Mas o de trinta de Dezembro tem muito de especial. Mais a mais quando é o oitavo na “construção” de um homem. Sim! Que de pequenino se torce o pepino. E o Diogo vai sendo torcido para essa construção. Os primeiros anos fê-los em casa dos avós paternos. Ali soprava as velas - conforme os anos - do bolo que a avó “Bina” lhe confeccionava. Enchia o peito de ar e de uma assentada punha a sala às escuras. Quem passa por estas situações sabe que ao acender as velas apaga-se a luz eléctrica do local onde se esteja a festejar o aniversário. Seja na cozinha, na sala ou na garagem. As crianças sabem isso. E… regra geral, nestas situações gritam: aaapppaaaggggaaarrr aaasss llluuuzzzeeesss. É uma gritaria em uníssono. Depois cantam: Parabéns a você, nesta data querida, muita felicidade, muitos anos de vida / hoje é dia de festa vivam as nossas almas para menino Diogo uma salva de palmas / Tenha tudo de bom do que a vida contém, tenha muita saúde e os amigos também". / Hoje o Diogo faz anos. Porque Deus assim quis. O que mais desejamos. É que seja feliz!
Mas sabe bem ouvir e ver a alegria do aniversariante e convivas. Não se importam do bolo. O que querem é brincadeira. E em redor lá escolhem os jogos a jogar: Play Station, Legos, Monstros, Aéreos, Futebol, querendo aqui imitar o Cristiano Ronaldo e que o aniversariante regra geral tem de ganhar. É que se assim não fosse a festa ficava estragada.
Ao ver a realidade de hoje vou ao baú das minhas memórias e recordo a malga de café com um trigo de quatro cantos que a minha mãe oferecia aos filhos quando faziam anos. Tempo difícil e pobre. Para dar essa prenda as finanças semanais iam padecer. E para demonstrar essa pobreza nesse dia não se dizia, aniversário. Dizia-se: fazer anos. Hoje tudo é diferente. Mas… nestes últimos aniversários do Diogo quase que aposto que não se importava de ser uma malga de café com o trigo de quatro cantos e em casa dos avós paternos. Não pode ser por força das circunstâncias. Tem de ser em La Ricamarie, S. Étienne, França, sua segunda terra e Pátria. Quase que aposto que trocava todos os presentes a receber por poder celebrar o aniversário na sua terra (Freamunde) e no seu Portugal. Mas como a situação não o permite que tenha um melhor aniversário que os outros sete.
De certeza que não vai ter muitos miúdos para apagar as oito velas. Assim como não se vão sentar em redor e escolher os brinquedos. Mas de uma coisa estou certo. Vai ligar o “brinquedo” do seu pai para brincar e apagar as velas, não na presença real dos seus avós, mas na virtual, nessa coisa maravilhosa que se chama computador e internet. E assim os avós, tia e primo paternos vão estar a assistir ao sopro das velas dos seus oito anos. Que venham cheios de felicidade são os votos dos teus avós Manel e Bina, tia Sónia e primo Duarte.
E como não quero deixar passar esta efeméride sem dar a minha contribuição, embora a alegria na minha pessoa seja ténue e, pelo que constato, também na maioria dos portugueses. Assim, publico o vídeo “Alegria”, do Big Band, da Associação Cultural Recreativa Pedaços de Nós. Como disse a alegria é pouca mas é a forma de a comemorarmos.
Celebrava hoje noventa e três anos caso fosse vivo. Há um bom par de anos que deixou este mundo. Recordo-o com eterna saudade. Uma lágrima vem espreitar ao canto do olho mas envio-a logo à procedência. Dele só gosto de recordar as coisas boas. Os conselhos que dava a mim e aos meus irmãos. Sei que todo o ser humano tem virtudes e defeitos. Mas o meu pai tinha mais virtudes que defeitos.
Passou uma vida de sacrifício para criar dez filhos. Trabalhava como um desalmado. Mesmo assim o dinheiro ao fim da quinzena minguava sempre. Doze bocas a comer e vestir-se dava muito trabalho. A minha mãe - coitada, há um bom par de anos que não está entre nós - também ajudava no pouco que havia: acarretar cestos de terra para a construção de uma qualquer casa, na lavoura, no serviço doméstico na casa da D. Engrácia e depois a vender sardinha.
