tudo o que viveram. 
Resta ainda a esperança e a tranquilidade de saber que esta cultura só se transmite de avós para netos e que, assim sendo, nem tudo está perdido. 
Esperemos que seja possível, desde os bancos dos jardins ou das camas articuladas, no longo tempo de que ainda nos permitimos dispor, passar a palavra que alguns não querem que passe, e assim fazer pular e avançar o Mundo, «como bola colorida, entre as mãos de uma criança»."
(Fernando Pinto via Facebook)

Saturday, June 8, 2013

Esta é a história de quatro personagens chamadas: Todagente, Alguém, Qualquer Um e Ninguém.
A qualidade era um serviço importante a ser feito e Todagente estava certa de que Alguém o faria.
Qualquer Um podia ter feito.
Alguém ficou zangado com isso porque era um serviço de Todagente.
Todagente pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém percebeu que Todagente não o faria.
No fim, Todagente culpou Alguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um poderia ter feito!!!
Moral da história: Transportem-na para os nossos políticos e aí a tem.

Thursday, June 6, 2013

Um Nome. Freamunde: (5)

Sebastianas
"Fazem parte da alma genuína da freguesia. E dizer que sem elas a terra ficaria meia viva a caminho de meia morta é já a evocar o passado histórico da muita "fome, festa e guerra" que certamente está na origem do extraordinário culto prestado aqui na região a este Santo Mártir. Festa maior que todas porque na sua origem esteve certamente a cultura popular. A ela vamos. Também ao saber popular. 
Com sabor a camélias de várias cores a atapetar o chão ao "martele" os provérbios e as rezas nas bocas transmissoras de mais idade. E tudo imbuído de mentalidade mágica à mistura com as influências clericais vindas dos meios urbanos e que aqui não conseguiram vencer resistências rurais e ancestrais. Então, a festa cria espaço e movimento, razão e pretexto, onde intervinha o corpo e a voz. O passear profano e a procissão das imagens. O afastar dos males, dos olhados, ou trazidos pelos ares. Nos dias antes o caminhar à noite ao oratório do Santo a quem se repetia sem cessar:

Ó Sebastião bendito
Livrai-nos do mal da peste
Dai forças para imitarmos,
Os exemplos que nos destes...

Já poucos se lembram dos tempos horríveis das pestes que dizimaram a região durante os séculos XV, XVI, XVII e até muito depois. Notícias da época dizem que a vizinha freguesia de Carvalhosa foi atingida.
Freamunde tê-lo-ia sido também. É bem certo que o sistema administrativo em vigor desde D. João I previa que todos os habitantes do Termo do Porto, em troca do muito que tinham de dar ao alargamento da cidade, deveriam ser socorridos pela Câmara do Porto em qualquer destas situações graves de peste e fome... Mas também é certo que ninguém disso se fiava. Faltava o pão, faltavam as mezinhas, os medicamentos e os sangradores não vinham. Eram caros e já por então o estado pagava mal. Os açambarcadores pairavam como abutres e de nada valiam as tabelas de preços e as fiscalizações dos almotacés.
Mais valia confiar em Deus e nos Santos mais acarinhados e chegados... E aqui todos estariam de acordo. Pedir aos Santos sempre foi mais económico e incomodou menos as autoridades.
Capela de S. Francisco
Daí votos e promessas, individuais e colectivas. Daí o enorme culto ao mártir trespassado. Daí a construção muito provavelmente ainda no Sec. XV duma capela a São Sebastião ainda no lugar mais antigo de Freamunde de Cima. A capela ainda aparece documentada em pleno Sec. XVIII, ao tempo de D. Joao V, quando o padre Lucas Ferreira respondeu aos inquéritos paroquiais. O pequeno templo foi demolido para dar lugar à Capela de São Francisco. A imagem, porque afinal a imagem vista, sentida, tocada, passeada, ornada, que era a fé do povo, recolheu à Igreja Matriz.
Igreja Matriz 
O nome de São Sebastião, esse ficou ali em Freamunde de Cima e na memória do povo que por vezes é mais sensível ao que realmente vale. Ninguém saberá porquê, mas ao que parece, essa mesma imagem foi parar ao Hospício contíguo à capela de São Francisco. Diz quem a viu e sabe dessas coisas e muito carinho lhes tem, que a imagem é datada do Sec. XV, ou pelo menos do sec. XVI.
Na actualidade as festas são grandiosas, mas muito intrometidas já pela cultura urbana ressentido o seu sabor primitivo para as vias de extinção.
Aparecem os carros alegóricos, alegorando ideias novas e nem sempre inteligentes, Os bombos, os Zés-Pereiras, os Gigantones e os Cabeçudos e principalmente os Ruidosos Foguetes e as magníficas Vacas de Fogo.

