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Thursday, January 2, 2014

O presidente no seu melhor:

A mensagem de Ano Novo dita ontem aos portugueses pelo presidente da República é um bocejo. São seis páginas de conversa mole e desinteressante em que Cavaco Silva mostra como politicamente é: um monumento ao taticismo e ao equilibrismo, de modo a não chatear Deus, nem incomodar o diabo.
Ao dar uma no cravo e outra na ferradura, como diz o povo, o chefe de Estado mostra, por outro lado, toda a sua fragilidade enquanto ator político. Num tempo que reclama decisão e ação, o presidente da República escolhe a lassidão (política, claro).
Cavaco Silva está metido na trincheira que o próprio cavou quando, na crise do verão quente de 2013, tentou transformar um triângulo num quadrado, tese em que ontem insistiu, ainda que de maneira mais sibilina. A embrulhada do "compromisso de salvação nacional" foi de tal forma mal gerida e teve um tal resultado que, agora, o chefe de Estado não pode, sob pena de abrir o flanco, tecer um encómio ao Governo ou, ao invés, dirigir-lhe uma crítica mais severa - seria imediatamente acusado de estar a tramar Passos, por quem, como se sabe, não morre de amores.
Piscar o olho a Seguro é, igualmente, possibilidade fora de causa. A inversa também é verdadeira. Um elogio ou um ralhete ao líder do principal partido da Oposição seriam tomados como uma ajuda ao Governo e uma afronta ao PS.
É por estar metido nesta camisa de onze varas que o chefe de Estado nos presenteou com pérolas do seguinte calibre:
- "O desemprego manteve-se em níveis muito elevados". Ai sim?
- "Orgulhamo-nos de viver numa democracia consolidada". Viva!
- "No ano findo, surgiram sinais que nos permitem encarar 2014 com mais esperança". Consta que o comum dos portugueses ainda não avistou tais "sinais", apesar de redobrados esforços para chegar ao final do mês com os bolsos mais compostos.
- "Há que reconhecer o extraordinário esforço feito pelos nossos empresários e trabalhadores". Ai sim?
- "Há razões para crer que Portugal não necessitará de um segundo resgate. Um programa cautelar é uma realidade diferente". A sério?
Há um ano, o presidente da República mandou o Orçamento do Estado para o Tribunal Constitucional, por entender que os gigantes sacrifícios pedidos aos portugueses afetavam "alguns mais do que outros", facto que naturalmente lhe suscitava "fundadas dúvidas".
Este ano, apesar da violência da crise continuar a manifestar-se em todo o seu esplendor, Cavaco não esclareceu sequer se pretende pedir aos juízes do Palácio Ratton ajuda para descortinar eventuais problemas no Orçamento. A razão é simples: o presidente da República odeia, mas odeia mesmo, meter-se em (inevitáveis) problemas antes do tempo.
No JN de hoje

As pessoa não aguentam:

Sunday, December 15, 2013

Sunday, November 24, 2013

A esquerda e´ "indispensável":

Saturday, November 23, 2013

Entrevista de José Sócrates ao JN:

Friday, November 22, 2013

O vinte e um de Novembro:

Há dias que ficam perpetuados nos anais da história. Os portugueses sabem-no e pela maioria deles tem um carinho e um significado especial, pois como disse, não é todos os dias que a história os relata. Fez ontem um ano e uma semana que foi a greve geral com uma manifestação em frente à Assembleia da República. Houve dezenas de feridos e várias detenções. 
Todos os que assistiram aos acontecimentos ficaram indignados com a atitude de alguns manifestantes que ficaram ali a fazer finca-pé depois das Centrais Sindicais terem dispersado. O que se viu durante umas horas foi degradante. A PSP que ali fazia segurança foi insultada, ultrajada e agredida com pedras sem que para isso reagisse. Como disse fiquei indignado com o que estava a assistir. Pela inoperância da PSP e da brutalidade dos manifestantes. Quer queiramos ou não na democracia há formas de se manifestar. Assim como há formas de intervir. Se a PSP foi inoperante durante várias horas depois passou a ser à bruta porque batia em tudo a eito. Teve tempo de sobra para memorizar os autores de tal façanha. Quando a actuação, por quem a pratica, tem proporcionalidade nada disto acontece. Mas por vezes dá entender que gostam e aproveitam para molhar a “sopa”.
Ao contrário dos acontecimentos de catorze de Novembro de dois mil e doze os de ontem foram totalmente diferentes. Estavam frente a frente polícias e Forças de Segurança. Uns e outros tinham razão. As Forças de Segurança tinham e tem carradas de razão para se manifestar. Ali estava uma de quem fiz parte - Serviços Prisionais. Sei como eles sofrem no dia-a-dia e com falta de condições e cortes nos benefícios sociais. Também deles padeço. Embora esteja aposentado. Portanto compreende-se o seu descontentamento. Agora o que não se compreende é a sua actuação. O ultrapassar as barreiras de protecção foi uma má resolução. O virar as costas para a Assembleia da República acho uma boa ideia. Quem nos vira as costas merece o mesmo. Coisa diferente é a derrubamento das barreiras de protecção. Elas representam um muro. Assim como os condutores quando ultrapassam uma linha contínua não o devem fazer porque se forem apanhados são autuados o mesmo não o deviam fazer as forças de segurança: Dura lex sed lex. Com isto não estou a dizer que sou contrário às manifestações. Haja muitas por que motivos não faltam. O que se deve respeitar são as leis e a democracia. Às vezes julgamos que a estamos a defender e acabamos por dar cabo dela. Porque não falta quem se aproveite destas situações. E… eles estão vorazes.

Outro acontecimento que vem enobrecer o dia vinte e um de Novembro foi a Conferência na Aula Magna promovida por Mário Soares. Houve quem não gostasse. Nos fóruns das televisões e rádio não faltaram as dores de barriga. Alguns até disseram que está cadavérico. Outros dizem que devia estar calado porque roubou o País. Ainda outros dizem que devia estar a gozar a sua reforma e mordomias. Mas isso não é para Mário Soares. Qualquer um no lugar dele é o que fazia. Mas há pessoas que não suportam a tirania. E nós estamos a ser governados por tiranos. Gente sem escrúpulos. É desses que Mário Soares não suporta. Alcançaram os lugares, Presidência da República e Governo e esqueceram-se do prometido. Não respeitam a Constituição da República. Fazem de Portugal a sua coutada. E dos portugueses os seus criados. Por isso soube bem ouvir a onda de contestação da Aula Magna. As televisões deram só a abertura em directo. Cortaram a palavra a Carlos do Carmo e que lição de democracia estava a dar. Se fosse a Fundação Francisco Manuel dos Santos com o palrador António Barreto ou César das Neves não era interrompida. Depois ouvir Pacheco Pereira e os outros oradores fica-se com a ideia que a democracia vai vigorar por muito tempo. Haja assim pessoas. Que os fazedores das mentiras vão ter opositores. E que opositores.
Que este vinte e um de Novembro nos reponha a democracia que nos estão a roubar. Se no vinte e cinco de Novembro se defendeu a democracia porque não no vinte e um. Ou será que a direita quer ser diferente da extrema-esquerda.
Que Mário Soares perdure por muitos e muitos anos ao contrário dos jotas. Estes nada tem na cabeça. Ao contrário Mário Soares tem muita vida vivida e muita sabedoria. E é como o slogan ao vinho do Porto: quanto mais velho melhor.

Friday, November 15, 2013

Campanhas ao negro:

Gaspar fazia reuniões em off com jornalistas para dizerem em conjunto mal do Executivo anterior e cantarem loas à austeridade. Passos foi eleito na campanha interna do partido graças a um punhado de bloggers "especializados em desinformação" coordenados por Relvas, que também orquestrou a das legislativas; não teve estado de graça porque mal ganhou compensou todos (menos um?) com sinecuras, destruindo "a rede".
A primeira revelação é de André Macedo na sua coluna de ontem no DN, close-up de um ministro pintado pelos media como "um técnico puro" que afinal se desvendava em 2011, mal pegou ao serviço, como propagandista politiqueiro. A segunda efabulação é de um consultor de comunicação entrevistado pela Visão a propósito de uma alegada tese sobre "a importância da comunicação política digital na ascensão de Passos" e que assume a existência de campanhas negras contra o Governo Sócrates, com criação de "perfis falsos" no Facebook e no Twitter: "Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo."
Estes dois vislumbres sobre a génese e a natureza do Governo Passos têm, até pela credibilidade muito distinta dos emissores, valores diferentes. Do que o André conta anota--se não que um político quis trazer a si os media - qual o espanto? -, mas que os jornalistas lhe saltaram para o colo, entusiasmadíssimos com as "ideias" da troika/Gaspar. Daquilo que o consultor de comunicação diz, entre infrene autopromoção, falsidades e absurdos (como garantir que em 2009 os blogues políticos tinham 30 mil visitas/dia e que a net foi fundamental para as vitórias), ressalta a ironia de certificar que os apoiantes do atual PM, incluindo "jornalistas no ativo" que, aliás, nomeia, fizeram tudo aquilo que imputavam furiosamente aos do Governo PS. Vai ao ponto de asseverar que a sua "equipa de voluntários" tomou como modelo de atuação o blogue Câmara Corporativa, que acusavam (emulando Pacheco Pereira, autor da teoria) de ser feito e pago a partir do gabinete de Sócrates, "usando informação privilegiada sobre pessoas": "Não éramos anjinhos, sabíamos bem ao que íamos", diz, gabando-se de que o seu "grupo" recebia "filet mignon informativo" do PSD de Passos através de "um mail fechado".
Mas a ironia não fica por aqui. Ao mesmo tempo que clama ter participado em campanhas ínvias e negras para manipular os media e a opinião pública, o entrevistado da Visão repete a acusação de que o gabinete do anterior PM fornecia "informação privilegiada sobre pessoas" ao tal blogue, sem que a revista exija dessa gravíssima alegação qualquer prova ou sequer exemplo. Às tantas, o tipo é mesmo, como pretende convencer (ou recordar?), muito bom no que faz. Ou temos de concluir que, como afiança, vivemos num "caldinho jeitoso para isto."
FERNANDA CÂNCIO
Hoje no DN

Sunday, November 10, 2013

Saturday, November 9, 2013

Sondagem:

Se as eleições fossem hoje. Resultado de uma sondagem feita para a SIC e o Expresso pela Eurosondagem.

Thursday, November 7, 2013

O prometido é devido:

Os vinte euricos:

Cada professor, sem vínculo à função pública, que quiser candidatar-se à colocação numa escola no próximo ano letivo terá de pagar, no mínimo, 20 euros ao Estado. O que dizer desta enormidade, mais uma, com a assinatura do ministro Crato? Talvez colocá-la em corpo 16, talvez lembrar todas as outras ideias bestiais do mesmo autor. Por exemplo, o ensino dual, que podia ser uma boa solução pedagógica e económica, uma resposta às necessidades concretas do mercado de trabalho, mas que com o dedo rancoroso de Crato se transforma em arma de destruição da mobilidade social, castigo para alunos e famílias. Ou então recordar o corte profundo no orçamento do ensino público em 2013-2014, enquanto se aumenta o financiamento das escolas privadas e associativas. Ou, porque não, o fim da obrigatoriedade do Inglês no ensino básico, que acabou, em boa hora, por morrer no tinteiro ministerial.
Nuno Crato vai chamar o quê a esta coisa inacreditável? Taxa moderadora, para intimidar as candidaturas de milhares de professores desesperados e sem alternativa senão pagar os 20 euricos? Taxa de luxo, porque realmente é um privilégio ter trabalho - digo: candidatar-se a um emprego - num país com um milhão de desempregados e que assim ficará nos próximos anos? Ou talvez queira chamar-lhe simplesmente multa porque, para ele, quem hoje ainda insiste em ser professor não percebe, não entende que circula em contramão.
Permito-me, então, sugerir um imposto de selo, mas às ideias analfabetas do ministro que ambiciona ser fonte de receitas, não de conhecimento. Crato não quer ser despesa, é essa a sua pulsão dominante. Ele nem imagina o muito que está a custar ao país. Não são apenas as ideias incapazes e os métodos de guerrilha pessoal, são os muros que ele levanta a cada passo e que bloqueiam tudo à sua volta, em todas as áreas da governação, não apenas na dele.
O Ministério da Educação e os sindicatos de professores vivem hoje entrincheirados numa guerra suja. Talvez seja aqui, mais do que em qualquer outro ministério, que se torna mais chocante o grau de impreparação. As dificuldades financeiras tornam inevitáveis os sacrifícios, a poupança, a redução de professores. É verdade, não há dinheiro. Mas na educação exige-se mais, porque não se joga apenas o presente (isto é tão simples que até custa escrever...), determina-se o futuro próximo.
Crato não olha para a frente, olha para o chão, espezinha, suprime, humilha; e assim torna um pouco mais respeitáveis alguns dos sindicatos mais imobilistas que há em Portugal. Não tenho dúvida alguma: são restos do mesmo caldo, embora hoje o ministro se inspire no ar do tempo e no que ele julga serem as boas práticas do sector privado, o procurement, blá-blá-blá. O funcionário Crato não pensa, martela banalidades. O que sobra é isto: o ensino público transformado num vazadouro de lugares-comuns.
ANDRÉ MACEDO
Hoje no DN