Nessa altura as sardinheiras eram mal vistas e adjectivadas. Dizia para minha mãe. Porque não desiste! E ela retorquia. Porque a vida não o permite. Há quem diga que quem vende a sardinha come a galinha mas como vês a nós não acontece isso. Por isso o meu labutar para vos proporcionar uma melhor alimentação. Compreendia isso.
Quantas vezes vi o meu pai a querer dormir e o efeito do clarão da soldadura para soldar os pés das carteiras escolares não o permitia. O esbagoar era constante. Não eram lágrimas pela miséria que se passava. Eram do trabalho a que estava incumbido. Se fosse das da miséria eram um nunca mais acabar.
O meu pai era um pacato trabalhador num país prudente como gosta João César das Neves. Também foi um cidadão obediente. Nunca viveu para além das suas possibilidades e a viagem mais longa que fez foi ir a Lisboa em serviço e esperar-me quando regressei do ultramar. E teve outra grande obediência. Foi a de estar poucos anos reformado. Parece que adivinhava que se vivesse mais anos ia ter alguém a criticá-lo. Por isso a sua verticalidade.
Estou a lembrar estes episódios e não sei se os meus irmãos estão de acordo. Mas como não sou pessoa de ir pôr um ramo de flores na sua campa em lembrança do seu aniversário faço-o com este pequeno e humilde texto. Bendito o dia vinte e quarto de Setembro de mil novecentos e vinte.
Afirmo-o com toda a certeza. Fui ao Calendário de mil novecentos e quarenta e seis para me inteirar do que afirmo. O motivo foi o seguinte: no dia quatro de Agosto desse ano os meus pais contraíram matrimónio. Como naquele tempo trabalhava-se de segunda-feira a sábado o casamento dos meus pais tinha que ser a um domingo. Se casar, para quem tinha fracos recursos, já se tornava numa aventura se fosse num dia de trabalho era-o mais porque naquele tempo não se podia prescindir de um dia de trabalho.
A Segunda Grande Guerra Mundial tinha acabado há meses. O Mundo passava por uma grande crise. Assim todo o tempo de trabalho era preciso para fazer face à vida. Por isso o meu rebuscar no calendário de mil novecentos e quarenta e seis que dia de semana tinha sido o quatro de Agosto desse ano.
Nesta foto falto eu e a minha irmã mais velha
Se meus pais fossem vivos, eu e os meus irmãos, estávamos a fazer-lhes uma singela festa de homenagem. Não sendo possível faço-o aqui. Não sei se os meus irmãos estão de acordo - julgo que a maioria está mas…, entre os outros nove, pode haver uma ovelha ranhosa - como o blogue é meu, assim como o tempo gasto neste texto, aproveito para falar um pouco deles.
Como disse casaram numa época difícil. Mas se não o fizessem, nunca o fariam, porque esses anos foram difíceis durante uma eternidade. Só a partir da década de sessenta é que as coisas começaram a não ser tanto. Não porque o País sofresse uma renovação. Mas por força da emigração e da guerrilha ultramarina.
Começou a haver falta de mão-de-obra derivado à emigração e aos muitos jovens que foram combater para África em “defesa da Pátria”. O meu pai nessa época já ultrapassava a idade do serviço militar obrigatório vigente e não tinha espirito aventureiro de emigrar. Era muito agarrado à terra assim como minha mãe.
A única vez que foram viver para fora de Freamunde tinha eu dois anos. Fomos morar para S. Mamede de Negrelos, já ali morava uma minha tia, irmã da minha mãe, e os meus pais para ali foram em busca de uma melhor vida. Não emigraram mas sim imigraram.
Só que essa imigração durou cerca de uns três anos. O não ouvir o sino da terra levou a que as saudades se tornassem cada vez mais sentidas e para isso só restou uma solução: o regresso à terra. E, assim fizeram.
Em Junho de mil novecentos e cinquenta e quatro viemos residir para o lugar da Bouça em Freamunde. O meu pai voltou para a fábrica de móveis de Albino de Matos Pereira & Barros como serralheiro civil.