Aparecem os romeiros e os comerciantes, os pícaros e os foliões, os pagadores de promessas e os que de tudo se riem.
Felizmente ao povo de Freamunde nunca faltou o bom gosto de fazer chegar aqui as mais importantes Bandas de Música e até o melhor folclore. Felizmente!"
Fim

Wednesday, June 5, 2013

Um Nome. Freamunde: (4)

            Albino de Mato

Indústria
"Notícias, há-as da produção de mel e cera, aliás como em todo o Portugal como referia Duarte Nunes de Leão ao escrever que dele era tanta "a cópia" que bastava a população e ainda se exportava.
Nos finais do Sec. XVI já não seria tanta a produção dada a tendência de incluir o açúcar na produção de alimentos, particularmente na doçaria de que a região era rica. E ainda é.
Quanto a cera era de longa data essencial à iluminação. Cera e cirios produzidos em todos os ovados e honrados pela festa da Senhora das Candeias pelo dois de Fevereiro.
Outra produção importante para a economia era a do linho de que se "faziam as delgadas e finas linhas e de maior alvura que há em todo o universo" exagerava um tanto Duarte Nunes de Leão. A qualidade dos linhos era tal que muito dele se exportava, através dos mercadores do Porto que aqui os procuravam com regularidade. Com a produção do linho, a arte de fiar e tecer impunha-se em todas as aldeias.
O quadro completava-se com a exploração dos moinhos de água, os fornos, alguns colectivos, tal como os lagares para a feitura do vinho e uma ou outra saboaria.
Uma referência à arte de tanoaria que nas zonas do litoral andava a par com a produção de conservas de peixe em sal e que na nossa região se destinava ao armazenamento de vinhos e a produção de louça doméstica vária para líquidos.
Tanoeiro havia-os em todas as aldeias. Nem todos seriam grandes artistas se atentarmos que se chegou a obrigar os artistas a marcarem as suas obras por forma a que se distinguissem os bons dos maus.












A arte de tecer
Destaque para a descrição que o Dr, João de Barros faz do imenso trabalho de mulheres entre Douro e Minho: "incansáveis tecedeiras e fiandeiras em que andam continuamente ocupadas." Tecedeiras e fiandeiras também da lã produto igualmente essencial à satisfação das necessidades domésticas. Tal como os ferreiros aos quais se pedia o fabrico de utensílios agrícolas e ferramentas domésticas, as mais diversas foices, foicinhas e enxadas, as facas, as tesouras, as esporas, as ferraduras, os candeeiros e as fechaduras das portas.