Wednesday, November 6, 2013

Não deixem que vos roubem os sonhos:

Poucas circunstâncias fazem prever o que nos pode acontecer. No entanto, há sinais, porventura escassos e pouco nítidos, que ajudam quem estiver atento. Sei umas coisas destas coisas, e aprendi que não há nada que se consiga sem luta, e que não há luta sem sofrimento. Venho dos bairros pobres e do tempo em que os miúdos como eu jogavam à bola descalços, ou com umas sandálias que os nossos pais mandavam capear com restos de pneus. Os pés feriam-se com pedaços de vidros de garrafa, com puas ou com pregos enferrujados; as sandálias tinham de durar pelo menos dois anos. Havia apenas magras formas de enfrentar o destino: resistir ou abdicar dos sonhos. Resistir seria tentar aprender com leituras nas bibliotecas operárias ou escolares; abdicar era seguir o fadário das oficinas, das fábricas, do trabalho penoso de oito, dez e mais horas, ou entrar na gandulagem: roubar, assaltar, agredir para sobreviver.
Recordo-me de o meu pai a avisar: não permitas que te roubem os sonhos. Quis ser toureiro, pugilista, aviador. No fundo desejava fugir da tristeza viscosa daquela miséria. Dei nisto: num curador de frases, num cuidador de palavras que serão sempre as dos outros. O meu pai morreu à minha espera, assim como a minha avó, conhecida pela Palhaça. Um dia destes hei-de contar a história destas esperas, que contêm algo de sobressaltante e de misterioso. Um dia destes. Os meus filhos sabem--nas. Os meus netos têm de as conhecer.
O Velho Bastos era tipógrafo, construtor de jornais, levemente anarquista, grande jogador de póquer e de burro americano. Amava o ofício, com a paixão de quem não sabe fazer outra coisa. Na oficina do Diário Popular colocava um rolo de papel atado no abdómen, para não sujar as calças de tinta, e transformava os caracteres tipográficos em qualquer coisa de grandioso. Suava em bica e era um homem feliz, porque sabia a importância gloriosa do seu trabalho. Aos sábados ia com os seus camaradas beber e petiscar nas tabernas da Mouraria, onde o vinho procedia directamente do lavrador. Numa dessas tabernas, um papagaio gritava: já pagaste, sacana?, quando os clientes saíam.
Poucos conseguiram escapar àquele crisol de infortúnio. Que foi feito do Descasca Milho? E do Asdrúbal, cujo nome tínhamos dificuldade em soletrar? E do enfermeiro Baltazar que tratava das doenças venéreas que contraímos nos bordéis de Alcântara, do Bairro Alto e do Benformoso? Já foram, adiantando-se? O tempo revoluteia, e nada, ou quase nada é o que foi. A não ser a fome, o desespero, a desventura de viver que regressaram, num tumulto inclemente e perseverante. Reconheço que sou um senhor caturra, um pouco chato e invadido por múltiplas incertezas. Mas não deixo, não posso deixar de repetir as recomendações do Velho Bastos: não permitam que vos roubem os sonhos. Podem roubar-vos tudo. Os sonhos é que não.
BAPTISTA BASTOS
Hoje no DN