As dificuldades continuaram assim como os filhos continuaram a nascer à média de um por cada dois anos. Até que se chegou à linda conta de dez. Não foram mais talvez porque a fábrica esgotou a matéria-prima.
Pelo meio tinha falecido uma de tenra idade. Naquela altura a meningite levou uma série de crianças. Também o Serviço Nacional de Saúde não existia. O que leva hoje a que sejamos dos países com menos mortes infantis.
Hoje dá-me para recordar os meus pais e transcrever estas recordações em texto. Entendo que merecem esta minha recordação. Fomos uma família pobre mas rica no que concerne à união de família. Todos lutávamos para que a família cada vez fosse mais unida. Dificuldades havia-as a toda a hora.
Mas nunca fomos como os pobrezinhos das tias de Lobo Antunes e nem de brincar aos pobrezinhos de Cristina Espirito Santo. Éramos uma família pobre mas não uma pobre família. E, assim hoje recordo o dia em que meu pai e minha mãe deram o sim. E foi o sim até que a morte os levasse. Não é como hoje que à mínima crise conjugal vão logo para o divórcio. Não! Muita tempestade houve mas a nau conseguiu equilibrar-se sempre. Só é pena não ser de viva voz a felicitar-lhes o aniversário e de dizer-lhes que valeu a pena trazer ao Mundo este rancho de filhos. Por mim o digo. Ps - Passado um dia de publicar o meu texto deparei com esta maravilha.
Aos que se solidarizam com o aniversário do blogue “Coisas que podem acontecer” - Olinda de Freitas, Jorge Carvalheira, Carlos Barbosa de Oliveira, Francisco Clamote, Reis e Valupi, os sinceros agradecimentos do administrador do blogue: Manuel Pacheco.
Foi há três anos que tomei a iniciativa, depois de ser aconselhado por Valupi, administrador do blogue “Aspirina B”, que devia criar um para ali descrever os comentários e textos de opinião que ali debitava. Na altura achei que ia ser um “burro a olhar para o palácio” tal era a ausência de escrita a não ser umas participações ou inquéritos que tinha de realizar no serviço que prestava para o Estado como funcionário público. Mas o fazer uma participação ou um inquérito não é o mesmo que escrever um comentário ou texto. Assim via-me com dificuldade.
Havia muitos anos que tinha perdido a realidade da escrita e quando frequentei o ensino primário não passei do ABC. Mais tarde - homem feito - a expensas minhas, fiz o quinto e sexto ano, no mesmo ano, mas só aprendi o rudimentar. Portanto ainda continuava o “burro a olhar para o palácio”. Só que, “água mole em pedra dura tanto dá que até fura”, era o que ia acontecendo comigo. Criticado por uns, ajudado por outros, lá ia levando a “água ao meu moinho”. As críticas mais ferozes faziam mazelas. Mesmo assim, casmurro que sou, seguia em frente porque em frente é que é o caminho. Com isto não quero dizer que de vez em quando não vinha o desânimo. Vinha. E de que maneira!
Sabe-se que um blogue, para mais pessoal, custa muito a dar-lhe vida. Não é porque em Freamunde não abundem questões e temas a publicar. Há-os às carradas. Seja para enaltecer seja para o seu contrário.
Como não sou pessoa de intrigas cinzo-me ao que vejo e dentro das regras da boa educação dou conta delas aos meus leitores. Seja na Cultura, Desporto, Política, no dia-a-dia de Freamunde, para que Freamundenses que labutam por este País fora e pelos vários países deste planeta chamado Terra, tomem conhecimento dos eventos e feitos pelos seus conterrâneos. Sei que muitos ficam orgulhosos e agradecidos por lhes levar “novas”, que de novas, só são durante uns minutos, dado o avanço que têm levado os facebooks e internets.
Já estive ausente de Freamunde por várias vezes e sei dar o valor a esta nostalgia. Quantas vezes corria os jornais de ponta a ponta, a ver se ali constava alguma notícia sobre Freamunde, ou o próprio nome de Freamunde. Só às segundas-feiras nas páginas sobre o desporto é que lá vinha o nome do S. C. Freamunde. De outra forma não aparecia.