O Ferreiro e a sua forja
Igual função exercia os oleiros da região. Mesteres e profissões de artistas locais cujo prestigio não cessou de crescer desde os finais do sec. XV, a par com uma aturada fiscalização a que eram sujeitos por parte das autoridades concelhias. Muitos deles organizados em torno de associações profissionais ou integrando confrarias e irmandades as quais emprestavam algum brilho por ocasião da respectiva festividade anual.
Os produtos nem todos eram destinados ao comércio local. Os chamados "mesteres dos mantimentos de vender," encarregavam-se de os colocar na feira. Eram os padeiros, os carniceiros, os azeiteiros, os vendedores de lenha e demais regateiros e regatões quem de terra em terra procedia a respectiva distribuição. A distribuição era aliás um problema a que as autoridades regionais sempre estiveram atentas. A compra e venda de produtos permitia-lhes cobrar taxas. A passagem de mercadorias também. Do melhor ou pior abastecimento dependia também a acalmia das populações. O movimento seria por tal forma intenso que o próprio Frei Luis de Sousa diz que «toda a terra de Entre o Douro e Minho era feira contínua de comprar e vender e embarcar e mercadejar. Espaço económico para negócios. Espaço para convívio e festa. Espaço ainda para "arrecadar sisas e mais imposto».












Feira quinzenal em que noutros tempos os talhantes eram apelidados de carniceiros

O assunto de rendimentos para o estado, havia passado a Comendas que em si mais não eram que os sinais financeiros e económicos com que as famílias nobres ostentavam as suas riquezas. Tiradas aos rendimentos de Igreja, com autorização Papal dada a D. Manuel em 1496, são forma de pagamento de serviços prestados ao reino, sem que o tesouro e a Fazenda tivessem com isso quaisquer encargos.
Toda a região, de Freamunde a Penamaior, Frazão a Sanfins, foram Comendas da Ordem do Cristo. Passaram a Casa do Infantado e a reditos de outros nobres sejam eles Barbosas, Ferreiras, Botelhos ou Carvalhos.
Em todo o trabalho, a terra e a subordinação social eram o sistema. Como teia de relacionamento económico e social. Sistema que se reserva a propriedade primordial da terra para o rei e, através dele para os grandes senhorios deles dependentes. Por isso sistema de exploração de terra em que se dissociam trabalho e propriedade. Quem trabalha e não é proprietário e quem é proprietário e não trabalha a terra. A Casa do Infantado pertencia por inerência, às "jurisdições" e "Ouvidorias" dos povos. São os séculos de estagnação e dependência que só terminaram em 1836 com a criação do concelho de Pacos de Ferreira.
Durante todos estes séculos, só Freamunde parece destacar-se pelo dinamismo criado à volta das suas feiras. Dinamismo que lhe traz a criação de algumas unidades fabris. Todas pequenas no seu início artesanal, mas com destaque para a tamancaria e respectivos acessórios, para a latoaria, a fiação caseira e sobretudo o ferro forjado. Irradiando a partir dos centros feirantes, um comércio fixo a retalho enche-se de tudo e atrai a Freamunde gente das freguesias vizinhas. Mercadorias trazidas de todo o lado pelos Almocreves, homens sérios que por aqui passavam carregados com tudo, a caminho de Azurara. Com eles, as noticias, as inovações e a ventilação de ideias, algumas delas bem aproveitadas pelas gentes de Freamunde.












Almocreve a verificar a ferradura do cavalo

Por volta de 1940, novos voos, desta vez em torno da indústria do mobiliário. Não que se não produzisse antes toda uma gama de móveis domésticos, simples bancos, mesas de cozinha e cadeiras. Mas porque se criou a Fabrica Grande. Ali na rua do Comércio, estruturou-se em moldes modernos o que Albino Matos semeara desde os inícios do século. Excepcional pedagogo e inovador, começara por construir material escolar auxiliar para o ensino primário do país.












Vista aérea da (Fábrica Grande) Albino de Matos Pereira & Barros Lda.

Com êxito excepcional, desde as carteiras, os quadros, as caixas métricas, colecções de sólidos e formas geométricas, aos contadores. Em 1926 eram já duas as fábricas de material escolar a dar emprego em Freamunde e sobretudo a ensinarem a arte de bem trabalhar a madeira. A de Albino de Matos, sucessores Lda. e a Pereiras Barros e Ca. Ltd. 