Saturday, November 2, 2013

Um aluno de doze anos fazia um guião melhor:

Votação do Orçamento de Estado para 2014

Thursday, October 31, 2013

Guião para matar ideia:

Paulo Portas quer ser o Giorgio Armani da reforma do Estado. Todos os anos o estilista apresenta os novos modelos e acaba com uma frase cintilante, um laço que embrulha o conjuntinho: "Proponho para esta estação una donna moderna però rinovata." Portas também deseja um Estado moderno (alguém deseja um Estado antigo?!) e renovado (alguém quer um Estado parado?!), mas não vai além disso. Não vai, aliás, a lado algum.
As "110 páginas úteis" do guião, como lhe chamou ontem, são de uma pobreza inacreditável. Não é sequer um catálogo de pronto-a-vestir político. É uma loja dos 300 onde, no meio de ideias copiadas, avulsas e superficiais, encontramos um ou outro ponto que é possível debater, mas apenas por causa do nosso desespero coletivo. O que resulta dali é tão-só uma salganhada ignorante, uma coleção de chavões e banalidades que não são mais do que a redação pueril de um candidato a uma juventude partidária que passou os olhos na biografia de Hayek , a da Wikipédia.
O célebre guião, este guião, esta coisita, não é um ponto de partida. A ser qualquer coisa é um ponto de chegada. É o fim da linha. É o epílogo que arrasa as últimas aparências que ainda restavam sobre este grupo de estagiários que o País tragicamente elegeu. É a prova documental de que o Governo não sabe o que está fazer - cumpre metas impostas externamente - e nem imagina para onde irá a partir daqui.
O texto que demorou dois anos a produzir é tão rudimentar que na verdade é apenas embaraçoso. Ontem senti vergonha alheia por Paulo Portas - o presidente do CDS acabou. Não compreendo, a não ser por vingança, raiva e desprezo profundos, como Passos Coelho foi capaz de o autorizar a apresentar esta manta de retalhos, este patchwork - Portas deve apreciar a palavra - que era suposto criar as bases para a mudança que o País terá um dia de enfrentar.
Não há quadros comparativos, não há estatísticas que permitam ver de onde viemos e para onde podemos ir, não há pensamento algum, referência alguma, não há estudo, não há trabalho. Nada. Ao pé disto o trabalho do FMI, o de janeiro, é um luxo científico. Talvez por isso, talvez porque aqui cabe mesmo tudo, Portas tenha conseguido enfiar esta frase grotesca: "(...) esta maioria tem uma matriz identificada com o chamado modelo social europeu." Tem, tem; e Portugal vai crescer 0,8% em 2014 e muito, muito mais em 2015...
ANDRÉ MACEDO
Hoje no DN

Wednesday, October 30, 2013

O Presidente e o Governo estão surdos:

Já ninguém confia no Governo." A frase é lugar-comum, mas adquire um peso maior quando dita por alguém como Luís Campos e Cunha, da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), e junta--se ao grande coro de indignações que percorre a sociedade portuguesa. Entretanto e por outro lado, Freitas do Amaral esclarece que o Executivo está a defrontar o Tribunal Constitucional no intuito de sair airosamente de uma situação degenerada. Também D. José Policarpo, patriarca emérito de Lisboa, manifesta o descontentamento que lhe provoca esta gente, lamentando que as alternativas não aparecem. Por último, numa notável entrevista a António José Teixeira, no programa A Propósito, da SIC-Notícias, Carlos do Carmo dizima a actividade do dr. Cavaco, como primeiro-ministro e como Presidente da República, acusando-o de causador de todos os males que nos afectam, por inépcia e falta de percepção histórica. Poucas vezes o nosso drama foi tão claramente enunciado como o fez o grande cantor, claramente emocionado.
A pátria está de pantanas, por uma governação aparentemente impune e alegremente estouvada. Os gritos de desespero que a fome e a desgraça despertam não são ouvidos em Belém. O crime terá, mais tarde ou mais cedo, de ser punido, e cada vez mais se acentuam as responsabilidades políticas e morais de um Governo que o não é, e de um Presidente que não há. Todos os dias da semana há protestos nas ruas, os governantes andam com um batalhão de "gorilas" a resguardar-lhes o corpo, os suicídios aumentam, milhares de famílias não têm pão para pôr na mesa, o País despovoa-se da sua juventude e temos a gelada sensação de que ninguém nos ajuda. Nas Jornadas Parlamentares do PSD-CDS, Paulo Portas, cuja imagem, distorcida e embaciada, está cada vez mais parecida com a do espelho em que se revê, abriu a sessão garantindo que já se vislumbra melhorias na economia. Mas que é isto? Vivemos nesta mentira, neste embuste, nesta pouca--vergonha que degrada a ética republicana e provoca amolgadelas maiores nos valores e nos padrões morais do nosso modo de relação social.
António José Seguro permanece ofuscado por qualquer problema que se desconhece. Nada diz, nada faz, em nada age. Cumplicia-se com o silêncio tenaz dos que se não querem comprometer. E as hostes agitam-se, cada vez mais, no PS, adquirindo proporções de que se registou uma pálida ideia na sessão de lançamento de um livro de José Sócrates. Esta agitação impeliu o antigo ministro Catroga ao beligerante comentário de que o ex-primeiro-ministro do PS deveria ser julgado. Bom. Neste caso e decorrências, o Catroga passaria ao lado? Ele, os que o antecederam e sucederam são santos impolutos e criaturas intocáveis?
O mal-estar que envolve o País tem muito a ver com este distúrbio, da natureza da consciência e de uma identidade própria que eles desagregam.
BAPTISTA BASTOS
Hoje no DN

Sunday, October 27, 2013

É o fim da Europa:

Wednesday, October 23, 2013

Figuras de estilo e figura de urso:

Pode sobrar-nos mês depois do ordenado, mas não nos faltam figuras de estilo. O ministro Pires de Lima lançou um eufemismo. Vocês sabem, aquela conversa suave para atenuar uma verdade catastrófica, tipo "entregar a alma ao criador" em vez de esticar o pernil. Ele não podia falar de novo resgate para um público já farto de ser refém. Então, dourou a pílula e falou de "programa cautelar". Parece caldo de galinha, não faz mal a ninguém... Em todo o caso, um belo eufemismo. Ao mesmo tempo, um grupo fez uma manifestação em Lisboa dizendo-se de apoio à troika. À partida, manifestar contentamento por se albardar o País à vontade da burra (a troika, comprovadamente incapaz) parecia masoquismo, mas não, não era nenhum distúrbio psíquico, era outra figura de estilo. Desta vez, ironia. Coisa bem difícil de fazer e por isso geralmente só utilizada, fininha, por queirosianos de boquilha e chapéu alto. Ver a ironia trazida para rua e por gente irada foi das poucas coisas boas que a crise nos trouxe. Sendo contra, diziam-se por, havia cartazes ("Abaixo as reformas" e "Vamos trabalhar mais"), gritos ("Acabou a mama") e discursos louvando "os nosso credores fofinhos internacionais"... Provavelmente o eufemismo do ministro e a ironia da manifestação não levam a nada, mas, pelo menos, preocuparam--se com o estilo. Bem melhor do que a figura de urso de Paulo Portas que fez esta frase rasa e indigna: "Os mais pobres não se manifestam."
Ferreira Fernandes
Hoje no DN