Assim hoje à “velocidade da luz” é-nos escarrapachado nos telemóveis, computadores, tabletes, ou em qualquer outro aparelho de informática, as mais diversas notícias. Por isso o meu empenho para que o blogue “Coisas que podem acontecer” leve notícias fresquinhas que, para isso todos os dias escrevo um texto, ou publico uma notícia sobre Freamunde ou sobre política.
Como disse há os detractores, mas para esses, o meu pensamento vai para a rábula da “raposa e as uvas”. Sei que sou lido em vários pontos do Mundo, desde a China, passando pelos países de Leste, a Rússia é um dos que mais leitores tenho, Estados Unidos da América, Brasil, Alemanha, França, Itália, Espanha, Angola, Canadá e até no Vietname, uma vez, por outra. Julgo que de Freamundenses a labutar por estes países. Disse um dia um Presidente dos Estados Unidos da América: antes de exigires sacrifícios da tua Pátria oferece o contributo que ela merece. E, assim é que devia ser. Houve pessoas que muito contribuíram para a ascensão de Freamunde. Conseguiram fazer de uma coutada, uma aldeia, depois uma vila e, hoje uma cidade, que em tempos primórdio se chamou Fredemundus. «(Frieden, Paz) (Munde, Protecção).» Mais tarde Freamunde. "Acarinhem-na. Ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens. Ela vem do tempo para vencer o Tempo."
Por tudo isto é que sou levado a dar sustento ao meu blogue. Para falar de coisas banais e coisas mais sérias. Tenho plena convicção que para mais não tenho jeito. Contudo faço o que acho útil para elevar o nome de Freamunde. Não o quero fazer com mentiras mas também com brejeirices. Assim vou expondo os meus pontos de vista. Se todos assim procedêssemos Freamunde estaria melhor. Não havia as guerras internas e ninguém se intitulava “dono da quinta”.
Podem crer que enquanto o “Coisas que podem acontecer” existir é para elevar Freamunde. Estes três anos foram difíceis e creio que outros mais difíceis vêm. Vou tentar resistir para levar aos muitos Freamundenses espalhados por Portugal e pelo Mundo a minha pequena contribuição.
Faz hoje cinquenta e três anos que comecei a minha actividade profissional. Tinha feito o exame da quarta classe - prova oral - no dia onze de Julho, por sinal, segunda-feira de festas da Vila, àquele tempo, e passados oito dias pela "mão" de Abílio Barros, sócio gerente da fábrica de móveis de Albino de Matos Pereira & Barros, dei entrada na secção de estofos para aprender a arte de estofador. Tinha onze anos. Naquele tempo não havia outra hipótese. Para seguir os estudos tinha-se que ter arcaboiço monetário e neste aspecto os meus pais não o possuíam. O único que tinham era a força dos seus braços para nos dar o sustento.
Foi nesta casa que nasci
Acontece que era o segundo filho mais velho, naquela altura éramos cinco e uma na barriga da minha mãe, que passado um mês do meu início de trabalho, resolveu vir cá para fora absorver do oxigénio com que nós respirávamos. Vim a ser seu padrinho o que já lá vai em cinquenta e três anos. Estas datas tenho-as gravadas na minha memória e gosto de relatá-las.
No domingo de festas Sebastianas andava a fotografar o tapete de flores por onde ia passar a procissão do Mártir S. Sebastião e ao passar à beira da casa onde nasci não resisti a fotografá-la. Há muito que andava para o fazer mas nunca se proporcionava. Por estas coisas sinto uma nostalgia que gosto de preservá-la. A casa está em ruínas mas é a casa que me deu vida. Sessenta e quatro anos, são muitos anos, quando para ali foram os meus pais, não a foram estrear. Começo por lembrar o aniversário da vida profissional e acabo a falar da minha primeira casa. Nós, portugueses, somos assim! Uns nostálgicos.
Os ABBA foi um famoso quarteto da Suécia, formado em 1972 em Estocolmo, que desfrutou de grande popularidade nos anos 70 e que ainda é muito conhecido hoje em dia devido a canções clássicas como "Mamma Mia", “Waterloo”. Esta canção ganhou em mil novecentos e setenta e quatro o Euro Festival da Canção. Interpretaram várias canções todas elas de grande sucesso. Em mil novecentos e setenta e quarto Walterloo andou na boca de quase todo o mundo.