Saída de operários da (Fábrica Grande)

De ambas se fez uma só fábrica, "dotada com todos os maquinismos necessários e com instalações que comportassem 600 ou mais operários, a fim de desenvolver extraordinariamente a nossa indústria e, construindo grandes séries de carteiras e demais mobiliário, poder baratear de tal maneira o artigo da nossa indústria, que jamais alguém pudesse concorrer connosco não só em qualidade, como também em preço."












Carteiras Escolares. Eram as usadas no meu tempo de escola

Por esse tempo o lema era: "Temos imitadores, mas não temos concorrentes."
E não tinham mesmo, até pelo empenho dado à formação profissional do maior empregador da região. Autêntica fábrica-escola, por ela passaram os pioneiros da indústria do móvel do concelho e da região.












Caixa métrica

Em 1945, na Fabrica Grande trabalhavam para cima de 500 operários, já bem especializados em todas as fases da produção. Este aspecto é relevante. Ali se trabalhava o vidro, os estofos, a colchoaria, a serralharia, a fundição, a pintura e o desenho de móveis.











Mesa operatória
Do mobiliário escolar, passou-se ao mobiliário doméstico, ao mobiliário hoteleiro, de escritório e hospitalar. De tudo se fez e bem de tudo se aprendeu nesta fábrica. Na década de sessenta, viu-se reduzida por grande incêndio, um primeiro sobressalto a que a conjuntura económica posterior acrescentou outros mais e mais difíceis de transpor. 


















Muitos dos operários que postaram para a fotografia. Ano de 1932

Mas não morreu e bem merecia um outro estatuto social e cultural, não só pelo seu património indesmentível como principalmente pelo seu imenso espólio que guarda ainda, autêntica tentação para que dela se volte a fazer escola-museu, integrada na região que bem precisa saber onde, como e porquê se tornou a capital do móvel.
Actualmente a freguesia cresceu e soube diversificar como poucas as suas iniciativas industriais, dos têxteis, das confecções, a indústria metalomecânica até aos produtos afins e acessórios dos tratamentos médicos e de uso hospitalar."
Continua

Um Nome. Freamunde: (3)

O rei não tinha quaisquer direitos
"Freamunde é hoje uma vila bem equipada ao nível escolar e de formação profissional. Nem sempre assim foi, se bem que tenha de registar-se um avanço relativo desde tempos que remontam ao Sec. XV. Segundo o investigador da história de Freamunde, Coronel Baptista Barreiros, numa época em que só o clero e nem todo, sabia ler e escrever, já Freamunde contava com um elevado número de gente alfabetizada a avaliar pelas inúmeras assinaturas registadas em todo o género de actas de Confrarias e Irmandades. Alguns dos membros das Confrarias eram "mestres de primeiras letras" já nos finais do Sec. XVII.
Parece também que se generalizou bem cedo o afã colectivo de aprender, quer em locais apropriados, quer nas casas particulares. Mais uma vez se tem de registar a enorme contribuição das várias Confrarias locais para a instrução e para a cultura e arte!
Religião e arte sempre andaram ligadas; sempre aquela foi mãe desta e esta filha do fervor religioso, que fazia exacerbar as mentes e os corações, tornando-se verdadeiro motor para o arranque da imaginação e sentido estético, sem o que a arte não existe. É no fechar deste círculo que em Freamunde aparecem os anónimos artistas que erigiram os seus templos, cinzelaram as suas pedras (com as cruzes do "Calvário Velho" e a esquecida, mas maravilhosa "Pieta" da desaparecida Capela do Senhor do Calvário), entalharam e douraram os seus altares, pintaram os seus retábulos, bordaram os seus paramentos ou simplesmente os adornaram em dias festivos. Dias de Arte perdida... Como o lendário escultor que se entregava a criar estátuas de fumo, cuja beleza se perdia em poucos instantes, também os artistas Freamundenses malbaratavam a sua arte, quando das procissões, na arquitectura dos seus andores, no imaginoso da sua figuração e, sobretudo, nos maravilhosos tapetes de flores cuja lembrança os anos vão apagando...
Todos de carácter religioso, os muitos festejos que em Freamunde se realizam ao longo do ano, comportam hoje, contudo, características profanas que muito os têm engrandecido.
Associações Freamundenses
Mas o Associativismo e a criação cultural passa por outros grupos de igual dinâmica: Uma casa de cultura (com sala de exposições, auditório e sala de leitura). Uma associação de Artes e Letras (A.A.L.F); com sede própria. Uma Associação Juvenil "Ao Futuro" (A.J.A.F). Uma Associação Musical, fundada em 1882. Uma associação de pais e encarregados de educação da Escola C+S. Um Clube Recreativo, fundado em 1926, com sede própria. Uma escola infantil de música, fundada em 3 de Janeiro de 1973. Um Grupo Teatral. Um Grupo Folclórico. Duas Associações mutualistas: (Associação do Seguro do Gado e Associação dos Socorros Mútuos). Uma associação humanitária: a dos Bombeiros Voluntários.
 