O Governo é burro

Paulo Portas chegou, falou e disse: "Os pobres não se manifestam, nem vão à televisão." Por antinomia, deduz-se que quis afirmar: quem se manifesta são os ricos, assim como são eles que vão à televisão. Como sabemos que o presidente do CDS-PP não é tolo inclinamo-nos para a triste e dura hipótese de que ensandeceu. A verdade é que não tem andado bem: os direitos, os deveres e as características de quem governa têm sido espezinhados, com faustosa leviandade.
Ele, eles não sabem o que fazem. E a proibição de a CGTP organizar a manifestação na Ponte 25 de Abril, sob a alegação dos perigos a haver foi o absurdo dos absurdos. O processo intentado contra os valores que definem a democracia tem sido contornado com maior ou menor êxito. E o caso da Ponte 25 de Abril demonstrou que a imaginação possui uma força que o poder permanentemente ignora. A desorientação dos habituais panegiristas do Governo, que procuraram minimizar a importância do acontecimento não obstou a que ele tivesse a monta desejada. O Marcelo chegou a ser grotesco; Marques Mendes, coitado!, exteriorizou a habitual pungente mediocridade; Sarmento conseguiu fazer-nos entediar mais do que costuma, levando-nos, de novo, a perguntar o que faz ali a funesta criatura.
Luís Delgado salvou a honra do convento, criticando a decisão eruptiva do Executivo com a veemência de quem condena uma indesmentível burrice. Depois, surgiu o Portas, com o brilho fanado pelas "incongruências problemáticas" de um homem ferrado pelas irresoluções de carácter. Não compreende, ou faz por isso, que a pequenina ascensão do CDS resulta da queda do seu parceiro de coligação. No meio desta baderna, entre a asnada, a incompetência, a sobranceria desesperada dos que naufragam, o dr. Cavaco, no estrangeiro, assevera que não vai levantar pendências ao Tribunal Constitucional sobre as evidentes inconstitucionalidades do Orçamento.
Claro que todos estes incidentes são sintomas do mal-estar da sociedade portuguesa, e da degradação da democracia, em que o sentido da dignidade é amiúde mortificado pela "indiferença actuante" de um Presidente da República que o não sabe ser, fazendo pender o prato da balança para um só lado.
Sabe-se que a política, lato senso, foi substituída pela "gestão" e esta comandada pela finança e pelos interesses de grupo. É total o contraste entre a exigência de justiça e de equidade social e a evidência falsa e inútil do discurso dos dirigentes. Há poucas vozes protestatárias na imprensa e a grande rábula da "independência" e da "imparcialidade" ficou amplamente comprovada, como rábula e ardil, naquele abjecto programa na RTP, no qual o Passos Coelho "respondeu" ao País, sem responder a nada.
Como disse um teólogo, "vivemos mergulhados no mal da alma", e se a pátria tem passado por interregnos terríveis, sempre surgia uma luz, que nos conferia esperança. Agora, é isto.
BAPTISTA BASTOS
Hoje no DN

Monday, October 21, 2013

Do PEC 4 ao caminho para a servidão:

‘Espero bem que o país não se esqueça de ajustar contas com essa gente um dia. Esses economistas, esses catedráticos da mentira e da manipulação, servindo muitas vezes interesses que estão para lá de nós, continuam por aí, a vomitar asneiras e a propor crimes, como se a impunidade fizesse parte do estatuto académico que exibem como manto de sabedoria.
Essa gente, e a banca, foram os que convenceram Passos Coelho a recusar o PEC 4 e a abrir caminho ao resgate, propondo-lhe que apresentasse como seu programa nada mais do que o programa da troika - o que ele fez, aliviado por não ter de pensar mais no assunto. Vale a pena, aliás, lembrar, que o amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço incomportável a pagar. Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos estava a acontecer foi Sócrates - o culpado de vinte anos sucessivos de défice das contas públicas, o culpado da ordem vinda de Bruxelas em 2009 para gastar e gastar contra a recessão (que, curiosamente, só não foi cumprida pela Alemanha, que era quem dava a ordem), e também o culpado pela vinda da troika. Mas, tanto o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC 4, o país ficava sem tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate. Sabiam-no, mas o apelo do poder foi mais forte do que tudo, mesmo que, benevolamente, queiramos acreditar que não mediram as consequências.
E também o sabia o PCP e a CGTP, que, como manda a história, não resistiram à tentação do quanto pior, melhor. E sabiam- -no Francisco Louçã e o Bloco de Esquerda, que, por razões que um psicanalista talvez explique melhor do que eu, se juntaram também à mais amoral das coligações direita/extrema-esquerda, com o fim imediato e mais do que previsível de obrigar o país ao resgate e colocar a direita e os liberais de aviário no poder, para fazer de nós o terreno de experimentação económica e desforra social a que temos assistido.’
Miguel Sousa Tavares [no Expresso]:
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