Nas discotecas eram tocadas em gira discos – moda da época – nas feiras e festas em aparelhagens sonoras que em alto tom nos presenteavam com o Waterloo. Era e é uma música que entra bem no ouvido. Para quem na altura, – não havia Internet e informática – e não conhecia línguas estrangeiras não sabia que se referia à batalha de Walterloo. “A Batalha de Waterloo foi um confronto militar ocorrida a 18 de Junho de 1815 perto de Waterloo, na actual Bélgica, (então parte integrante do Reino Unido dos Países Baixos). Um exército do Primeiro Império Francês, sob o comando do Imperador Napoleão (72 000 homens), foi derrotado pelos exércitos da Sétima Coligação que incluíam uma força britânica liderada pelo Duque de Wellington, e uma força prussiana comandada por Gebhard Leberecht von Blücher (118 000 homens). Este confronto marcou o fim dos Cem Dias e foi a última batalha de Napoleão; a sua derrota terminou com o seu governo como Imperador.” Hoje, sete de Maio, abre o Museudedicado aos Abba. Não é qualquer conjunto ou grupo que durante anos ainda anda em voga. Quarenta anos é muito tempo. Bem merecem esta homenagem.
O grupo era composto por dois casais, Agnetha Fältskog e Björn Ulvaeus, e Benny Andersson e Anni-Frid Lyngstad. O nome do quarteto originou-se com a junção das iniciais do nome de cada um.
Ontem celebrou-se o dia da Mãe. Não tinha disposição e nenhum tema para dedicar à minha e a todas as Mães do Mundo. Hoje com disposição e com um vídeo tirado do Youtube dou seguimento a esse dia.
Aliás, todos os dias são dia da Mãe. Neste mundo conturbado e de crise nascem todos os dias crianças e como o nascimento é sinónimo de mãe por isso entendo que deve e é celebrado diariamente.
Ainda recordo o primeiro de Maio de mil novecentos e setenta e quatro. O vinte e cinco de Abril tinha sido antes uns dias. O povo saiu à rua e encheu esse dia primeiro de Maio. Esperou pela vinda de Mário Soares e Álvaro Cunhal. Recebeu-os como verdadeiros heróis. Os Capitães de Abril tiveram papel preponderante mas se não fossem estes dois Homens não sabíamos para onde ir.
António de Spínola, a quem os capitães confiaram o destino da Nação, tentou a todo custo entregá-lo à direita da qual faziam parte Sá Carneiro e Freitas do Amaral. Deram-se as convulsões de que os portugueses da minha idade bem conhecem: os atentados bombistas em que morreu o padre Max e sua secretária e um sem número de coisas.
A direita lutava afincadamente por esse tipo de regime que Spínola lhe oferecia. Só que o Conselho da Revolução tinha dentro das suas hostes homens como Melo Antunes e destituíram Spínola.
A vida continuou até que se chegou ao primeiro aniversário do vinte de Abril e do primeiro de Maio. E novamente no mesmo Estádio, com o mesmo nome, encheu-se de trabalhadores para festejar em liberdade esse mesmo dia. “Queriam lembrar a data que surgiu do protesto da classe trabalhadora contra o Massacre de Haymarket, acontecido em 1886 em Chigago (EUA), no qual policiais abriram fogo contra uma multidão de manifestantes em resposta a uma bomba lançada contra a polícia; que por supostamente haver lançado a bomba foram condenados à morte Georg Engel, Adolf Fischer, Albert Parsons, Auguste Spies e Louis Lingg, sendo que este último se suicidou para não ser enforcado; que em resposta a estas execuções, os trabalhadores de todo o mundo resolveram paralisar suas atividades todos os anos no dia Primeiro de Maio.”
Muitos primeiros de Maio surgiram. Uns com mais afinco que outros. Mas o capitalismo não dormia. E tentou tudo por tudo dividir a classe trabalhadora. E, conseguiu-o. Nada do que era se compara. O desemprego cresceu. Há quem se regozije com este infortúnio. A crise dá mais riqueza ao capital. É ver os lucros das grandes empresas.