Associação de Socorros Mútuos Freamundenses.
Deste valioso lote associativo, só a "Associação de Socorros Mútuos Freamundense" se encontra, praticamente, inactiva, uma vez que os seus estatutários foram impiedosamente relegados e ultrapassados pelos modernos sistemas de assistência e previdência. Tem, porém, para os Freamundenses um valor sentimental enorme pelos serviços prestados à terra.
A importância da Associação
A importância desta velhinha associação era de tal ordem, que nessa época (fins do século XIX), a melhor credencial que um rapaz podia apresentar aos futuros sogros, no dia do pedido de casamento, era o cartão de sócio desta associação; e pais havia que os chegavam a exigir como condição "sine qua non" para o acto... Hoje, a velha associação ainda mantem alguma utilidade, pois serve, estatutariamente, de suporte jurídico a um Jardim de Infância e no seu salão chegou a projectar-se a construção de um Teatro de Bolso para o Grupo Teatral Freamundense (já efectivado).
No afã de angariar fundos para esta Associação, germinou o gosto pelo teatro em Freamunde.
Primeiro nas festas organizadas por Alexandrino Chaves, aí pelo início do século, depois, na década de quarenta com Leopoldo Pontes e mais recentemente, a partir de 1963 com a fundação do G.T.F.
O teatro deve já ao G.T.F uma enorme contribuição artística com encenações de alta qualidade cénica de muitos actores nacionais e estrangeiros.
Refira-se, porque importante para o conhecimento da etnografia local, as representações regulares da peça de Fernando Santos, uma figura singular de timoneiro do teatro em Freamunde.
Da sua autoria representa-se de tempos a tempos a opereta Gandarela cujos traços de raiz e força popular, mostram "coisas que o mundo tem, que, sendo do mundo, são também um pouco de todos nós..."
É uma preciosa continuidade de velhas tradições teatrais perdidas no tempo e de que a memória regista ainda os autos de "Adão e Eva," a "Dança do Menino", "A Perdição do Mundo' e outros de sabor profissional muito ao gosto medieval, como a "Dança dos Alfaiates" (todos juntos a matarem uma aranha), ou a "Dança dos Pedreiros" (com as desventuras do rapaz dos picos), tudo a lembrar as criações vicentinas.
A banda de Freamunde, fundada em 1822, regista actualmente 174 anos de actividade ininterrupta.
Tendo como actividade principal o ensino e promoção da cultura musical, orgulha-se de, da sua escola, terem saído grandes músicos, que integraram ou integram os quadros das bandas da GNR, Força Aérea, Marinha, PSP, RIP, Orquestra do teatro de São Carlos, professores nas Escolas Profissionais e artísticas de Viana do Castelo e Caldas da Saúde.
Da sua vasta actividade, destaca-se o facto de já haver actuado em todo o Portugal, de ter efectuado quatro digressões ao estrangeiro (uma a Espanha e três a França) a convite das comunidades Portuguesas e dos consulados respectivos.
Participou em vários concursos onde foi distinguida com diversos prémios, nomeadamente uma "Batuta de Marfim", uma "Batuta Encastrada a Ouro" e uma "Medalha de Ouro."
Em 1979, alterou-se a designação de Banda Marcial de Freamunde para Associação Musical de Freamunde, situação que se impunha pela polivalência que a instituição atingiu, nomeadamente no aspecto da formação.
Em Maio de 1992, viu reconhecido o seu trabalho em prol da cultura musical, com a prestigiosa distinção de "Pessoa Colectiva de Utilidade Pública" atribuída pela Presidência do Conselho de Ministros.
Em 6 de Novembro de 1995, recebeu das mãos do Exmo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira a "Medalha de ouro de Altruísmo e Mérito," como reconhecimento do seu papel insubstituível no campo da música e da formação.
"Entre a arte e a arte, já o tempo e o espaço da arte coexistem na estética de Quim Bica. Isto só porque um «saber» do «saber» se lhe escapa: o da arte dele próprio. Mas o artista sabe-o? Ou, por outro lado, em que grau ele passa a sabê-lo e, progressivamente, a ignorá-lo? Sejam porém quais forem as gradações em que gravitem as consciências criativa e contemplativa do pintor, a verdade é que na sua arte outros signos agem muito fora das semióticas regiões do seu alcance cognoscitivo. É de resto da grandeza desta extravasão e da situação estética daquelas gravitações que decorrem as medidas pelas quais as «ingenuidades» possíveis se nos apresentam.
O presente conjunto de esculturas, pinturas e objectos constitui a primeira tentativa de retrospectiva da obra deste artista de Freamunde. Na diversidade das técnicas que tem utilizado, o prodígio das suas criativas inquietações. Da madeira rendilhada ao livro de vidro, como balizas de um talento popular."
De um ensaio de Fernando Alvarenga
Publicado pela AJHLP em 1985
Continua:

Tuesday, June 4, 2013

Um Nome. Freamunde: (2)

Povoamento
"Toda a área compreendida entre o Douro e o Minho, dizem-no as fontes clássicas, era habitada por um povo de etnias aparentadas, denominado como Galaicos. Estrabão diz que no início se chamavam Lusitanos e que só a partir da ocupação romana se chamaram Galaicos, o que quererá mais dizer que a ocupação romana se limitou a integrar todos estes povoados na Lusitânia. Aqui então, a partir do Sec. V a.C. e até metade do Sec. II a.C., processa-se uma notável concentração de povoados com características comuns e que vulgarmente são conhecidos como cultura castreja. Aqui convergiram dois caminhos de povos, um deles pelo Norte e vindo do centro europeu, outro pelo Sul e vindo da área do Mediterrâneo. Ambas influências são detectáveis em formas resultantes da aculturação nesta região.
Nas colinas e montes que rodeiam e demarcam os campos de exploração agrícola, na Idade do Ferro, instalaram-se os Castros ou por outro dizer, pequenas comunidades organizadas em famílias extensas, ligadas entre si por fortes laços de consanguinidade.
Tinham origem continental estas pequenas comunidades, as quais traziam consigo uma nova civilização. Quando, bastante mais tarde, os Romanos aqui chegaram, foram estas povoações que encontraram e delas fizeram alguns relatos escritos, pelos quais podemos conhecer, bem como pelo espólio encontrado. Em certos Castros de maior dimensão e importância, a romanização trouxe-lhes o ordenamento proto-urbano, uma poderosa montagem de muralhas e alguns edifícios públicos. Não é ilógico pensar que tudo isso exigia já uma unidade organizativa à qual terá presidido uma figura militar bem representada pela estátua tutelar do Guerreiro de Sanfins.
Guerreiro de Sanfins
Essa unidade organizativa estender-se-ia aos castros vizinhos, aliás estrategicamente organizados em primeiras linhas defensivas de povoamentos dependentes. Vasta área que englobava Negrelos, Lustosa e o próprio Monte Córdova e seguramente os núcleos castrejos documentados nas actuais áreas de Raimonda, Freamunde, Ferreira, Paços, Frazão, Penamaior, Meixomil, Eiriz, Lamoso, Codeços e para a vertente de Santo Tirso, o Castro do Padrão. Esta fase terá terminado pelos meados do Sec. I d.C. Em Freamunde, o Castro dos Mortórios, repartido com a vizinha freguesia de São João de Covas, apresenta ainda alguns vestígios, poucos, que a destruição foi quase total. Restam indícios do sistema defensivo. Aí se encontrou em tempos uma ponta de punhal em bronze, actualmente depositada no Museu do Seminário Maior do Porto.
A presença romana terminou por desprezar este "habitat" demasiado guerreiro e agressivo, obrigando, ou atraindo núcleos populacionais para uma agricultura mais rentável e sistemática nas terras baixas e férteis. Os núcleos documentados passaram para Paços, Seroa, Frazão, Penamaior, Eiriz, Carvalhosa e Meixomil e Freamunde. São tempos de forte aculturação, de introdução de novas técnicas de cultivo e de profundo ordenamento jurídico da propriedade e afinal, duma nova cultura em sentido global. Os vínculos administrativos e económicos passam pela terra, e através dela para quem a possui em direito.
O aparelho do Estado, supra e regional, fazia-se representar por funcionários, prefeitos e seus legados móveis, fundamentalmente para questões de justiça, pois que para questões de impostos, aparecia o procurador. Mas no geral, o aparelho não se faria sentir com intensidade numa zona como esta, relativamente marginal aos principais interesses romanos. Desta forma, o autogoverno vigiado ao longe pela guarnição militar no couto mineiro de três Minas (V. Pouca de Aguiar), parece ter sido a forma administrativa vigente.
Os Suevos
A presença dos povos Suevos encontrou-se com formas de cultura que lhe eram inferiores. É sabido que, como no geral, respeitaram a situação encontrada, nos campos jurídico e administrativos (que aliás lhes eram desconhecidos), cedo se tornaram "amigos." Instalam-se junto a Braga, guardando seus tesouros e oficinas monetárias. O seu reinado na região, e sobretudo, o primeiro reino Católico. Surge pela primeira vez na história Ocidental uma aliança perfeita entre Igreja e Estado. Com eles o impulso de S. Martinho de Dume, e acima de tudo, a organização paroquial que enquadra as populações da região. O centro eclesiástico mais influente estava em Meinedo (Lousada). A organização religiosa das populações deveu-se à profunda acção evangelizadora de São Martinho de Dume que certamente fundou ou reestruturou muitas paróquias da região, entregando-se à protecção do seu homónimo São Martinho de Tours. Os núcleos paroquiais de S. Martinho (Freamunde de Cima) e Frazão, serão disso testemunho.
No aspecto administrativo, atidas a si próprias, as populações atravessaram séculos de relativa autonomia, à volta da sua paróquia e da sua igreja que era um lugar para tudo. Protegia de abusos normais numa sociedade em formação, organizava reuniões onde se discutiam todos os assuntos locais, era o mercado e até o lugar de divertimento. Sobrevivem no entanto, os esquemas administrativos e políticos das antigas cividades, territórios e conventos e a algumas das suas formas administrativas e judiciais se recorria em tempo de crise para assuntos de importância político-administrativa. Sempre no entanto, em contexto de autonomia regional. O centro político-administrativo do território envolvente estaria em Entre-os-Rios: o território chamava-se de Anégia.
Esta tendência ao autogoverno, acentuou-se com o abandono dos principais detentores de poderes (principais Bispos e detentores de terras) à aproximação dos muçulmanos. Os núcleos populacionais resumem a sua vida ao arcaísmo familiar da aldeia. As tradições e costumes locais são a lei.
Esta situação prolongou-se até às ocupações das terras envolventes por parte dos asturianos que procuraram com êxito, restaurar a autoridade eclesiástica necessariamente por sua iniciativa e com controlo na região. Não se terão preocupado tanto com a restauração de um poder civil administrativo e político coerente. E é de novo pela mão de fundações eclesiásticas que se inicia novo período de prosperidade, via melhor aproveitamento de terras cultiváveis da área do actual Concelho. Terras férteis e logo cobiçadas, que iam desde os vales do Tâmega ao Ferreira. À disputa pela posse das terras nesta área, acorrem as grandes famílias de entre o Minho, ricos homens e ordens monásticas e militares.