Por isso o título hoje dedicado por um jornal ao dia do desempregado e não do trabalhador. Será que tem de haver um novo Massacre de Haymarket para que as coisas tomem outro rumo? As pessoas que amam a paz sabem bem que não. Mas com consensos como apregoa o governo também não resolvem nada. Pelo contrário só originam mais confusão. Mas governo que se diz só governa na confusão e calúnia. E nisto Passos Coelho estudou bem a lição de Salazar.
Faz hoje dez anos que nasceu o Grupo de Teatro Pedaços de Nós e levou à cena a peça “Um Fantasma chamado Isabel” de Miklos Marai. Assim, a Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós e Freamunde deram mais um passo na sua cultura.
Depois desta peça sucederam-se outras: Amor de Perdição; O Processo de Jesus; Don Ramon de Capichuela; Um Retrato de Almeida Garret; Uma Luz sobre a cama; A Ceia dos Cardeais e a Revista Freamunde de Ontem e Hoje.
Para uma Associação estritamente amadora em dez anos é muita obra. Pena que não seja correspondida pelos órgãos autárquicos com melhores condições de habitabilidade - mais tarde hei-de voltar ao tema - pelo facto da Associação Pedaços de Nós e o Grupo de Teatro estar sempre ao dispor da Autarquia de Freamunde e da Câmara Municipal de Paços de Ferreira quer em participações em Freamunde no concelho ou fora dele. Tem sido um esforço enorme de quantos englobam esta Associação e mereciam ser mais correspondidos.
Da parte do blogue “Coisas que podem acontecer” um bem-haja e não esmoreçam. Sei que há divisões entre os seus elementos mas nesta hora ninguém ganha com isso. A união deve subsistir para que outras forças não ganhem esta batalha.
No dia dezanove de Abril escrevi um texto aqui no meu blogue sobre os doze anos de Freamunde como cidade que se (devia comemorar!) comemorou nesse dia. Às doze horas, ouvi doze morteiros, quantos os anos que Freamunde tem como cidade.
Nada vi, a não ser ontem, um amigo contar-me que o Grupo de Castanholas actuou no dia vinte e um, domingo, a celebrar essa data mas nada foi dado a conhecer à população de Freamunde.
Aliás, chamou-me a atenção, para ver um cartaz exposto na montra de um café a noticiar a ida do Ensamble Vocal de Freamunde para actuar no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, nesse mesmo dia e, nada referia da actuação do Grupo de Castanholas da Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós.
Aquando da elevação de Freamunde a cidade houve alegria e festa rija por este acontecimento. Houve quem fosse contra. Os que gostavam de Freamunde como Vila. Já estavam enraizados e não é com facilidade que se esquecem sessenta e oito anos com esse estatuto. Por isso a sua oposição.
Mas o mais bonito disto tudo é que as instituições responsáveis que se deviam orgulhar por esse aniversário parecem envergonhadas. E, assim, vêm dar razão a quem era contra a elevação de Freamunde a cidade. Os jornais regionais, Imediato, Vale do Sousa e Verdadeiro Olhar, que de vez em quando trazem notícias sobre Freamunde, nesse dia nada disseram sobre o aniversário. É triste e dá pena.
Mas, como diz o povo! Temos o que merecemos. Mais uma vez constatamos que é um facto esse aforismo. Freamunde está a definhar a passos largos. É com amargura que vou ficando ciente desta triste realidade.
Que a Vila de Freamunde foi elevada a Cidade. Vila desde treze de Junho de mil novecentos e trinta e três andou com esse estatuto até dezoito de Abril de dois mil e um. A dezanove de Abril desse ano ganhou o estatuto de cidade. Como em tudo há quem concorde e discorde. Era favorável se o progresso correspondesse a esse estatuto. Parece que com a elevação a cidade Freamunde parou no tempo.
Promessas e mais promessas e Freamundenão ata nem desata. Prometeram o arranjo do Centro Cívico e já vão uns anos que se alagaram as “lojinhas” e tudo contínua na mesma. Aliás! Pior.
O abandono das pessoas do Centro Cívico é uma realidade e cidade que perde o seu centro é como uma pessoa perder o seu coração: morre. É o que infelizmente vai acontecendo. Faço estas críticas com mágoa. Há quem pense que sinto prazer. Nada de mais errado.