Desenha-se um novo quadro político-administrativo: A chamada então Terra de Sousa. É uma demarcação regional, de índole defensiva e autonómica em relação ao islão e ao domínio do reino de Leão. Grandes famílias nobres principalmente a dos Sousas oriunda da região de Baião e a dos Maias, todas elas por incumbências ou usurpação obtém direitos sobre terras e gentes, que transformam em "honras" de que usam e abusam, demonstrando a sua riqueza na construção dos seus Paços e na fundação de igrejas e mosteiros de família.
Neste sistema se enquadram as terras das actuais freguesias de Carvalhosa, Eiriz, Sanfins, Codeços, Lamoso e Raimonda. Era uma zona de altitude, preferida para habitação destas famílias nobres. As suas propriedades são objecto das inquirições de 1220. Os inquiridores começaram pelas terras de Portela, Carvalhosa, Lustosa, S.Feliz, Eiriz e Santa Cruz. Passaram de seguida a Lousada, Felgueiras e Aguiar de Sousa. Deixaram no entanto, claramente expresso que as terras referidas na primeira fase do inquérito, pertenciam ao Termo de Ferreira enquanto que as da zona sul do actual concelho, se chamavam do Termo de Aguiar de Sousa, com certo castelar defensivo em Paredes.
O objectivo desta divisão aparece claro à luz da intenção dupla de recuperar o que restava da privatização operada pelas grandes famílias senhoriais e era recuperável para os direitos e administração régia e também de enfraquecer a anterior hegemonia que exerciam em todo o Termo de Sousa. Aos nobres deixava-se o domínio das terras altas e pobres. À coroa régia, as terras baixas e férteis do Ferreira. Faltou força para tal incumbência. Novamente enfraquecido o poder central ao tempo de Sancho II (1223-1248), as grandes famílias se apoderaram das terras a sul. Servem-se de aliados poderosos: as fundações monásticas que perseguem o mesmo objectivo.
Tudo isto a exigir novas Inquirições que não tardaram, logo que se estabeleceu o poder central com Afonso III (1248-1279).
Neste segundo exame à face das terras, a área aparece dividida em dois Julgados, a cada um dos quais preside um juiz como representante da coroa: o Julgado de Refojos, com Seroa, Penamaior e Frazão, e o Julgado de Aguiar de Sousa com os restantes.
Ao Julgado de Aguiar de Sousa, passam a pertencer o anterior Termo de Aguiar e o Couto de Ferreira de que Freamunde fazia parte. Uma vasta zona. Também variada e de pleno interesse económico, com propriedade, vila nobre e régia e cujo centro preponderante era justamente Paços de Ferreira.
Os dois Julgados tomam o rio Ferreira por fronteira natural.
Nessas Inquirições, realizadas nas terras de Freamunde, entre Maio e Outubro de 1258, Martim Anes na qualidade de prelado da freguesia, jura que a terra era de herdadores e que os habitantes escolhiam o pároco para o apresentarem à confirmação do Bispo do Porto."
Continua
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