E, como prova disso, hoje relembro o aniversário de Freamunde como cidade. Não tinha efeméride alguma para descrever esse dia. Há tempos escrevi um texto - “Nasceu a menina” - aqui no meu blogue, do livro “CONTANDO 18 CONTOS” da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, texto esse de Rosalina Oliveira, uma figura de relevo da cultura Freamundense, o qual reproduzo neste dezanove de Abril de dois mil e treze.
Nasceu a menina:
“Martinho Ar-Azul era o mais pequenino dos suevos que residiam no lugar de S. Martinho, por entre pedregulhos e arbustos e águas do charco a reluzir ao sol. Vagueava sobre o céu azul, a observar o voltejar dos pássaros e as rãs que coaxavam, naquela poça namorada pelo sol e pela lua.
Às vezes, saltitava de pedra em pedra, ou aninhava-se junto das tocas dos grilos, fazendo-os vir à superfície. Ou olhava o céu imenso, envolvido na ternura do azul que lhe atravessava o peito e o fazia ofegar.
Era filho do suevo Águas-Limpas e da Celta Cor-do-Céu que se perturbavam com o seu aspecto, por vezes, meditabundo, a olhar o ar e o solo, como se não houvesse horizonte à sua frente.
- Pareces-me triste, Martinho Ar-Azul. Andas de lado para lado e não olhas de frente. Diz-me o que se passa contigo, meu menino - pediu a mãe num dia de Primavera dourada, ajoelhada numa rocha aborregada pelo Inverno.
- Ouve, mãe, eu vejo o nosso povo a descer para o vale, onde não há este céu aberto, a descer sobre nós. E eu não queria descer….
- Ainda ninguém te disse que nós também iríamos descer. Nós também apreciamos as alturas, o céu acariciante sobre nós, as pedras volvidas e fendidas pelos tempos e homens. Mas, pensa bem, a planura é mais fértil e mais ampla. Ali, há espaço para o cultivo das plantas e o apascentar dos rebanhos. Aqui, o vosso futuro está entalado entre os arbustos e o charco, entre a bruma matinal e o escurecer da tarde.
- Queres criar ovelhinhas para as matares, para lhes apertares as tetas e sorveres - lhes o leite? - Interrogou Martinho Ar-Azul, num tom pouco agradável.
- E de que vivemos nós? Já aqui há aquelas cabras grandes que nos fornecem os filhos e o leite, com que te fazemos crescer e ao teu irmão Lago-Mundus.
Martinho Ar-Azul olhou bem a mãe de frente, fez rodopiar depois os olhos pelos arbustos com uma lágrima já de saudade e pôs-se a olhar o vale, pejado de flores douradas, onde pousavam pássaros azuis e borboletas multicolores. Mergulhou um pouco em si e retorquiu:
- Mãe, a vida lá em baixo deve ser mais fácil, eu sei. E a vida tem de crescer como eu cresço e me vou mudando. Vamos também. Ensina-me a ajudar-vos a desbravar a terra, a cuidar dos animais, a vivermos melhor. O meu irmão já é crescido e eu sinto-o a afundar-se, neste charco de águas paradas.
Era à espera de um dia assim que estava a mãe. A partida não tardou. Fizeram as trouxas e assentaram num local plano, rodeado de flores, de cheiro a terra e a paz. Arrastaram e fizeram deslizar pedras graníticas com que ergueram a sua casa e enceraram panos de linho que copularam a ramos e folhagem, pregados com estilete de ferro aguçados nas pedras mais duras. Era o tecto dum ninho que prometia mais futuro… mais surpresas.
Mas só os três trabalhavam. Lago-Mundus perdia-se a conversar com uma garota vizinha, uma rapariga loira que o encantou com a beleza que irradiava. Chamava-se Natureza Frede. Os seus pais acolheram com simpatia os novos residentes que vinham cansados dos altos pedregosos e da monotonia dos dias sempre iguais. Ajudaram-nos a arrotear um bocado de terra, com o calor das suas mãos e do seu coração.
Natureza Frede encarregou-se de ensinar a Lagos-Mundus a pegar no sacho e juntos cavavam a terra e olhavam o horizonte que se lhes prometia, mais ridente e mais azul. Martinho Ar-Azul seguia-os enlevado, na ânsia de os imitar, no apego à terra e ao futuro.
Rolaram tempos e a atracçaõ entre os dois foi-se consolidando e evoluiu para um sentimento mais forte que não passava ao lado dos que os rodeavam. A decisão de juntarem as suas vidas não demorou, com o assentimento de todos.
Apareceu por lá um dia, um clérigo de seu nome Martinho de Dume que quis abençoar a sua união e ensinar-lhes o caminho de Cristo. Martinho Ar-Azul ficava petrificado ao ouvir as suas pregações cheias de ternura dos céus e da limpidez das águas.
Martinho de Dume tinha erigido, com os suevos que permaneciam no alto, uma pequena capela, reflexo dos ensinamentos que trazia de outras paragens e do amor que lhe inundava a alma. Fez as duas famílias subir até lá. Era, de novo, Primavera. Os grilos cantavam nas tocas e os pássaros esvoaçavam em cânticos doces, em torno das suas cabeças. Lá dentro, o clérigo deitou-lhes água sobre a cabeça e consagrou a união. Martinho Ar-Azul estava fascinado. Estava embevecido.
O tempo foi rolando até que, um dia de sol-pôr, Natureza Frede anunciou a sua gravidez, perante o júbilo de todos que almejavam o prolongamento das famílias. Houve palmas e o rufar dos tambores. Até as árvores pareciam vergar-se e associar-se à festa.
A menina lá veio à luz do dia. Tinha a tez muito branca e os olhos azuis, cor do mar sereno. Foi Martinho Ar-Azul que lhe preparou o berço, com a ajuda do clérigo, que continuava a passar por ali para os ajudar a compactar a sua crença num Deus único e lhes transmitir os ensinamentos necessários à sua evolução.
- Que bom termos descido para o vale! - confidenciava à mãe o filho mais novo. A brisa morna dos tempos fazia esvoaçar os seus cabelos e lá de cima, vinham os acordes dos ninhos em melopeias de azul.
- E tu andavas tão apreensivo! Só estávamos à espera que te desprendesses daquele sítio inóspito e sugerisses a mudança… - disse a mãe, a Celta Cor-do-Céu.
O diálogo é interrompido com a chegada alvoraçada do casal, com a filha ao colo da mãe.
- Está na hora de darmos um nome à nossa menina - avançou Lago-Mundus – gostaríamos que fosse tu a sugerir, Martinho Ar-Azul. Estás encantado com a tua sobrinha, serás o seu padrinho…
O rapaz quis ocultar as lágrimas de contentamento e tapou o rosto já acossado pelas barbichas de adolescente. De repente, como se um raio o tivesse iluminado, atirou ao vento, o resultado da sua reflexão.
- Já sei… é filha de Lago-Mundus e da Natureza Frede, juntam-se as duas partes e fica Fredemundus.
- Óptimo – rejubilou a mãe – será a nossa paz e a nossa protecção. Tem o azul do padrinho encravado na sua pele branca que o tempo jamais irá conspurcar.
O baptizado realizou-se na capela do alto, num dos dias que Martinho de Dume ali regressou. Tocaram os sinos melodias doces e os pássaros, mais uma vez, fizeram procissão nos ares, adejando as asas fortes. Eram acordes da paz e da protecção. A menina crescia cada vez mais bela, cada vez mais terna, cada vez mais resplandecente. O padrinho seguia essa evolução, com orgulho e grande alegria. Ele próprio se tinha tornado num moço esbelto, sempre sensato, sempre vigilante.
- Fredemundus é um nome bonito, mas considero-o difícil de pronunciar, com pressa. Se concordarem, vamos chamar-lhe Freamunde - aventou o rapaz, num dia de reunião de família.
Todos aceitaram a sugestão e foi com esse nome que cresceu a menina, de cútis sempre alva, a fazer resplandecer pedaços que rasgava do céu azul.
Podem encontrar Freamunde, hoje, por aí, a namorar os plátanos ou a banhar-se nas águas do “rio”. Será imorredoura no coração de cada um de nós e dos vindouros. É a princesa encantada que norteia os nossos passos. Acarinhem-na, ela vem dos pedregulhos e das lutas tribais, cansada do percurso e dos homens.